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domingo, 19 de maio de 2019

NA SUBIDA CRISTÃ

 

Filipe, o velho pescador fiel ao profeta Nazareno, meditando bastas vezes na grandeza do Evangelho, punha-se a monologar para dentro da própria alma.

A Boa-Nova dizia consigo mesmo era indiscutivelmente um monte divino, alto demais, porém, considerando-se as vulgaridades da existência comum. O Mestre era, sem duvida, o Embaixador do Céu. Entretanto, os princípios de que era portador mostravam-se transcendentes em demasia. Como enfrentar as dificuldades e resolvê-las? Ele, que acompanhava o Senhor, passo a passo, atravessava obstáculos imensos, de modo a segui-Lo com fidelidade e pureza. Momentos surgiam em que, de súbito, via esfaceladas as promessas de melhoria íntima que formulava a si próprio. É quase impraticável a ascensão evangélica. Os ideais, as esperanças e objetivos do Salvador permaneciam excessivamente longínquos ao seu olhar… Se os óbices da jornada espiritual lhe estorvavam sadios propósitos do coração, que não ocorreria aos homens inscientes da verdade e mais frágeis que ele mesmo?

Em razão disso, de quando em quando interpelava o Amigo Celeste, desfechando-lhe indagações.

Jesus, persuasivo e doce, esclarecia:

Filipe, não te deixes subjugar por semelhantes pensamentos. É indispensável instituir padrões superiores com a revelação dos cimos, inspirando os viajores da viela e estimulando-os, quanto for necessário… Se não descerrarmos a beleza do píncaro, como educar o espírito que rasteja no pântano?

Não menosprezes, impensadamente, a claridade que refulge, além…

Mas, Senhor obtemperava o companheiro sincero , não será mais justo graduar as visões? O amor que pleiteamos é universal e infinito. A maioria das criaturas, porém, sofre estreiteza e incompreensão. Muitos homens chegam a odiar e perseguir como se praticassem excelentes virtudes. Filósofos existem que consomem a vida e o tempo entronizando os que sabem tiranizar. É razoável, portanto, diminuir a luz da revelação, para que se não ofusque o entendimento do povo. No transcurso do tempo, nossos continuadores se encarregariam de mais amplas informações…

O Cristo sorria, benevolente, e acrescentava:

Se as idéias redentoras de nossos ensinamentos são focos brilhantes de cima, reconheçam que a mente do mundo está perfeitamente habilitada a compreendê-las e materializá-las. Não é a coroa da montanha que perturba a planície. E se obstáculos aparecem, impedindo-nos a subida, estas dificuldades pertencera a nós mesmos. Uma estrela beneficia sempre, convida ao raciocínio elevado; no entanto, jamais incomoda. Não maldigas, pois a luz, porque todo impedimento na edificação do Reino Celeste está situado em nós mesmos.

O velho irmão penetrava o terreno das longas perquirições interiores e concluía, afirmando:

Senhor, como eu desejava compreender claro tudo isto!

Silenciava Jesus na habitual meditação.

Certo dia, ambos se preparavam para alcançar os cimos do Hermon, em jornada comprida e laboriosa, quando o apóstolo, ainda em baixa altitude, se pôs a admirar, deslumbrado, os resplendores que fluíam da cordilheira.

Terminara o lençol verdoengo e florido.

Atacaram a marcha no carreiro íngreme.

Agora, era a paisagem ressequida e nua.

Pequeninos seixos pontiagudos recheavam o caminho.

Não obstante subirem devagar, Filipe, de momento a momento, rogava pausa e, suarento e inquieto, sentava-se à margem, a fim de alijar pedras minúsculas que, sorrateiras, lhe penetravam as sandálias. Gastava tempo e paciência para localizá-las entre os dedos feridos. Dezenas de vezes, pararam, de súbito, repetindo Filipe a operação e, ao conquistarem as eminências da serra, banhados de sol, na prodigiosa visão da natureza em torno, o Mestre, que sempre se valia das observações diretas para fixar as lições, explicou-lhe, brandamente:

Como reconheces, Filipe, não foi a claridade do alto que nos dificultou a marcha e, sim, a pedrinha modesta do chão. O dia radioso nunca fez mal entretanto, muitas vezes, as questões pequeninas do mundo interrompem a viagem dos homens para Deus, Nosso Pai. Quase sempre, a fim de prosseguirmos na direção do dever elevado e soberano, nossa alma requisita a cooperação dos outros, tanto quanto os pés necessitam da sandália protetora nestes caminhos escabrosos… Toda dificuldade na ascensão reside nos problemas insignificantes da senda… Assim também, na caminhada humana, as questões mais ínfimas, se conduzidas pela imprudência, podem golpear duramente o coração. Observa o minuto de palestra, a opinião errada, o gesto impensado… Podem converter-se em venenosas pedrinhas que cortam os pés, ameaçando-nos a estabilidade espiritual. Entendes, agora, a importância das bagatelas em nosso esforço diário?

O pescador galileu meneou a cabeça, significativamente, e respondeu, satisfeito:

Sim, Mestre, agora compreendi.
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pelo Espírito Irmão X – Do livro: Luz Acima, Médium: Francisco Cândido Xavier.











MENSAGEM DO ESE:

A verdadeira propriedade


O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste. Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar, visto como, do que tiver adquirido em bem, resultará a sua posição futura. Quando alguém vai a um país distante, constitui a sua bagagem de objetos utilizáveis nesse país; não se preocupa com os que ali lhe seriam inúteis. Procedei do mesmo modo com relação à vida futura; aprovisionai-vos de tudo o de que lá vos possais servir.
Ao viajante que chega a um albergue, bom alojamento é dado, se o pode pagar. A outro, de parcos recursos, toca um menos agradável. Quanto ao que nada tenha de seu, vai dormir numa enxerga. O mesmo sucede ao homem, a sua chegada no mundo dos Espíritos: depende dos seus haveres o lugar para onde vá. Não será, todavia, com o seu ouro que ele o pagará. Ninguém lhe perguntará: Quanto tinhas na Terra? Que posição ocupavas? Eras príncipe ou operário? Perguntar-lhe-ão: Que trazes contigo? Não se lhe avaliarão os bens, nem os títulos, mas a soma das virtudes que possua. Ora, sob esse aspecto, pode o operário ser mais rico do que o príncipe. Em vão alegará que antes de partir da Terra pagou a peso de ouro a sua entrada no outro mundo. Responder-lhe-ão: Os lugares aqui não se compram: conquistam-se por meio da prática do bem. Com a moeda terrestre, hás podido comprar campos, casas, palácios; aqui, tudo se paga com as qualidades da alma. És rico dessas qualidades? Sê bem-vindo e vai para um dos lugares da primeira categoria, onde te esperam todas as venturas. És pobre delas? Vai para um dos da última, onde serás tratado de acordo com os teus haveres. — Pascal. (Genebra, 1860.)
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(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVI, item 9.)


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