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segunda-feira, 26 de junho de 2017

No passeio matinal


Dionísio, o moleiro, muito cedo partiu em companhia do filhinho, na direção de grande milharal.

A manhã se fizera linda.

Os montes próximos pareciam vestidos em gaze esvoaçante.

As folhas da erva, guardando, ainda, o orvalho noturno, assemelhavam-se a caprichoso tecido verde, enfeitado de pérolas. Flores vermelhas, aqui e ali, davam a ideia de joias espalhadas no chão.

As árvores, muito grandes, à beira da estrada, despertavam, de leve, à passagem do vento.

O Sol aparecia, brilhante, revestindo a paisagem numa coroa resplandecente.

Reinaldo, o pequeno guiado pela mão paterna, seguia num deslumbramento. Não sabia o que mais admirar: se o lençol de neblina muito alva, se o horizonte inflamado de luz. Em dado momento, perguntou, feliz:

- Papai, de quem é todo este mundo?

- Tudo pertence ao Criador, meu filho -esclareceu o moleiro, satisfeito -;
 o Sol, o ar, as águas, as árvores e as flores, tudo, tudo, é obra dEle, nosso Pai e Senhor.

- Para que tudo isto? - continuou o petiz contente.

- A fim de recebermos esta escola divina, que é a Terra.

- Escola?

- Sim, filho - tornou o genitor paciente -,
 aqui devemos aprender, no trabalho, a amar-nos uns aos outros, aprimorando sentimentos, quanto devemos aperfeiçoar o solo que pisamos, transformando colinas, planícies e pedras em cidades, fazendas, estábulos, pomares, milharais e jardins.

Reinaldo não entendeu, de pronto, o que significava "aprimorar sentimentos"; contudo, sabia perfeitamente o que vinha a ser a remoção dum monte empedrado.
 Surpreso, voltou a indagar:
- Então, papai, somos obrigados a trabalhar tanto assim?
 Como será possível modificar este mundo tão grande?

O moleiro pensou alguns instantes e observou:

- Meu filho, já ouvi dizer que uma andorinha vagueava só, quando notou que um incêndio lavrava em seu campo predileto.
 O fogo consumia plantas e ninhos.
 Em vão, gritou por socorro.
Reconhecendo que ninguém lhe escutava as súplicas, pôs-se rápida para o córrego não distante, mergulhando as pequenas asas na água fria e límpida; daí, voltava para a zona incendiada, sacudindo as asas molhadas sobre as chamas devoradoras, procurando apagá-las.


O moleiro fêz uma pausa e interrogou o filho:

- Não acredita você que podemos imitar semelhante exemplo?
Se todos procedêssemos como a andorinha operosa e vigilante, em pouco tempo toda a Terra estaria transformada num paraíso.

O menino calou-se, entendendo a extensão do ensinamento e, no íntimo, contemplando a beleza do quadro matinal, desde as margens do caminho até a montanha distante, prometeu a si mesmo que procuraria cumprir no mundo todas as obrigações que lhe coubessem na obra sublime do Infinito Bem.
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Neio Lúcio 
Chico Xavier


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