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sábado, 4 de abril de 2020

O Próximo e Nós


Esperas ansiosamente encontrar o Senhor e um dia chegarás à Divina Presença; entretanto, antes de tudo, a vida te encaminha à presença do próximo, porque o próximo é sempre o degrau da bendita aproximação.

Mas quem é o meu próximo? - perguntarás decerto, qual ocorreu ao Doutor da Lei nas luzes da parábola.

Todavia, convém saber que, além do próximo mais próximo a quem nomeias como sendo o coração materno, o pai querido, o filho de nossa bênção, o irmão estimável e o amigo íntimo, no clima doméstico, o próximo é igualmente o homem que nunca vista, tanto aquele que te fixa indiferente em qualquer canto da rua. É a criança que passa, o chefe que te exige trabalho, o subordinado que te obedece, o sócio de ideal, o mendigo que te fala a distância...

É a pessoa que te impõe um problema, verificando-te a capacidade de auxílio; é quem te calunia, medindo-te a tolerância; quem te oferece alegria, anotando-te o equilíbrio; é a criatura que te induz à tentação, testando-te a resistência... É o companheiro que te solicita concurso fraterno, tanto quanto o inimigo que se sente incapaz de pedir-te o mais ligeiro favor.

Às vezes tem um nome familiar que te soa docemente aos ouvidos; de outras, é categorizado por ti à conta de adversário, que não te aprova o modo de ser. Em suma, o próximo é sempre o inspetor da vida que nos examina a posição da alma nos assuntos da Vida Eterna. Entre ele e nós se destacam sempre a necessidade e a oportunidade a que se referia Jesus na parábola inesquecível.

Isto porque o Bom Samaritano foi efetivamente o socorro para o irmão caído na estrada de Jerusalém para Jericó, mas o irmão tombado no caminho de Jerusalém para Jericó foi para o Bom Samaritano, o ponto de apoio para mais um degrau de avanço, no caminho para o encontro com Deus.

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Emmanuel - Do livro: Rumo Certo, Médium: Francisco Cândido Xavier


MENSAGEM DO ESE:

Piedade filial (II)

Alguns pais, é certo, descuram de seus deveres e não são para os filhos o que deviam ser; mas, a Deus é que compete puni-los e não a seus filhos. Não compete a estes censurá-los, porque talvez hajam merecido que aqueles fossem quais se mostram. Se a lei da caridade manda se pague o mal com o bem, se seja indulgente para as imperfeições de outrem, se não diga mal do próximo, se lhe esqueçam e perdoem os agravos, se ame até os inimigos, quão maiores não hão de ser essas obrigações, em se tratando de filhos para com os pais! Devem, pois, os filhos tomar como regra de conduta para com seus pais todos os preceitos de Jesus concernentes ao próximo e ter presente que todo procedimento censurável, com relação aos estranhos, ainda mais censurável se torna relativamente aos pais; e que o que talvez não passe de simples falta, no primeiro caso, pode ser considerado um crime, no segundo, porque, aqui, à falta de caridade se junta a ingratidão.

Deus disse: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará.” Por que promete ele como recompensa a vida na Terra e não a vida celeste? A explicação se encontra nestas palavras: “que Deus vos dará” , as quais, suprimidas na moderna fórmula do Decálogo, lhe alteram o sentido. Para compreendermos aqueles dizeres, temos de nos reportar à situação e às idéias dos hebreus naquela época. Eles ainda nada sabiam da vida futura, não lhes indo a visão além da vida corpórea. Tinham, pois, de ser impressionados mais pelo que viam, do que pelo que não viam. Fala-lhes Deus então numa linguagem que lhes estava mais ao alcance e, como se se dirigisse a crianças, põe-lhes em perspectiva o que os pode satisfazer. Achavam-se eles ainda no deserto; a terra que Deus lhes dará é a Terra da Promissão, objetivo das suas aspirações. Nada mais desejavam do que isso; Deus lhes diz que viverão nela longo tempo, isto é, que a possuirão por longo tempo, se observarem seus mandamentos.
Mas, ao verificar-se o advento de Jesus, já eles tinham mais desenvolvidas suas idéias. Chegada a ocasião de receberem alimentação menos grosseira, o mesmo Jesus os inicia na vida espiritual, dizendo: “Meu reino não é deste mundo; lá, e não na Terra, é que recebereis a recompensa das vossas boas obras.” A estas palavras, a Terra Prometida deixa de ser material, transformando-se numa pátria celeste. Por isso, quando os chama à observância daquele mandamento:

 “Honrai a vosso pai e a vossa mãe”, já não é a Terra que lhes promete e sim o céu. (Caps. II e III.)

(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIV, itens 3 e 4.)
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LEI DE RETORNO

“E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação.” – Jesus. (João, 5:29.)


Em raras passagens do Evangelho, a lei reencarnacionista permanece tão clara quanto aqui, em que o ensino do Mestre se reporta à ressurreição da condenação.


Como entenderiam estas palavras os teólogos interessados na existência de um inferno ardente e imperecível?


As criaturas dedicadas ao bem encontrarão a fonte da vida em se banhando nas águas da morte corporal. Suas realizações do porvir seguem na ascensão justa, em correspondência direta com o esforço perseverante que desenvolveram no rumo da espiritualidade santificadora, todavia, os que se comprazem no mal cancelam as próprias possibilidades de ressurreição na luz.


Cumpre-lhes a repetição do curso expiatório.


É a volta à lição ou ao remédio.


Não lhes surge diferente alternativa.


A lei de retorno, pois, está contida amplamente nessa síntese de Jesus.


Ressurreição é ressurgimento. E o sentido de renovação não se compadece com a teoria das penas eternas.


Nas sentenças sumárias e definitivas não há recurso salvador. Através da referência do Mestre, contudo, observamos que a Providência Divina é muito mais rica e magnânima que parece.


Haverá ressurreição para todos, apenas com a diferença de que os bons tê-la-ão em vida nova e os maus em nova condenação, decorrente da criação reprovável deles mesmos.
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EMMANUEL
(do livro “Pão Nosso” – psic. Chico Xavier)

sexta-feira, 3 de abril de 2020

DESPREPARO, LENTIDÃO E FUGA


Não adianta. Nem todas as pessoas estão preparadas para o conhecimento espiritual. Mesmo que você tente estimular, conversar, indicar textos maravilhosos, profundos, científicos, didáticos, lógicos, claríssimos, elas não vão absorver. É como mostrar uma foto para um cachorro: ele não vai olhar. Não tem desenvolvimento psíquico para isso. Ele vai no máximo cheirar e... se dispersar. Não é que ele não entendeu: ele nem percebeu! Não registrou!

Por esta razão elas devem ser criticadas, discriminadas, rejeitadas? De jeito nenhum. Quem somos nós para fazer isso? Mesmo quando estudamos muito e pelo esforço próprio já conquistamos largo conhecimento a respeito das verdades universais, nossa ignorância ainda é astronomicamente mais vasta do que sequer podemos imaginar. Os espíritos realmente sábios e evoluídos olham para nosso orgulho com imensa piedade paternal...

Quer dizer que elas vão continuar assim para sempre? Também não. Vão ter que caminhar um dia, como nós mesmos. A estrada é bem longa, contudo a lerdeza da maioria é passageira. Na verdade, até certo ponto, ela é providencial.



(...) a morosidade dos processos evolutivos no campo do espírito é mais que natural, porquanto o progresso apressado pertence àquele que revela suficiente desassombro para acelerar o passo na subida dos montes do conhecimento e da virtude. Para a comunidade em geral, a lentidão é imprescindível.(1) (Neio Lúcio, por Chico Xavier)



Se a demora é um direito do livre-arbítrio, o atraso na conquista dos benefícios é a justiça correspondente. Só colhemos o que plantamos, lembra?

E sobre essa má vontade na pesquisa pelo raciocínio, não nos referimos apenas às pessoas aparentemente sem cultura – estas, aliás, podem se revelar, em muitas ocasiões, com uma inteligência emocional e uma postura moral bem superiores a determinados indivíduos cultos que transpiram soberba. Falamos também dos intelectuais fossilizados em erudição acadêmica que desprezam o conhecimento espiritual por pura ignorância e medo, pois..


Há um movimento inconsciente das criaturas rejeitando verdades que as tornam mais responsáveis.(2) (Odilon Fernandes, por Carlos Baccelli)



Não é que eles não acreditam: eles desconhecem e fogem de conhecer, já que essas informações causariam uma ruptura no dique da barragem que sustenta todas as teorias que acumularam até então, e uma mudança inclusive em seu estilo de vida. Não querem! Mais cômodo ficarem imóveis, fingindo desdém e superioridade – como se esse estado pudesse persistir para sempre. Pode se estender por muito, muito tempo, mas não para sempre. Aí está a reencarnação para surpreendê-los, mexendo e remanejando todas as circunstâncias em que estão inseridos. Terão arrancados de suas mãos aqueles mesmos livros que estão acostumados a ler e serão arremessados de suas cadeiras de balanço para condições existenciais bem diferentes, fazendo-os enxergar a vida por um outro ângulo.

Há ainda os experimentadores de sensações e costumes modernos, sempre à cata de novidades publicitárias classificadas como alto conhecimento de vanguarda. Felizes como crocodilos no pântano, não desejam sair dali. Para eles toda aquela água parada está ok, não precisa ser drenada. Consideram o limitadíssimo espaço onde se afundam como um vasto oceano, ou talvez a própria Via Láctea!



Nada é tão difícil de compreender quanto o que se ignora; nada é mais simples do que aquilo que se conhece.(3) (Camille Flammarion)



Da mesma forma, existem os apáticos e indiferentes. Acham que estão na Terra somente para comer, beber, dormir, ter relações sexuais e trabalhar mecanicamente (só porque precisam sobreviver; caso contrário, nem isso fariam). Estão assim por vontade – ou falta de vontade – própria, arrastando-se ao longo de inúmeras encarnações.



Há espíritos que, por muitas vezes, partem da carne através da morte e à carne voltam através do berço, quais estátuas inermes que, depois de enterradas durante séculos, volvem ao exame de outrem, sem qualquer aspecto novo que lhes altere os esgares fixos.(4) (André Luiz, por Waldo Vieira)



Todos esses foram abandonados pela Providência Divina? Não, absolutamente. O Amor de Deus envolve todas as criaturas sem distinção. Justamente por isso, há o respeito completo à liberdade de pensamento e de ação, embora essa liberdade seja cercada pelas balizas da Lei, para a nossa própria proteção. O que acontece é que eles mesmos preferem se largar na indolência, ainda que possuam dentro de si, lá no âmago, a chama inapagável da intuição espiritual.



As realidades da sobrevivência acompanham a alma humana desde o berço. Intuitivamente, sabe o homem que a vida não se encontra circunscrita às estreitas atividades da Terra.(5) (Emmanuel, por Chico Xavier)



Certa vez, no ano de 2004, quando já enviava pela Internet textos, na maior parte espíritas, para os contatos pessoais, recebi o seguinte recado de uma amiga muito querida: “Não se incomode em mandar essas coisas, porque eu leio, mas é como se não tivesse lido nada... Me desculpe. Acho que você já me conhece...” Respondi, com muito carinho (textualmente): “Como você também já sabe, respeito integralmente seu modo de pensar e não tenho a pretensão de mudar sua cabeça. Envio-lhe os textos e frases como envio a todos os amigos de minha lista de e-mails, para quem quiser refletir. Se não quiser receber nada é só dizer, que eu retiro o seu nome da lista e nada vai mudar em nossa amizade por isso. Mas, se me permite, continuarei enviando, porque você nunca sabe quando vai precisar das informações contidas neles, nem conhece o momento em que despertará para as questões espirituais mais profundas. Deus te proteja hoje e sempre”.



(...) Os Espíritos tratam de convencer; quando não o conseguem, é um inconveniente sem importância; é simplesmente porque o encarnado ainda não está pronto para ser convencido.(6) (Revista Espírita, de Allan Kardec)



Fiquei admirado pela maneira tão honesta e exata com que minha amiga conseguiu expressar, talvez inconscientemente, a condição em que ela e muitos se encontram por enquanto: “Eu leio, mas é como se não tivesse lido nada...” E lembrei das palavras de Thomas Edison:



5% das pessoas pensam. 10% das pessoas pensam que pensam. Os outros 85% preferem morrer a pensar.(7)



É por essas e outras que ainda vai demorar bastante para que a certeza a respeito das verdades espirituais se generalize em nosso planeta. Não a certeza como crença ingênua, mas sim aquela que é fruto da investigação escrupulosa e imparcial.

Estamos avançando, porém. A cada dia, cresce o número dos sinceramente dispostos a estudar e entender. E o trabalho de aprofundamento, ensino, intercâmbio e divulgação se expande prodigiosamente, na atualidade, pelas mãos luminosas dos obreiros do Bem.

Ninguém segura o tempo.



Fernando Peron

23 de março de 2017

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(1) – Obra Sementeira de Paz. Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Neio Lúcio, organização de Wanda Amorim Joviano. Vinha de Luz Serviço Editorial. Belo Horizonte (MG), 2010. 1ª edição, pág. 263. Trecho psicografado em 3 de março de 1948.

(2) – Obra O Transe Mediúnico. Carlos A. Baccelli, pelo Espírito Odilon Fernandes. LEEPP – Livraria Espírita Edições Pedro e Paulo. Uberaba (MG), 2010. 2ª edição, pág. 194.

(3) – Obra Urânia. Camille Flammarion. FEB – Federação Espírita Brasileira. Rio de Janeiro (RJ), 1987. 5ª edição, pág. 71.

(4) – Obra Ideal Espírita. Francisco Cândido Xavier, Waldo Vieira, por Espíritos Diversos. CEC – Comunhão Espírita Cristã. Uberaba (MG), 2007. 2ª edição de bolso, págs. 166 e 167. Trecho psicografado por Waldo Vieira, pelo Espírito André Luiz.

(5) – Obra Roteiro. Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel. FEB – Federação Espírita Brasileira. Rio de Janeiro (RJ), 1986. 7ª edição, pág. 53.

(6) – Obra Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos – Ano VIII, 1865 (nº 2 - fevereiro de 1865). Allan Kardec. FEB – Federação Espírita Brasileira. Rio de Janeiro (RJ), 2006. 3ª edição, pág. 76. Trecho do Espírito Erasto, pelo médium Sr. d’Ambel.

(7) – Thomas Edison (1847-1931), cientista e inventor americano.





MENSAGEM DO ESE:

Benefícios pagos com a ingratidão

Que se deve pensar dos que, recebendo a ingratidão em paga de benefícios que fizeram, deixam de praticar o bem para não topar com os ingratos?
Nesses, há mais egoísmo do que caridade, visto que fazer o bem, apenas para receber demonstrações de reconhecimento, é não o fazer com desinteresse, e o bem, feito desinteressadamente, é o único agradável a Deus. Há também orgulho, porquanto os que assim procedem se comprazem na humildade com que o beneficiado lhes vem depor aos pés o testemunho do seu reconhecimento. Aquele que procura, na Terra, recompensa ao bem que pratica não a receberá no céu. Deus, entretanto, terá em apreço aquele que não a busca no mundo.
Deveis sempre ajudar os fracos, embora sabendo de antemão que os a quem fizerdes o bem não vo-lo agradecerão. Ficai certos de que, se aquele a quem prestais um serviço o esquece, Deus o levará mais em conta do que se com a sua gratidão o beneficiado vo-lo houvesse pago. Se Deus permite por vezes sejais pagos com a ingratidão, é para experimentar a vossa perseverança em praticar o bem.
E sabeis, porventura, se o benefício momentaneamente esquecido não produzirá mais tarde bons frutos? Tende a certeza de que, ao contrário, é uma semente que com o tempo germinará. Infelizmente, nunca vedes senão o presente; trabalhais para vós e não pelos outros. Os benefícios acabam por abrandar os mais empedernidos corações; podem ser olvidados neste mundo, mas, quando se desembaraçar do seu envoltório carnal, o Espírito que os recebeu se lembrará deles e essa lembrança será o seu castigo. Deplorará a sua ingratidão; desejará reparar a falta, pagar a dívida noutra existência, não raro buscando uma vida de dedicação ao seu benfeitor. Assim, sem o suspeitardes, tereis contribuído para o seu adiantamento moral e vireis a reconhecer a exatidão desta máxima: um benefício jamais se perde. Além disso, também por vós mesmos tereis trabalhado, porquanto granjeareis o mérito de haver feito o bem desinteressadamente e sem que as decepções vos desanimassem.
Ah! meus amigos, se conhecêsseis todos os laços que prendem a vossa vida atual às vossas existências anteriores; se pudésseis apanhar num golpe de vista a imensidade das relações que ligam uns aos outros os seres, para o efeito de um progresso mútuo, admiraríeis muito mais a sabedoria e a bondade do Criador, que vos concede reviver para chegardes a ele. 

— Guia protetor. (Sens, 1862.)

(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIII, item 19.)

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O ESPINHO



“E para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, mensageiro de Satanás.” – Paulo. (2ª Epístola aos Coríntios, 12:7.)

Atitude sumamente perigosa louvar o homem a si mesmo, presumindo desconhecer que se encontra em plano de serviço árduo, dentro do qual lhe compete emitir diariamente testemunhos difíceis. É posição mental não somente ameaçadora, quanto falsa, porque lá vem um momento inesperado em que o espinho do coração aparece.

O discípulo prudente alimentará a confiança sem bazófia, revelando-se corajoso sem ser metediço. Reconhece a extensão de suas dívidas para com o Mestre e não encontra glória em si mesmo, por verificar que toda a glória pertence a Ele mesmo, o Senhor.

Não são poucos os homens do mundo, invigilantes e inquietos, que, após receberem o incenso da multidão, passam a curtir as amarguras da soledade; muitos deles se comprazem nos galarins da fama, qual se estivessem convertidos em ídolos eternos, para chorarem, mais tarde, a sós, com o seu espinho ignorado nos recessos do ser.

Por que assumir posição de mestre infalível, quando não passamos de simples aprendizes?

Não será mais justo servir ao Senhor, na mocidade ou na velhice, na abundância ou na escassez, na administração ou na subalternidade, com o espírito de ponderação, observando os nossos pontos vulneráveis, na insuficiência e imperfeição do que temos sido, até agora?

Lembremo-nos de que Paulo de Tarso esteve com Jesus pessoalmente; foi indicado para o serviço divino em Antioquia pelas próprias vozes do Céu; lutou, trabalhou e sofreu pelo Evangelho do Reino e, escrevendo aos coríntios, já envelhecido e cansado, ainda se referiu ao espinho que lhe foi dado para que se não exaltasse no sublime trabalho das revelações.
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EMMANUEL
(do livro “Pão Nosso” – psic. Chico Xavier)

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Chico Xavier

*Pedro Leopoldo, 2 de abril de 1910 
+Uberaba, 30 de junho de 2002 

















 



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Mesmo sem quase nunca sair de Uberaba, o senhor vem acompanhando a situação do mundo atual e, particularmente, os muitos problemas brasileiros. 
Como analisaria tudo isso?

Chico Xavier:


- O mundo que hoje se nos apresenta parece totalmente desorientado. As pessoas perderam o interesse por tudo. Até pela própria existência!

Os jovens não sabem que caminho seguir. Além disso são perseguidos pelas drogas. Quanto ao Brasil, pode parecer estranho o que vou dizer, mas, à medida que nossa comunidade se enriqueceu materialmente, uma nuvem de incompreensão nos cobriu a todos. Quando o País era paupérrimo, principalmente na região que nasci, centro-sertão de Minas Gerais, nós éramos obrigados a trabalhar muito dos 10 anos em diante. A escola era algo de sacrifício, de privilégio. Estudávamos quando e se tivéssemos tempo, após colher feijão, socar arroz e milho, carpir a terra, alimentar os animais.

Dávamos um valor especial àquilo que conseguíamos através de nosso suor, de nosso esforço. A medida que fomos nos desenvolvendo, nos industrializando, e as coisas foram ficando mais fáceis, fomos também perdendo a noção do valor delas.

Nós enriquecemos materialmente e perdemos nossa riqueza espiritual. Mas acredito que isso seja uma coisa transitória, pois sei que ao final teremos todo o amparo da fé cristã que nos livrará das ameaças. Creio na vitória de Jesus Cristo.

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(Em entrevista publicada na revista Contigo/Superstar, São Paulo, SP, n. 443, 19/3/1984, transcrita no ANUÁRIO ESPÍRITA 1985)

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Já Publicadas: 
http://www.betemensagemdodia.blogspot.com.br/search/label/Chico%20Xavier

Chico Xavier

CORPO FÍSICO 



O corpo físico, sem dúvida, é uma bênção, mas o espírito terá que ensiná-lo a viver com menos ...

Hoje, infelizmente, impera a cultura do corpo - quase tudo que se faz tem o propósito de satisfazê-lo: vesti-lo, alimentá-lo, poupá-lo de certos esforços ...

O espírito nunca esteve tão submisso ao corpo quanto na atualidade.

Não se trata de ir ao extremo da maceração, qual procedem os ascetas.

Não!

O espírito necessita do corpo como instrumento de sua manifestação na Dimensão Material; sem ele, semelhante estágio de aprendizado lhe seria imposssível...

Portanto, o corpo carece de ser preservado, mas não cultuado.

Os excessos devem ser cortados ... O excesso de alimentação, por exemplo, reduz o tempo de vida na carne.

Os cuidados que extrapolam no campo da estética induzem à vaidade ...
Quanto mais se der ao corpo, menos se dará ao espírito. As muitas horas de sono resultam na indolência...

Até o prazer oriundo do sexo reclama por disciplina.

Enquanto o homem não entender que é um espírito habitando um corpo transitório, a matéria haverá de subjugá-lo, com o seu próprio consentimento.
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Chico Xavier

AMIGOS DA PRIMEIRA HORA



Tive companheiros extraordinários ...

Não posso me queixar.

Amigos que sempre souberam valorizar a obra dos Bons Espíritos por meu intermédio.

Eram professores, médicos, advogados, gente de admirável cultura acadêmica, em quase todos os setores da atividade humana.

Mas, quando precisava de forças para continuar, era nos exemplos dos irmãos mais simples que eu me inspirava.

Era pensando neles - irmãos e irmãs que mal sabiam escrever o nome - que eu encontrava conforto para o meu coração ...

Refletindo em seus anônimos testemunhos de fé, perante a família e a sociedade, que os ignorava, que eu pude me manter fiel, não traindo a confiança que em mim sempre depositaram.

Devo muito a eles, aos amigos e benfeitores da primeira hora, os quais, sem que soubessem, me ensinaram a perseverar e a não me afastar do caminho.

Ainda hoje, ao recordá-los, não há como evitar que a emoção me domine e que, espontaneamente, lágrimas me aflorem aos olhos.

Foram os protetores encarnados que Jesus colocou no meu caminho!

Como esquecê-los?... Que a bênção de Deus os alcance, onde estiverem! 
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Chico Xavier

Animais



Um amigo perguntou ao Chico qual o animal mais evoluído espiritualmente e dele anotou a resposta:
– É o cão. O cão desperta muito amor e é modelo de fidelidade. As pessoas que amam e cultivam a convivência com os animais, especialmente os cães, se observarem com atenção, verificarão que os vários espécimes são portadores de qualidades que consideramos quase humanas, raiando pela prudência, paciência, disciplina, obediência, sensibilidade, inteligência, improvisação, espírito de serviço, vigilância e sede de carinho, infundindo-nos a ideia de que, quanto mais perto se encontram das criaturas humanas, mais se lhes assemelham, preparando-se para o estágio mais próximo da hierarquia espiritual.

Segundo o iluminado Espírito Emmanuel os animais são nossos parentes próximos, com sua linguagem, seus afetos e sua inteligência rudimentar.

Chico Xavier respondendo a uma pergunta sobre os animais, disse:

- Nossos benfeitores espirituais nos esclarecem que é preciso que todos nós consideremos que os animais diversos, a nos rodearem a existência de seres humanos em evolução no planeta Terra, são nossos irmãos menores, desenvolvendo em si mesmos o próprio princípio inteligente.

Se nós, seres humanos já alcançamos os domínios da inteligência desenvolvendo agora as potências intuitivas, eles, os animais, estão aperfeiçoando paulatinamente seus instintos na busca da inteligência da mesma maneira que nós humanos aspiramos alcançar algum dia a angelitude na Vida Maior, personificada em nosso mestre o Senhor Jesus, eles, os animais aspiram ser num futuro distante homens e mulheres inteligentes e livres. Assim sendo, nós podemos nos considerar como irmãos mais velhos e mais experimentados dos animais.

Deus outorgou aos homens a condição e proteção de nossos irmãos mais novos, os animais.

E o que é que esta humanidade tem agido em relação aos animais nos inúmeros séculos de nossa história?

Porventura nós, os homens, não temos nos transformado em algozes dos animais ao invés de seus protetores fiéis? Quem ignora que a vaca sofre imensamente a caminho do matadouro? Quem duvida que minutos antes do golpe fatal os bovinos derramam lágrimas de angústia? Não temos treinado determinadas raças de cães exaustivamente para o morticínio e os ataques? Que dizermos das caçadas impiedosas de aves e animais silvestres unicamente por prazer esportivo? Que dizermos das devastações inconseqüentes do meio ambiente?

Tudo isto se resume em graves responsabilidades para os seres humanos. A angústia, o medo e o ódio que provocamos nos animais lhes alteram o equilíbrio natural de seus princípios espirituais.

A responsabilidade maior recairá sempre nos desvios de nós mesmos, que não soubemos guiar os animais no caminho do Amor e do Progresso, seguindo a Verdade de Deus.
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Chico Xavier

  

NO MUNDO DOS LIVROS



É muito fácil enredar-se alguém no mundo dos livros ...

Sempre que eu me sentia como uma pessoa que tem por cela uma biblioteca - sempre que eu experimentava a sensação de muito contato com as ideias, pedia licença aos Espíritos Amigos, fazendo uma pausa na psicografia, e ia procurar a periferia da cidade.

Eu precisava de contato humano ...

Não queria me isolar, a ponto de me esquecer das carências imediatas das pessoas, que eram as minhas também.

Tomava, então, a iniciativa de visitar determinada família necessitada, nos bairros mais afastados ...

O médium que não respire no clima da caridade, perde o parâmetro aferidor da própria humanidade.

O trabalho com os Bons Espíritos me proporcionava muitas alegrias, mas Deus me livre de ficar apenas com elas...

É extremamente perigoso excursionar no mundo das ideias sem o concurso do coração.

A teoria sem a vivência nos dota de uma inteligência esquizofrênica.

Escalar alturas, através do pensamento, sem alicerce no chão, é preparar-se para cair espetacularmente.

Jesus fazia as duas coisas: ensinava o espírito e matava a fome do corpo !
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Chico Xavier

O QUE FALTA



Às vezes, o que falta para que os companheiros se entendam melhor é a iniciativa de algum deles, no sentido de promover maior aproximação.

É o orgulho que nos impede de caminhar na direção do outro.

Ficamos na expectativa de que o outro venha e não vamos. Assim, ninguém sai do lugar ...
O que nos custa dar um telefonema, escrever um bilhete, efetuar uma visita?

Um elogio sincero à obra do suposto concorrente quebra muitas resistências.

Precisamos esmerar-nos na arte de fazer amigos, colecionando boas vibrações.

Não se trata de não ser sincero ... Quem não possui um aspecto positivo a ser colocado em evidência?

Ninguém há destituído de valor. Se me dispuser a destacar o lado bom das pessoas, não estarei mentindo.

Por vezes, os nossos olhos são mais omissos que os nossos lábios ...

A palavra fraterna faz ruir qualquer fortaleza, que alguém tenha erguido em relação a nós - a palavra de simpatia.

Agora, não pode ser uma palavra dúbia e nem soar com falsidade.

Tem que partir do coração, endereçada ao coração do outro. Muitas inimizades são por falta de conversar...
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Chico Xavier

O CERTO E O ERRADO 



Com excessão dos insanos, ninguém pode alegar desconhecimento do que seja certo ou errado.

Quando alguém procura cometer uma ação ilícita, cobre o rosto com uma máscara, oculta a sua identidade, foge, após ter perpetrado a ação ...

Tudo isto nos mostra o grau de consciência com que agimos, isto é, erramos sabendo que estamos errando.

A culpabilidade é maior.

De Jesus Cristo para cá, o homem vem tomando, cada vez mais, consciência de si.

Não há, sobre a Terra, quem possa alegar, em seu favor, completa ignorância ou desconhecimento da Lei.

O mal é mal, porque gera consequências que pedem reparação.

O Bem não pune: o Bem recompensa ...

Quem pratica uma ação positiva não se esconde - aliás, costuma ser o contrário.

Foi preciso que Jesus nos recomendasse:

"Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita ... "

O mal se oculta nas sombras; o Bem se revela à luz do dia... Agora, ninguém ludibria a consciência.

O processo pode ficar arquivado por muito tempo, mas virá o julgamento, com a respectiva sentença.
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Chico Xavier



O DIÁLOGO EM CASA





É por falta de diálogo que as famílias se desestruturam, quando os cônjuges perdem o gosto de conversar entre si.

O diálogo amistoso dentro de casa é de vital importância, evitando-se possíveis desgastes no relacionamento.

Não se pode permitir, por exemplo, que a televisão e a Internet tomem o tempo que as pessoas sob o mesmo teto têm para conversar...

Não basta dizer "amo você" e ficar só nisto.

Não estou me referindo à vida sexual ativa, que é apenas complemento do amor.

Há necessidade de que o casal, o marido e a mulher sejam companheiros - não apenas irmãos, mas amigos que confiem um no outro e não somente parceiros no tálamo conjugal.

O ambiente de companheirismo entre os pais repercute na formação do caráter dos filhos.

É preciso que o casal tenha vontade de ficar em casa, rodeado pelos filhos, permutando atenção e carinho.

Não adianta um ficar trancado num cômodo e o outro noutro ...

Há gente dentro da própria casa se comunicando por celular!

A solidão excessiva enseja espaço ao surgimento de ideias que, aos poucos, podem ir crescendo ...

O diálogo e a alegria sadia são aliados seguros da união familiar.
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Chico Xavier

ORIENTAÇÕES BÁSICAS




As orientações básicas de que necessitamos estão, todas, consubstanciadas no Evangelho.

O que nos falta é segui-las !

Há quase 2.000 anos, esperamos por novidades... Que novidades queremos? Que novas revelações?

O que os Espíritos poderão nos dizer, além do que já nos disseram? O essencial está aí: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei"!

O resto são detalhes e mera informação. Há muitos com mais curiosidade do que real interesse pelo conhecimento da verdade.

Temos um mundo de informações à nossa disposição, acerca do Mundo Espiritual esperando por tradução no cotidiano ...

O que temos é mais do que suficiente para que não erremos o caminho!

O Evangelho, já vertido para quase todos os idiomas, espera agora ser traduzido pela nossa vivência - esta, sem dúvida, será a sua mais preciosa versão.

Os Espíritos Superiores estão cientes de que os homens não estão preparados para saber mais, antes que aprendam a amar mais.

Tudo a seu tempo. Não se constrói uma casa sobre a areia...

O acesso a determinados conhecimentos não é de ordem geral. Existem passos individuais e coletivos.

Quem pretende avançar não pode esperar por quem se acomoda na retaguarda.
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Chico Xavier

HOJE E AGORA



Há quem permaneça na expectativa da Vida Espiritual para promover, em si, as mudanças de que necessita.

Por que será que não mudamos, assim que tomamos consciência disto?

Não será a Terra uma dimensão espiritual como as demais?

As oportunidades de que a criatura precisa a fim de se melhorar estão disponíveis onde ela mesma se encontra.

Aliás, os homens vivem a ignorá-las ...

Não temos que esperar um tempo mais favorável para darmos início à nossa renovação Íntima.

Quando reencarnamos, nós o fazemos, imbuídos das melhores esperanças; chegando ao corpo, porém, quando os compromissos aparecem, queremos transferi-los para outra ocasião ...

Assim, para servir-me de expressão popular, vamos "empurrando a dívida", acrescentando a ela, como é natural, os juros de mora.

Há muita gente que, quando pode, não quer e, quando quer, não pode.

As circunstâncias modificam-se, as oportunidades passam - passam e, não raro, demoram a voltar.

Há gente que está suspirando pela chance que desperdiçou há 250, 300 anos atrás! ...

Hoje é dia de procurarmos fazer o melhor.

E o momento é agora!
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Chico Xavier

A CONSCIÊNCIA



A consciência é o que há de restar de tudo o que somos.

Em sua longa trajetória, o espírito busca a sua integração com ela, que, em suma, é a integração plena da criatura com o Criador.

A consciência há de livrar-se dos últimos resquícios do ego ...

A rigor, todos os corpos que nos envolvem são instrumentos de perfeição - teremos que nos despojar de todos eles.

Quando a vontade do Pai for a nossa, alcançaremos a Luz!

As nossas mazelas e imperfeições são excrescências, "corpos estranhos" em nós mesmos.

A consciência não nos cobra aquilo que não lhe devemos ...

Quanto mais o homem se omite espiritualmente mais difícil vai lhe ficando ouvir as advertências e apelos dessa "voz" interior, que nunca se engana em seus alvitres.

Toda orientação de que necessitamos para acertar sempre jaz em nosso mundo íntimo.

Ninguém pode alegar desconhecimento ...
Por conflitarem-se com a consciência é que muitos caem na insanidade - fazem tanto "barulho" para abafar-lhe a voz, que se desnorteiam, adoecem ...

A loucura é fruto de nossa oposição sistemática a ela!

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Chico Xavier

AMOR E INTELIGÊNCIA




Todos aqueles que realizaram prodígios espirituais sobre a Terra, os realizaram pela sua capacidade de amar e não de simplesmente conhecer.

Em face do Amor, todo conhecimento é limitado.

É através do coração que o homem pode alçar-se às estrelas; pelo conhecimento, ele ainda não conseguiu sair do chão ...

Envia naves espaciais para outros orbes, em experiências científicas sem precedentes, mas, convenhamos, ainda muito limitadas; no máximo, o que conseguiu, foi ensaiar alguns passos sobre a superfície da Lua ...

O Amor transcende todos os poderes da inteligência.

Os grandes luminares da Humanidade fizeram-se através do coração.

Não estamos nos posicionando contra o intelecto - absolutamente, mas a inteligência, até agora, não conseguiu anular a periculosidade humana.

As nações estão armadas até aos dentes, umas contra as outras ...

As menores leis são corrompidas.

A injustiça social pouco se alterou na marcha dos séculos.

Somente pela sua infinita capacidade de amar, o homem conseguirá transcender, sem, do ponto de vista físico, necessitar sair do lugar.

Jesus, aparentemente imobilizado na Cruz, triunfou sobre todas as forças da inteligência perversa que conspiraram contra Ele!
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Chico Xavier


DINHEIRO EM EXCESSO



Sei que, vivendo na Terra, principalmente quando temos pessoas que dependam de nós, família e amigos, não é fácil exercitar o desapego, mas, tanto quanto possível, precisamos ir desprendendo-nos do supérfluo, Também não é fácil a identificação do supérfluo em nossa vida...

Feliz daquele que já sabe viver com o necessário, não almejando mais do que lhe seja indispensável à subsistência, de modo que não venha, voluntariamente, devido à indolência, por exemplo, ser um peso para as pessoas de seu relacionamento.

É claro que, quando estamos doentes, às vezes, precisamos, é natural.

Urge exercitar-nos na solidariedade. Se necessitamos da mão que se estende, igualmente necessitamos de alguém em cuja direção ela seja estendida.

A mão da caridade não se estende no vácuo ...

Mas saber identificar o supérfluo, dentro dos recursos que provisoriamente detenha, é alijar-se de um peso desnecessário.

As posses materiais além da conta, que seja a mínima sobra, podem criar inúmeros embaraços ao espírito na administração de si mesmo.

O dinheiro em excesso é obstáculo quase inamovível no caminho de quem procura ascender !
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Chico Xavier


É DIFERENTE





Não seria correto fazer apologia do sofrimento, embora o Evangelho nos diga que "A dor é uma bênção que Deus envia aos seus eleitos".

É claro que o sofrimento precisa ser evitado - não estamos numa Doutrina que nos induza ao masoquismo.

Ninguém gosta e nem deve gostar de sofrer.

Precisamos entender, contudo, que a nossa precariedade espiritual nos acarreta inevitáveis provações.
Não me refiro apenas às consequências de atitudes relacionadas com o passado ...

As nossas arestas espirituais reclamam a ação do cinzel. É natural.

O barro, a fim de fixar a forma em que é modelado, é cozido em fornos de alta temperatura ...

Sem o concurso da disciplina e do obstáculo a vencer, o espírito se amolentaria indefinidamente.

Ninguém se supera, sem algum tipo de esforço. A evolução exige a paga de tributo ...

Mas, o sofrimento voluntário é contra ela! O sofrimento voluntário é antinatural.

Impor-se, egoisticamente, privações, em nada resulta.

A maceração deliberada do corpo é carma para o futuro.

O Espiritismo nos conclama à aceitação e ao aproveitamento da prova.

É diferente.
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Chico Xavier





























 

MENSAGEM DO ESE:
O de que precisa o Espírito para ser salvo. Parábola do bom samaritano.
Ora, quando o filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á no trono de sua glória; — reunidas diante dele todas as nações, separará uns dos outros, como o pastor separa dos bodes as ovelhas, — e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo; — porquanto, tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; careci de teto e me hospedastes; — estive nu e me vestistes; achei-me doente e me visitastes; estive preso e me fostes ver.
Então, responder-lhe-ão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? — Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos? — E quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos visitar-te? — O Rei lhes responderá:
Em verdade vos digo, todas as vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim mesmo que o fizestes.
Dirá em seguida aos que estiverem à sua esquerda: Afastai-vos de mim, malditos; ide para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos; — porquanto, tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber; precisei de teto e não me agasalhastes; estive sem roupa e não me vestistes; estive doente e no cárcere e não me visitastes.
Também eles replicarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e não te demos de comer, com sede e não te demos de beber, sem teto ou sem roupa, doente ou preso e não te assistimos? — Ele então lhes responderá: Em verdade vos digo: todas a vezes que faltastes com a assistência a um destes mais pequenos, deixastes de tê-la para comigo mesmo. E esses irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna. (S. MATEUS, cap. XXV, vv. 31 a 46.)
Então, levantando-se, disse-lhe um doutor da lei, para o tentar: Mestre, que preciso fazer para possuir a vida eterna? — Respondeu-lhe Jesus: Que é o que está escrito na lei? Que é o que lês nela? — Ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, com todas as tuas forças e de todo o teu espírito, e a teu próximo como a ti mesmo. — Disse-lhe Jesus: Respondeste muito bem; faze isso e viverás. Mas, o homem, querendo parecer que era um justo, diz a Jesus: Quem é o meu próximo?
Jesus, tomando a palavra, lhe diz: Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu em poder de ladrões, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. — Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. — Um levita, que também veio àquele lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. — Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixão. — Aproximou-se dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. — No dia seguinte tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar.
Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caíra em poder dos ladrões? — O doutor respondeu: Aquele que usou de misericórdia para com ele. — Então, vai, diz Jesus, e faze o mesmo. (S. LUCAS, cap. X, vv. 25 a 37.)
Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade:
Bem-aventurados, disse, os pobres de espírito, isto é, os humildes, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos; amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que quereríeis vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos, antes de julgardes os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar e o de que dá, ele próprio, o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não se cansa de combater. E não se limita a recomendar a caridade; põe-na claramente e em termos explícitos como condição absoluta da felicidade futura.
No quadro que traçou do juízo final, deve-se, como em muitas outras coisas, separar o que é apenas figura, alegoria. A homens como os a quem falava, ainda incapazes de compreender as questões puramente espirituais, tinha ele de apresentar imagens materiais chocantes e próprias a impressionar. Para melhor apreenderem o que dizia, tinha mesmo de não se afastar muito das idéias correntes, quanto à forma, reservando sempre ao porvir a verdadeira interpretação de suas palavras e dos pontos sobre os quais não podia explicar-se claramente. Mas, ao lado da parte acessória ou figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade reservada ao justo e da infelicidade que espera o mau.
Naquele julgamento supremo, quais os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta, porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não; inquire tão-somente de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai à direita, vós que assististes os vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles. Informa-se, por acaso, da ortodoxia da fé? Faz qualquer distinção entre o que crê de um modo e o que crê de outro? Não, pois Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como a condição única. Se outras houvesse a serem preenchidas, ele as teria declinado. Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e porque é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.
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 (Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV, itens 1 a 3.)