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sábado, 29 de junho de 2013

Um quintal



Quando uma pessoa começa a melhorar de vida, pensa logo em comprar uma boa casa. 
 
E o que é uma boa casa? 
 
É preciso um jardim e uma piscina, imaginam os pais. 
 
Eles querem para as crianças uma infância saudável, com confortos que nunca tiveram, mas não pensam no principal: um quintal. 
 
Um quintal não precisa ser grande, e o chão deve ser de terra batida. 
 
Nele deve haver algumas árvores que não pareçam ter sido plantadas, mas sempre existido.
 
 Um abacateiro e uma goiabeira, de goiaba vermelha, são fundamentais. 
 
No fundo, um galinheiro tosco, com uma porta quebrada, para que as três ou quatro galinhas possam correr quando alguém quiser pegá-las.
 
 
 Nenhum computador levará uma criança ao deslumbramento que ela terá ao encontrar um ovo e segurá-lo, ainda quentinho. 
 
É o mistério da vida nas mãos dela, mais absoluto e mais simples do que qualquer livro de filosofia.
 
 Um dia, a cozinheira avisa que vai matar uma galinha para o molho pardo. 
 
Os meninos pedem para ver a cena trágica; a mãe não quer, mas a empregada, acostumada, com o facão na mão, facilita. 
 
Se a galinha tiver dentro da barriga aquele monte de ovinhos, aí a lição de morte – e de vida – será ainda mais completa.
 
 E mais lições serão aprendidas quando alguém sugerir fazer uma peteca com as penas mais duras e algumas palhas de milho.
 
 Mas será que alguém sabe do que estou falando? 
 
Voltando: esse quintal deve ser meio abandonado, mas muito limpo; duas vezes por dia a empregada, cantando bem alto, dá uma varrida. 
 
É importante também que haja um tanque para lavar o pé de alguma criança quando ela pisar descalça numa porcaria, e um varal com pregadores de roupa de madeira. 
 
Nesse lugar, não vai ter horta nem pomar organizado.
 
 Em compensação, é bom que exista do outro lado do muro uma enorme mangueira para que se possa praticar o melhor crime do mundo: roubar as frutas do vizinho. 
 
Nos fundos de um quintal, deve haver também uma touceira de bananeiras ou bambus e, claro, um adulto dizendo sempre para tomar cuidado, pois ali pode ter uma cobra. 
 
Não há infância que se preze sem medo de cobra.
 
 Quando as goiabas começam a crescer, fica todo mundo de olho até a primeira delas estar no ponto para ser arrancada e mordida ali mesmo, sem lavar. 
 
E que sensação terrível quando se vê o bicho da goiaba se mexendo. 
 
Aí, sem que ninguém precise dizer nada, você começa a aprender que a vida é assim: ou se compra uma goiaba bonita, mas sem gosto, ou se espera com paciência ela amadurecer no pé até desfrutar o supremo prazer de dar aquela dentada – com direito a bicho e tudo. 
 
Mas o tempo voa.
 
 De repente você se sente só, abre o caderno de telefones e percebe sua pouca afinidade com os nomes que estão lá, que tem vivido uma vida que não tem nada a ver e começa a procurar um sentido para as coisas. 
 
Não encontra resposta, claro, mas um dia está no trânsito, vê um terreno baldio, se lembra daquele quintal no qual não pensa há anos e percebe que essa é a lembrança mais importante e mais feliz de sua vida.
 
E passa a olhar o mundo com a superioridade de quem tem um tesouro guardado dentro do peito, mas ninguém sabe.
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Danuza Leão é cronista, autora de vários livros, entre os quais Na Sala com Danuza 2 (ARX) e Quase Tudo (Cia. das Letras) FotoEduardo Pozella 
 

 

No Lar


Abraça no Lar em que te situas, o cadinho de tua própria purificação à frente da vida, e, convertendo-te no santuário familiar em servo do amor que auxilia sempre, dele desferirás teu grande voo em serviço da Humanidade inteira.

Sê afável com os teus, sê gentil em casa, sê generoso onde estiveres.

Quando estiveres à beira da impaciência ou da ira, perdoa setenta vezes sete vezes e adota o silêncio por gênio guardião de tua própria paz.

Compadece-te sempre.

Habituemos a ignorar todo o mal, fazendo todo o Bem ao nosso alcance.
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Emmanuel
Chico Xavier







sexta-feira, 28 de junho de 2013

Desequilíbrios


Há três estados de alma que representam perigo iminente de queda:

a mágoa, 
o rancor 
e a cólera.

Se, nesses estados de desequilíbrio, você pudesse enxergar além da esfera física, visualizaria densa nuvem de matéria mental escura envolvendo-lhe os centros do perispírito.
 
Ao cultivar estes estados negativos, você cria, para si próprio, a psicosfera tóxica que o afetará de várias maneiras.

Por esse motivo, tente evitar que o desequilíbrio tome conta de seu mundo interior.
 
Quem aprende a vigiar pensamentos e emoções preserva-se do mal que nasce em nós mesmos, ameaçando nossa paz.
 
Saúde e equilíbrio são aquisições conquistadas com o pensamento elevado e hábitos corretos.
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Scheilla
 





quinta-feira, 27 de junho de 2013

Autismo


Num sábado de 1981

A lição que passaremos hoje para o papel, não ocorreu propriamente à sombra do frondoso abacateiro onde, habitualmente, Chico Xavier realiza o culto evangélico, em pleno coração da Natureza. 

O que iremos narrar, tão fielmente quanto possível, ouvimos num sábado à noite no "Grupo Espírita da Prece", logo após o contato fraterno com os irmãos que residem nas imediações da "Mata do Carrinho", o novo local onde as nossas reuniões vespertinas estão sendo realizadas.

Um casal aproximou-se do Chico; o pai sustentando uma criança de 1 ano e meio nos braços, acompanhado por distinto médico espírita de Uberaba.

A mãe permaneceu a meia distância, em mutismo total, embora com alguma aflição no semblante.

O médico, adiantando-se, explicou o caso ao Chico:

a criança, desde que nasceu, sofre sucessivas convulsões, tendo que ficar sob o controle de medicamentos, permanecendo dormindo a maior parte do tempo; em consequência, mal consegue engatinhar e não fala.

Após dialogarem durante alguns minutos, o Chico perguntou ao nosso confrade a que diagnóstico havia chegado.

— Para mim, trata-se de um caso de "autismo" — respondeu ele.

O Chico disse que o diagnóstico lhe parecia bastante acertado, mas que convinha diminuir os anticonvulsivos mesmo que tal medida, a princípio, intensificasse os ataques. Explicou, detalhadamente, as contra-indicações do medicamento no organismo infantil. Recomendou passes.

— Vamos orar - concluiu.

O casal saiu, visivelmente mais confortado, mas, segurando o braço do médico nosso confrade, Chico explicou a todos que estávamos ali mais próximos:

— O "autismo" é um caso muito sério, podendo ser considerado uma verdadeira calamidade. Tanto envolve crianças quanto adultos... Os médiuns também, por vezes, principalmente os solteiros, sofrem desse mal, pois que vivem sintonizados com o Mundo Espiritual, desinteressando-se da Terra...
"É preciso que alguma coisa nos prenda no mundo, porque, senão, perdemos a vontade de permanecer no corpo..."

E Chico Xavier exemplificou com ele mesmo:

- Vejam bem: o que mais me interessa na Terra a não ser a tarefa mediúnica, nada mais. Dinheiro, eu só quero o necessário para sobreviver; casa, eu não tenho o que fazer com mais uma... Então, eu procuro me interessar pelos meus gatos e meus cachorros. Quando um adoece ou morre, eu choro muito, porque se eu não me ligar em alguma coisa eu deixo vocês.

Ele ainda considerou que muitos casos de suicídios, tem as suas bases no “autismo”, porque a pessoa vai perdendo o interesse pela vida, inconscientemente deseja retornar a pátria Espiritual, e para se libertar do corpo, que considera uma verdadeira prisão, forçando as portas da saída.

E o Chico falou ao médico:

— É preciso que os pais dessa criança conversem muito com ela, principalmente a mãe. E necessário chamar o Espírito para o corpo... Se não agirmos assim, muitos Espíritos não permanecerão na carne, porque a reencarnação para eles é muito dolorosa...

Evidentemente que não conseguimos registrar tudo, mas a essência do assunto é o que esta exposto aqui.
E ficamos a meditar na complexidade dos problemas humanos e na sabedoria de Chico Xavier.

Quando ele falava de si, ilustrando a questão do "autismo", sentimo-lo como um pássaro de luz encarcerado numa gaiola de ferro, renunciando à paz da grande floresta para entoar canções de imortalidade aos que caíram invigilantes, no visgo do orgulho ou no alçapão da perturbação.

Nesta noite, sem dúvida, compreendemos melhor Chico Xavier e o admiramos ainda mais.

De fato, pensando bem, o que é que pode interessar na Terra, a não ser o trabalho missionário em nome do Senhor, ao Espírito que já não pertence mais à sua faixa evolutiva?!

O espírito daquela criança sacudia o corpo que convulsionava, na ânsia de libertar-se...

Sem dúvida era preciso convencer o Espírito a ficar... Tentar dizer-lhe que a Terra não é tão cruel assim... 

Que precisamos trabalhar pela melhoria do homem. 
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Chico Xavier, à Sombra do Abacateiro 
Carlos A. Bacelli



Profilaxia




Se a maledicência visita o seu caminho, use o silêncio antes que a lama resolvida se transforme em tóxicos letais.
*
Se a cólera explode ao seu lado, use a prece, a fim de que o incêndio não se comunique às regiões menos abrigadas de sua alma.
*
Se a incompreensão lhe atira pedradas, use o silêncio, em seu próprio favor, imobilizando os monstros mentais que a crueldade desencadeia nas almas frágeis e enfermiças.
*
Se a antipatia gratuita surpreende as suas manifestações de amor, use a prece, facilitando a obra da fraternidade, que o Mestre nos legou.
*
O silêncio e a prece são os antídotos do mal, amparando o Reino do Senhor, ainda nascente no mundo.
*
Se você pretende a paz no setor de trabalho que Jesus lhe confiou, não se esqueça dessa profilaxia da alma, imprescindível à vitória sobre a treva e sobre nós mesmos.
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André Luiz
Chico Xavier




quarta-feira, 26 de junho de 2013

Proteção Educativa



No jardim da residência confortável da família Torres, palestravam duas entidades espirituais.

Ezequiel, esclarecido mensageiro e amigo desvelado, viera observar os serviços de Antônio junto àquele núcleo familiar, que os dois haviam tomado sob dupla guarda, em razão dos elos afetivos que os reuniam entre si, desde muitos séculos.

- Como seguem os nossos tutelados? – inquiriu o emissário que vinha de plano superior – compreendem agora a proteção divina? Com que esperança vivo refletindo na situação deles! Sabe você que muito devo a Malvina e a João, em face das minhas duras tarefas no pretérito... Tive a felicidade de adiantar-me na senda evolutiva; no entanto, não me seria possível esquecê-los.

O companheiro ouvia-lhe as expressões sem ocultar a profunda melancolia que lhe transparecia no rosto.

Ezequiel, todavia, dando curso às emoções sublimes do momento, prosseguiu:

- Congreguei meus velhos amigos com os adversários de outra época e espero que, transformados em pais e filhos no cadinho doméstico, possam agora avançar no rumo da paz que excele o humano entendimento. A gratidão não olvida os bens recebidos.

- É o que acontece igualmente entre nós ambos, meu caro – murmurou Antônio, comovido -, não posso apagar da lembrança o débito que me vincula à sua generosidade...

Como se não desejasse receber agradecimentos diretos, Ezequiel modificou a rota da conversação acrescentando:

- Malvina comporta-se bem na luta redentora?

O interpelado mostrou sinais de amargura no semblante abatido e respondeu:

- Não tem sabido enfrentar a facilidade e a abundância. Vive aflita sem causa e insatisfeita sem motivo.

- Com tantos recursos que lhe são conferidos? – interrogou o superior admirado.

- Infelizmente assim é.

- Há alguma enfermidade grave atormentando a família?

Esboçou Antônio significativo gesto e acentuou:

- Segundo sabemos, o corpo ocupado pela doente não pode acomodar-se com a saúde perfeita; mas, no circulo de minhas possibilidades, esforço-me, quanto possível, para que Malvina, João e os filhos estejam equilibrados. Nunca se levantam, cada manhã, sem que eu os assista com elementos fluídicos de medicação, e desse modo, tenho tido o prazer de vê-los, no trabalho comum que edifica sempre.
 
- É, porventura, insuficiente o salário que recebem?

- Quanto a isso – elucidou Antônio -, marcham na Terra em carro confortável e precioso. O chefe da casa dirige um escritório com remuneração excelente. José e Oscar, os dois filhos mais velhos, são altos empregados de uma oficina em Todos os Santos; Hermenegildo e Paulo, os dois menores, trabalham no centro urbano, com vencimento compensador.

- Sofrem alguma perseguição descabida?

- Desfrutam geral estima e, além disso, incumbo-me de auxiliá-los diariamente, conforme suas recomendações, colaborando, indiretamente, na solução de todos os problemas que os interessam de perto.

- Possuem razão séria para desgostos íntimos?

Antônio sorriu e obtemperou:

- Não contam com motivos quaisquer para contrariedades fortes; entretanto, procuram-nos. Vivem nervosos e exasperados. O espírito materno é sempre a fonte de inspiração para o santuário doméstico, e a posição atual de Malvina, nesse sentido, é das mais deploráveis.

Tanto se queixou a nossa amiga que o marido e os filhos andam hoje contagiados do mesmo mal. Afirmam-se desprotegidos, cansados, desiludidos da sorte. Não há ensinamento que os esclareça, alegria que os alente ou remuneração que os satisfaça.

Ezequiel, preocupado, considerou, depois de longa pausa:

- Observarei pessoalmente.

Demandaram o interior, em atitude fraterna.

Era manhã e Dona Malvina, muito distante do governo do lar, mantinha-se em prosa comprida com uma senhora da vizinhança.

- Dona Amélia – comentava, gesticulando -, a senhora está muito enganada quanto à nossa situação. Meu esposo recebe ordenado miserável. Meus filhos não ganham para viver com decência. Já não sei como solucionar os presente enigmas financeiros. Estamos empenhados em armazéns e lojas. Ocasiões aparecem nas quais, francamente, não sei como me comportar.

- É estranho – clamava a interlocutora -, porquanto sempre supus a sua casa em ótimas condições.

- Eu? Nós? – tornava a protegida de Ezequiel – vivemos atolados em débitos pesados...
Ah! Minha amiga, minha amiga! Enquanto João se esgota, morro aos bocadinhos, entre aflições de toda sorte. Somos muito infelizes!

Lamentações alongaram-se pelas horas a dentro.

E tão logo se despediu a vizinha, outra amiga apareceu, continuando Malvina no mesmo diapasão:

- Andava saudosa de sua palestra, minha boa Teresa! As pessoas atormentadas e sofredoras, assim como eu, necessitam ouvi-la.

- No entanto, Dona Malvina – objetava a amiga bondosa -, o seu aspecto é outro. Creio encontrá-la muito forte e tranquila...

- Eu, minha filha – respondia a senhora Torres, tornando a voz comovedora e mais trêmula -, nunca sofri tanto, quanto agora... Não sei o que será de nós. Tudo está negro em nossos caminhos. No serviço, o esforço de João não é apreciado na devida conta e meus desventurados filhos se esfalfam inutilmente entre exigências indébitas dos administradores e vãs promessas de melhoria. Até onde iremos com as nossas provações amargas? Já não sei orar e tão grandes tem sido os nossos padecimentos que a fé me parece vazia, sem expressão...

Daí a instantes, enquanto Malvina desfiava o longo rosário de lágrimas verbais, entra o marido para o almoço, seguido pelos filhos, com alguns minutos de espaço.

A visitante, atordoada, sem mais delonga despediu-se e a residência dos Torres converteu-se num purgatório de imprecações. O chefe da casa insurgia-se contra os políticos, contra os acionistas da empresa a que se ligara, reclamava quanto ao pão malfeito e condenava o guardanapo mal-posto, fazendo larga ostentação de autoridade, ao passo que os filhos lhe copiavam os gestos, excedendo-se em afirmações leviana ou insensatas.

Dona Malvina, no centro daquele desvairado parlamento doméstico, enxugava os olhos inchados de chorar, proclamando-se a mais infeliz das mulheres.

Por duas horas consecutivas, ali esteve Ezequiel, observando discussões e reclamações.

O grupo não encontrava um minuto sequer para conversar edificando.

Aquela meia dúzia de corações reunidos semelhava-se a um poço de águas envenenadas, expelindo lodo pelas bordas.

Fundamente consternado, o benfeitor dirigiu-se a Antônio, com amarga inflexão: 
 
- É lastimável identificar a atitude de nossos velhos amigos. Infelizmente, não sabem receber o concurso da amizade reconhecida. Não dispõem de suficiente educação para registrarem as manifestações de nossa ternura. A benefício de todos, porém, ficarão a sós, por algumas semanas...

Antes que o mentor concluísse, perguntou Antônio, espantado:

- Que diz? Deixaremos Torres sem assistência? Que será dessa pobre família?

- Não aplicaremos remédio violento – elucidou Ezequiel, convencido -; a proteção aos companheiros na carne é análoga à que se dá às plantas. De quando em quando, é preciso retirar, mudar ou renovar. Malvina, João e os filhos permanecerão sem escoras, durante trinta dias; você virá comigo para descansar, em férias, e verificaremos o proveito de semelhante medida. Creio que nesse pouco tempo fará Malvina intensivo curso de entendimento, serviço, gratidão e prece. Nossa amiga tem recebido até hoje a proteção confortadora, mas, doravante, necessita receber a proteção educativa.

O programa traçado foi cumprido integralmente.

A breve trecho, a casa dos Torres experimentou enorme alteração.

Tão logo se ausentou Antônio, o silencioso amigo oculto, o desespero ali atingiu a culminância.

Os filhos do casal, no dia imediato ao do afastamento dele, se empenharam em luta corporal, no repasto da tarde, e Oscar teve o braço direito quebrado, recorrendo à intervenção médica. No terceiro dia, Hermenegildo foi dispensado do trabalho, por insubordinação. No quarto, José foi conduzido à Santa Casa em vista de inesperada apendicite com supuração. No quinto dia, o chefe da família foi atropelado por automóvel, ao sair do escritório, sendo transportado ao Pronto-Socorro e, no sexto dia, Paulo era trazido para casa, em carro da Assistência Municipal, em razão de queda espetacular no serviço.

Dona Malvina não encontrou mais tempo para se queixar do mundo e da sorte, e, findos os trinta dias do programa, quanto Ezequiel e Antônio lhe penetraram, de novo, o domicílio, encontraram-na em oração, profundamente transformada.
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Irmão X
 Chico Xavier
Do livro: Pontos e Contos

Tua Contribuição


Com certeza não solucionarás todos os problemas do mundo.

Não obstante, podes e deves contribuir para que isto aconteça.

Se não impedes a guerra, tens recursos para evitar as discussões perturbadoras que te alcançam;

se não consegues alimentar a multidão esfaimada, possuis uma côdea de pão para oferecer a alguém;

se não dispões de saúde para brindar aos enfermos, logra socorrer um padecente;

se não solucionas os dramas humanos, concorre para acalmar uma pessoa;

se não tens meios para liderar grupos acelerando mudanças que se devem operar no mundo, modifica-te, interiormente, enobrecendo-te na ação do Bem e da solidariedade.
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Joanna de Ângelis





terça-feira, 25 de junho de 2013

Cuidar da Mente


Reserva momentos para que se refaçam os teus equipamentos mentais.

Da mesma forma que o corpo se desgasta, a mente se cansa e desarmoniza.

A mudança de atividade, o espairecimento, os jogos que distraem, os desportos, a meditação, funcionam como recursos valiosos para o reajuste mental.

Dedica algum tempo à tua renovação interior, examinando o que fazes e como torná-lo mais agradável, ensejando-te equilíbrio e menos fadiga.

A mente é espelho que reflete o estado do espírito, merecendo carinho e desvelo, a fim de funcionar bem e com êxito.
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Joanna de Ângelis







segunda-feira, 24 de junho de 2013

Fagulha Inocente


O vício, sob qualquer aspecto em que se apresente, pode ser comparado à fagulha inocente capaz de atear incêndios terríveis.

Sê jovial, não leviano.

Cultiva o amor, não a vulgaridade.
Faze-te afável, não perturbado pela emoção. 
Guarda a previdência, não a mesquinhez. 
Detém-te na vigilância, não na obstinação negativa. 
Jesus é, para todos entre nós, o exemplo. 

Na linha de comportamento, é o mediador.

Equilíbrio seja o fiel das tuas aspirações.
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Joanna de Ângelis
 





domingo, 23 de junho de 2013

Álbum Materno





...E nós respigamos alguns tópicos do álbum repleto de fotos, que descansava na penteadeira de Dona Silvéria Lima, ao lermos, enternecidamente, a história do filho que ela própria escrevera.


1941 – Outubro, 16 – Meu filho nasceu, no dia 12. Sinto-me outra. Que alegria! Como
explicar o mistério da maternidade? Meu Deus, meu Deus!... Estou transformada, jubilosa!...

Outubro - 18 – Meu filho recebeu o nome de Maurício. Aos seis dias nascido, parece um
tesouro do Céu em meus braços!...

Outubro – 20
– Recomendei a Jorge trazer hoje um berço de vime, delicado e maior. O menino é belo demais para dormir no leito de madeira que lhe arranjamos. Coisa estranha!...
Jorge, desde que se casou comigo, nada reclamou... Agora, admite que exagero. Considerou que devemos pensar nas crianças menos felizes. Apontou casos de meninos que dormem no esgoto, mas, que temos nós com meninos de esgoto? Caridade!...Caridade é cada um assumir o desempenho das próprias obrigações. Meu marido está ficando sovina. Isso é o que é...

1942 – Novembro, 11 – Mauricinho adoeceu. Sinto-me enlouquecer... Já recorri a seis médicos.

1943 – Dezembro, 15 - O pediatra aconselhou-me deixar a amamentação e mandou que
Mauricinho largue a chupeta. Repetiu instruções, anunciou, solene, que a educação da criança deve começar tão cedo quanto possível. Essa é boa! Eu sou mãe de Mauricinho e Mauricinho é meu filho. Que tem médico de se intrometer? Amamento meu filho e dou-lhe a chupeta, enquanto ele a quiser.

1944 – Março, 13 – Mauricinho, intranquilo, arranhou, de leve, o rosto da ama com as unhas.
Brincadeira de criança bobagem. Jorge porém, agastou-se comigo por não repreende-lo.
Tentou explicar-me a reencarnação. Assegurou que a criança é um Espírito que já viveu em outras existências, quase sempre tomando novo corpo para se redimir de culpas anteriores, e repisou que os pais são responsáveis pela orientação dos filhos, diante de Deus, porque os filhos (palavras do coitado do Jorge) são companheiros de vidas passadas que regressam até nós, aguardando corrigenda e renovação... 
Deu –me vontade de rir na cara dele. Antes do casamento, Jorge já andava enrolado com espíritas... Reencarnação!... Quem acredita nisso? Balela... Chega em momento de nervosismo, a criança chora e será justo espancá-la, simplesmente por essa razão?

1946 – Março, 15
- Jorge admoestou-me com austeridade. Parecia meu avô, querendo puxar-me as orelhas. Declarou que não estou agindo bem. Acusou-me. Tratou-me como se eu fosse irresponsável. Tem-se a impressão de que é inimigo do próprio filho. Queixou-se de mim, alegou que estou deixando Maurício crescer como um pequeno monstro (que palavra horrível!), tão só porque o menino, ontem, despejou querosene no cão do vizinho e ateou fogo... Era um cachorro intratável e imundo. Certamente que não estou satisfeita por haver Maurício procedido assim, mas sou mãe... Meu filho é um anjo e não fez isso
conscientemente. Talvez julgasse que o fogo conseguisse acabar com a sujeira do cão.

1948 – Abril, 9
– Crises de Maurício. Quebrou vidraças e pratos, esperneou na birra e atirou um copo de vidro nos olhos da cozinheira, que ficou levemente machucada, seguindo para o hospital... Jorge queria castigar o menino. Não deixei. Discutimos. Chorei muito. Estou muito infeliz.

1950 – Setembro, 5 – A professora de Maurício veio lastimar-se. Moça neurastênica.
Inventou faltas e mais faltas para incriminar o pobre garoto. Informou que não pode mantê-lo, por mais tempo, junto dos alunos. Mulher atrevida! Pintou meu filho como se fosse o diabo. Ensinei a ela que a porta da rua é serventia da casa. Deixa estar! Ela também será mãe... Que bata nos filhos dela!...

1952 – Maio, 16
– Maurício já foi expulso de três colégios. Perseguido pela má sorte o meu inocentinho!... Jorge afirma-se cansado, desiludido... Já falou até mesmo num internato de correção... Meu Deus, será que meu filho somente encontre amor e refúgio comigo? Tão meigo, tão bom!... Prefiro desquitar-me a permitir que Jorge execute qualquer ideia de punição que, aliás, não consigo compreender... Meu filho será um homem sem complexos, independente, sem restrições... Quero Maurício feliz, feliz!...

1956 – Meu marido quer empregar nosso filho numa casa de móveis. Loucura!... Acredita que Mauricinho precisa trabalhar sob disciplina. Que plano!... Meu filho com patrão... Era o que faltava!... Temos o suficiente para garantir-lhe sossego e liberdade.

1957 – Janeiro, 14
– Jorge está doente. O médico pediu que lhe evitemos dissabores ou choques. Participou-me, discreto, que meu marido tem o coração fatigado, hipertensão.
Desde o ano passado, Jorge tem estado triste, acabrunhado com as calúnias que começam a aparecer contra o nosso filhinho. Amigos-ursos fantasiaram que Maurício, em vez de frequentar o colégio, vive nas ruas, com vagabundos. Chegaram ao desplante de asseverar que meu filho foi visto furtando e, ainda mais... Falaram que ele usa maconha em casas suspeitas. Pobre filho meu!... Sendo filho único, Maurício necessita de ambiente para estudar, e se vem, alta madrugada, para dormir, é porque precisa do auxílio dos colegas, nas várias residências em que se reúnem com os livros.

1958 – Outubro, 6 – Jorge ficou irado, porque exigi dele a compra de um carro para Maurício,
como presente de aniversário. Brigou, xingou, mas cedeu...

1959 – Junho, 15 – Estou desesperada. Jorge foi sepultado ontem. Morreu apaixonado, diante da violência do delegado policial que intimou Mauricinho a provar que não estava vendendo maconha. Amanhã, enviarei um advogado ao Distrito. Se preciso, processarei o chefe truculento... Ninguém arruinará o nome de meu filho que é um santo... Oh! Meu Deus, como sofrem as mães!...

1960 – Agosto, 2
– Duas mulheres, com a intenção de arrancar-me dinheiro. Disseram que
meu filho lhes surrupiou joias. Velhacas e mandrionas. Maurício jamais desceria a semelhante baixeza. Dou-lhe mesada farta. Expulsei as chantagistas e, se voltarem, conhecerão as necessárias consequências.

1961 – Fevereiro, 22
– Nunca pensei que o nosso velho amigo Noel chegasse a isso!...
Culpar meu filho! Sempre a mesma arenga... Maurício na maconha. Maurício no furto! Agora é um dos mais antigos companheiros de meu esposo que vem denunciar meu filho como incurso num suposto crime de estelionato, comunicando-me, numa farsa bem tramada, que Maurício lhe falsificou a letra num cheque, roubando-lhe trezentos contos... Tudo perseguição e mentira. Já ouvi dizes que Noel anda caduco. Usurário caminhando para o hospício. Essa é que é a verdade... Sou mãe!... Não permitirei que meu filho sofra, nunca admiti que ninguém levantasse a voz contra ele... Maurício nasceu livre, é livre, faz o que entende e não é escravo de ninguém. Estou revoltada, revoltada!...

Nesse ponto, terminavam as confidências de Dona Silvéria, cujo corpo estava ali, inerte e ensanguentado, diante de nós, os amigos desencarnados, que fôramos chamados a prestar-lhe assistência. Acabara de ser assassinada pelo próprio filho, obsidiado e sequioso de herança.

Enquanto selecionávamos as últimas notas do álbum singular, Maurício, em saleta contígua, telefonava para a Polícia, depois de haver armado habilmente a tese de suicídio. 
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Irmão X 
Chico Xavier
Obra: Contos Desta e Doutra Vida