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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Autismo


Num sábado de 1981

A lição que passaremos hoje para o papel, não ocorreu propriamente à sombra do frondoso abacateiro onde, habitualmente, Chico Xavier realiza o culto evangélico, em pleno coração da Natureza. 

O que iremos narrar, tão fielmente quanto possível, ouvimos num sábado à noite no "Grupo Espírita da Prece", logo após o contato fraterno com os irmãos que residem nas imediações da "Mata do Carrinho", o novo local onde as nossas reuniões vespertinas estão sendo realizadas.

Um casal aproximou-se do Chico; o pai sustentando uma criança de 1 ano e meio nos braços, acompanhado por distinto médico espírita de Uberaba.

A mãe permaneceu a meia distância, em mutismo total, embora com alguma aflição no semblante.

O médico, adiantando-se, explicou o caso ao Chico:

a criança, desde que nasceu, sofre sucessivas convulsões, tendo que ficar sob o controle de medicamentos, permanecendo dormindo a maior parte do tempo; em consequência, mal consegue engatinhar e não fala.

Após dialogarem durante alguns minutos, o Chico perguntou ao nosso confrade a que diagnóstico havia chegado.

— Para mim, trata-se de um caso de "autismo" — respondeu ele.

O Chico disse que o diagnóstico lhe parecia bastante acertado, mas que convinha diminuir os anticonvulsivos mesmo que tal medida, a princípio, intensificasse os ataques. Explicou, detalhadamente, as contra-indicações do medicamento no organismo infantil. Recomendou passes.

— Vamos orar - concluiu.

O casal saiu, visivelmente mais confortado, mas, segurando o braço do médico nosso confrade, Chico explicou a todos que estávamos ali mais próximos:

— O "autismo" é um caso muito sério, podendo ser considerado uma verdadeira calamidade. Tanto envolve crianças quanto adultos... Os médiuns também, por vezes, principalmente os solteiros, sofrem desse mal, pois que vivem sintonizados com o Mundo Espiritual, desinteressando-se da Terra...
"É preciso que alguma coisa nos prenda no mundo, porque, senão, perdemos a vontade de permanecer no corpo..."

E Chico Xavier exemplificou com ele mesmo:

- Vejam bem: o que mais me interessa na Terra a não ser a tarefa mediúnica, nada mais. Dinheiro, eu só quero o necessário para sobreviver; casa, eu não tenho o que fazer com mais uma... Então, eu procuro me interessar pelos meus gatos e meus cachorros. Quando um adoece ou morre, eu choro muito, porque se eu não me ligar em alguma coisa eu deixo vocês.

Ele ainda considerou que muitos casos de suicídios, tem as suas bases no “autismo”, porque a pessoa vai perdendo o interesse pela vida, inconscientemente deseja retornar a pátria Espiritual, e para se libertar do corpo, que considera uma verdadeira prisão, forçando as portas da saída.

E o Chico falou ao médico:

— É preciso que os pais dessa criança conversem muito com ela, principalmente a mãe. E necessário chamar o Espírito para o corpo... Se não agirmos assim, muitos Espíritos não permanecerão na carne, porque a reencarnação para eles é muito dolorosa...

Evidentemente que não conseguimos registrar tudo, mas a essência do assunto é o que esta exposto aqui.
E ficamos a meditar na complexidade dos problemas humanos e na sabedoria de Chico Xavier.

Quando ele falava de si, ilustrando a questão do "autismo", sentimo-lo como um pássaro de luz encarcerado numa gaiola de ferro, renunciando à paz da grande floresta para entoar canções de imortalidade aos que caíram invigilantes, no visgo do orgulho ou no alçapão da perturbação.

Nesta noite, sem dúvida, compreendemos melhor Chico Xavier e o admiramos ainda mais.

De fato, pensando bem, o que é que pode interessar na Terra, a não ser o trabalho missionário em nome do Senhor, ao Espírito que já não pertence mais à sua faixa evolutiva?!

O espírito daquela criança sacudia o corpo que convulsionava, na ânsia de libertar-se...

Sem dúvida era preciso convencer o Espírito a ficar... Tentar dizer-lhe que a Terra não é tão cruel assim... 

Que precisamos trabalhar pela melhoria do homem. 
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Chico Xavier, à Sombra do Abacateiro 
Carlos A. Bacelli



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