Qualquer pessoa pode ser protetora de animais. No dia-a-dia de todos nós, animais compõem a paisagem e, com pequeninos gestos de amor, poderemos agir em benefício deles. Não custa nada amar aos animais e necessariamente o retorno desse amor se fará presente em nossas vidas. Passamos a enumerar algumas situações nas quais nossa opção preferencial de amparo aos animais se constituirá numa atitude digna e principalmente cristã:
1 - Educação infantil
Conta-se que Licurgo foi convidado a falar sobre a educação. O grande legislador de Esparta aceitou, mas pediu um ano para preparar o material que iria apresentar.
- Por que um homem tão sábio ocuparia tanto tempo para compor simples exposição de ideias? Exigência aceita, prazo cumprido, ei-lo diante da multidão que compareceu para ouvir-lhe os conceitos. Trazia duas gaiolas. Numa estavam dois cães; duas lebres na outra.
Sem nada dizer, tirou um animal de cada gaiola, soltando-os. Em instantes o cão estraçalhou a lebre. Libertou em seguida os restantes. O público estremeceu, antevendo nova cena de sangue. Surpresa: o cão aproximou-se da lebre e brincou com ela. Esta correspondeu, sem nenhum temor, às suas iniciativas.
- Aí está, senhores - esclareceu Licurgo -, porque pedi prazo tão extenso, preparando esses animais. O melhor discurso é o exemplo. O que mostrei exemplifica o que pode a educação, que opera até mesmo o prodígio de promover a confraternização de dois seres visceral e instintivamente inimigos.
Se é possível educar animais, mesmo antagônicos, levando-os à convivência pacífica, naturalmente será possível educar as crianças, incutindo-lhes desde cedo o respeito devido a Deus, aos semelhantes e à Natureza - fauna e flora. A criança, em particular, em casa, na escola e na sociedade, deve ser esclarecida quanto às normas cristãs de amor e respeito, aí incluindo-se os animais. Deve ser enfatizado que maus-tratos aos animais embrutecem o homem, pois isso é crueldade, que em nada dignifica a alma. As crianças são sensíveis ao aprendizado e, se lhes for demonstrado que os animais sentem dor como nós próprios, certamente serão protetoras de animais por toda a vida.
O inevitável sacrifício de animais para servir de alimento, em hipótese alguma pode se revestir de pavor, crueldade e dor para com eles: a maneira deve ser a mais rápida e mais indolor possível. Quanto a insetos daninhos (moscas, mosquitos, baratas, escorpiões etc.) devem ser eliminados mas sem características de crueldade, isto é, de um golpe só.
A criança deve ser informada que tais insetos não são "inimigos", mas, sim, seres criados também por Deus: vivendo em rudimentar estágio, estão na Terra em razão de este planeta também abrigar outros seres - nós, inclusive - todos em processo de evolução. Em mundos felizes, certamente, inexistem tais nocivas criaturas, aqui, meros instrumentos consentâneos com a evolução terrena.
A exemplo do que já acontece em outros países, de todo recomendável seria a criação, nas escolas, dos chamados "Grupos de Proteção aos Animais" ou "Grupo de Assistência aos Animais"; pertencer como sócio a um desses grupos é dignificante para a criança, para a família e para a Pátria; com seriedade e ardor, semelhantes aos dos escoteiros que protegem os seres indefesos, os sócios desses grupos muito poderão fazer pelos animais, usando sua natural energia e criatividade. Como sugestão, o coordenador pedagógico ou educador responsável pelo Grupo poderá designar, para cada espécie animal, uma equipe de "advogados de defesa".
A(s) criança(s) proporia(m), na escola toda, algumas questões do tipo:
• como devem ser tratados os cavalos? E os cães? E os gatos?
• você sabia que os sapos são extremamente úteis aos jardineiros e na roça, pois comem pragas?
• você já pensou no benefício que os urubus, gaviões e crocodilos fazem ao homem, comendo animais mortos? Pois, do contrário, esses restos mortais poderiam contaminar o meio ambiente?
• quem gostaria de morar a vida toda numa gaiola ou numa jaula?...
Conquanto a educação aqui preconizada refira-se à criança, esforços deverão também ser envidados - por todos os segmentos sociais, principalmente os escolares e religiosos para que os adultos dêem o exemplo.
2 - Piedade
O sentimento de piedade demonstra elevação espiritual, principalmente quando seguido da respectiva ajuda para a cessação da causa do sofrimento. Só que se deve sentir piedade, não apenas por semelhantes, mas também pelos animais. A emoção piedosa será a mesma, em ambos os casos. A piedade antepõe-se vigorosamente à crueldade, obstando-a, quando não a eliminando. Tanto a piedade quanto a crueldade têm a propriedade de se multiplicar; por isso, melhor será sempre incrementar aquela, com isso banindo esta.
A piedade é a ante-sala do Amor, assim como a crueldade o é da violência.
3 - Animais abandonados
Cães e gatos, principalmente, "sem casa", perambulando perdidos pelas ruas, famintos, arredios, apavorados, nascem pelos mesmos mecanismos divinos da vida, dos demais seres vivos, estando em árduo processo evolutivo. Merecem nossa compaixão e mais que isso: merecem nosso apoio! Sendo possível, devemos alimentá-los, jamais escorraçá-los. Na hipótese de um animal estar acometido de hidrofobia (raiva), eleja não sabe o que faz. Está sofrendo. Normalmente, anda de cabeça baixa e em silêncio, triste. Espuma na boca pode significar duas anomalias distintas: ou "raiva" ou envenenamento cruel.
Nesses casos, deve-se apelar para as autoridades municipais, que apreenderão o animal e, conforme o caso, por inevitável, o sacrificarão. Cabe aqui lembrar que o mundo é lugar destinado também para os animais e isso é decisão divina. Negar-lhes tal direito conflita com o respeito a Deus. O abandono de um animal é condenação certa. O autor desses dolorosos quadros que o cotidiano nos mostra, agindo irresponsavelmente, cedo ou tarde terá que prestar contas à sua consciência.
4 - Eutanásia-animal
A revista mexicana La Voz de los Animales considera que o abandono de animais (de estimação) é para eles o pior castigo; recomenda que é preferível proporcionar-lhes morte piedosa (se possível, sob cuidados de um veterinário). Conquanto a admiração que nutrimos por aquela revista - toda ela dedicada à proteção dos animais -, respeitosamente discordamos. Discordamos porque, como cristãos, jamais poderíamos aceitar um ou outro procedimento, à guisa de tal ser imperativo.
Se é ruim o abandono do animal que conviveu longos tempos sob a proteção do seu dono, pior será sua execução, quando tal proteção não mais seja possível. O fato é que não se deve descartar de um animal de longa convivência doméstica como se desfaz de um chinelo velho: qualquer argumento falecerá ante as regras da vida e da ética. Morte piedosa do animal, talvez, só quando o veterinário atestar que traumas ou doenças sejam irreversíveis, além de acompanhadas de dores insuportáveis.
Obs.: Não podemos confundir fatos e nem devemos nos esquecer que no O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, n5 28, consta ser grave equívoco a eutanásia, sob o pretexto de carma sendo esgotado nos casos de doenças incuráveis, com desencarne previsto pela Medicina. O espírito humano tem aí (paciente terminal) preciosíssima oportunidade de reflexão e arrependimento, crescendo às vezes num minuto o quanto não o fez na vida toda.
Quanto ao animal, possuindo também uma alma, embora diferente da humana, não lhe é acometido carma (nem bom, nem mau - por não possuir livre-arbítrio), nem lhe ocorrem reflexão ou arrependimento, em qualquer instante, de atos praticados durante sua vida (por não possuir consciência). Dever cristão é que impõe ao dono ampará-lo até o último sopro de vida, para morrer em paz e para com gratidão ao ser humano chegar às regiões espirituais que Deus lhe concede.
5 - Cemitério para animais
Aqui, muitas pessoas "gente boa" torcem o nariz quando ouvem falar nisso. "Se os cemitérios já andam lotados com gente, era só o que faltava pensar em cemitério para animais..." -argumentam. Não deveriam. Enterrar animais, quando não seja por afeto, por respeito, que seja por questões de higiene ambiental, pois é extremamente perigoso que carcaças de animais mortos destilem líquidos virulentos, que podem infiltrar-se nos mananciais de água ou mesmo contaminar crianças ou outros animais, pelo contato.
Não podemos nos esquecer de que os animais estão na face da Terra há mais tempo que o homem; até o aparecimento deste, a própria Natureza se encarregava de dar fim adequado aos animais mortos: quando nas águas, serviam de alimento a outros animais (crocodilos e peixes em geral); quando em terra, os animais mortos serviam de pasto a predadores, a animais carnívoros, ou às aves "faxineiras" (urubus, gaviões etc.).
Em regiões silvestres, isso ainda ocorre e provavelmente sempre continuará a ocorrer. Posteriormente, com a presença do homem, algumas espécies animais vieram (ou foram trazidas...) para sua companhia, passando a viver e a procriar em cidades. E, nas cidades, inexistem aqueles meios naturais de dar fim às carcaças dos animais mortos (referimo-nos, aqui, particularmente aos animais domésticos). Por essa razão, passou a ser responsabilidade humana, única e exclusivamente, o conveniente destino dos cadáveres de animais das cidades: enterrá-los.
Em Tóquio, num templo zen-budista, todos os dias são realizados enterros de bichinhos de estimação: os ritos para animais começam com toques de sinos, para buscar a presença de Buda, e com um sacerdote de cabeça rapada entoando os sutras; é assim que "outra alma inicia sua longa jornada para o nirvana". O sacerdote informou que no Budismo "todas as coisas vivas são capazes de alcançar a condição de Buda"; e concluiu: "nossos ritos a favor dos animais são idênticos aos feitos para os humanos". O Templo, em Jikkein, subúrbio de Tóquio, crema cerca de dez mil animais todo ano.
Notas: Nos anos 50 foi inaugurado um cemitério para animais no Rio de Janeiro, então capital brasileira, fato que de pronto teve aceitação dos cariocas, bem como numerosos "inquilinos ". Um assessor especial da Prefeitura do Rio de Janeiro propôs (maio/93) a privatização de 63 bens, empresas, entidades e serviços cariocas, neles incluído o Cemitério de Animais Jorge Vaitsman, na Mangueira, Zona Norte do Rio. Desse fato podemos concluir que cemitérios para animais, inclusive, podem ser lucrativos, desde que administrados por empresas particulares.
6 - Agressões e defesa
Se uma pessoa estiver maltratando um animal deveremos intervir, jamais nos omitir - intervenção por altruísmo, educação e amor à Natureza. - Como? - Com brandura e educação, não piorando o ânimo do agressor, o qual, já exaltado, poderá se tornar mais rude ainda com o animal. Podemos tocar-lhe os sentimentos, lembrando que os animais:
• não raciocinam nem sabem falar...;
• sentem dor, sede e fome como nós;
• não têm "salário" nem "sindicato" onde possam se queixar.
Como argumento poderoso podemos citar que foi junto aos animais que Jesus se abrigou ao nascer, abrigo esse negado, ou pelo menos dificultado, pelos racionais, a Ele e a Seus pais.
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Eurípedes Kuhl