sábado, 1 de novembro de 2014

O SUICIDA DO TREM



- Eu nunca me esquecerei que um dia havia lido num jornal acerca de um suicídio terrível, que me impactou: um homem jogou-se sobre a linha férrea, sob os vagões da locomotiva e foi triturado. E o jornal, com todo o estardalhaço, contava a tragédia, dizendo que aquele era um pai de dez filhos, um operário modesto.
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Aquilo me impressionou tanto que resolvi orar por esse homem.
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Tenho uma cadernetinha para anotar nomes de pessoas necessitadas. Eu vou orando por elas e, de vez em quando, digo: se este aqui já evoluiu, vou dar o seu lugar para outro; não posso fazer mais.
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Assim, coloquei-lhe o nome na minha caderneta de preces especiais - as preces que faço pela madrugada. Da minha janela eu vejo uma estrela e acompanho o seu ciclo; então, fico orando, olhando para ela, conversando. Somos muito amigos, já faz muitos anos. Ela é paciente, sempre aparece no mesmo lugar e desaparece no outro.
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Comecei a orar por esse homem desconhecido. Fazia a minha prece, intercedia, dava uma de advogado, e dizia: Meu Jesus, quem se mata (como dizia minha mãe) "não está com o juízo no lugar". Vai ver que ele nem quis se matar; foram as circunstâncias. Orava e pedia, dedicando-lhe mais de cinco minutos (e eu tenho uma fila bem grande), mas esse era especial.
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Passaram-se quase quinze anos e eu orando por ele diariamente, onde quer que estivesse.
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Um dia, eu tive um problema que me fez sofrer muito. Nessa noite cheguei à janela para conversar com a minha estrela e não pude orar. Não estava em condições de interceder pelos outros. Encontrava-me com uma grande vontade de chorar; mas, sou muito difícil de fazê-lo por fora, aprendi a chorar por dentro. Fico aflito, experimento a dor, e as lágrimas não saem. (Eu tenho uma grande inveja de quem chora aquelas lágrimas enormes, volumosas, que não consigo verter).
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Daí a pouco a emoção foi-me tomando e, quando me dei conta, chorava.
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Nesse ínterim, entrou um Espírito e me perguntou:
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- Por que você está chorando?
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- Ah! Meu irmão - respondi - hoje estou com muita vontade de chorar, porque sofro um problema grave e, como não tenho a quem me queixar, porquanto eu vivo para consolar os outros, não lhes posso contar os meus sofrimentos. Além do mais, não tenho esse direito; aprendi a não reclamar e não me estou queixando.
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O Espírito retrucou:
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- Divaldo, e seu eu lhe pedir para que você não chore, o que é que você fará?
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- Hoje nem me peça. Porque é o único dia que eu consegui fazê-lo. Deixe-me chorar!
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- Não faça isto - pediu. - Se você chorar eu também chorarei muito.
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- Mas por que você vai chorar? - perguntei-lhe.
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- Porque eu gosto muito de você. Eu amo muito a você e amo por amor.
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Como é natural, fiquei muito contente com o que ele me dizia.
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- Você me inspira muita ternura - prosseguiu - e o amo por gratidão. Há muitos anos eu me joguei embaixo das rodas de um trem. E não há como definir a sensação da eterna tragédia. Eu ouvia o trem apitar, via-o crescer ao meu encontro e sentia-lhe as rodas me triturando, sem terminar nunca e sem nunca morrer. Quando acabava de passar, quando eu ia respirar, escutava o apito e começava tudo outra vez, eternamente. Até que um dia escutei alguém chamar pelo meu nome. Fê-lo com tanto amor, que aquilo me aliviou por um segundo, pois o sofrimento logo voltou. Mais tarde, novamente, ouvi alguém chamar por mim. Passei a ter interregnos em que alguém me chamava, eu conseguia respirar, para aguentar aquele morrer que nunca morria e não sei lhe dizer o tempo que passou. Transcorreu muito tempo mesmo, até o momento em que deixei de ouvir o apito do trem, para escutar a pessoa que me chamava. Dei-me conta, então, que a morte não me matara e que alguém pedia a Deus por mim. Lembrei-me de Deus, de minha mãe, que já havia morrido. Comecei a refletir que eu não tinha o direito de ter feito aquilo, passei a ouvir alguém dizendo: "Ele não fez por mal. Ele não quis matar-se." Até que um dia esta força foi tão grande que me atraiu; aí eu vi você nesta janela, chamando por mim.
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- Eu perguntei - continuou o Espírito - quem é? Quem está pedindo a Deus por mim, com tanto carinho, com tanta misericórdia? Mamãe surgiu e esclareceu-me:
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- É uma alma que ora pelos desgraçados.
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- Comovi-me, chorei muito e a partir daí passei a vir aqui, sempre que você me chamava pelo nome.
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(Note que eu nunca o vira, face às diferenças vibratórias.)
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 Quando adquiri a consciência total - prosseguiu ele - já se haviam passado mais de catorze anos. Lembrei-me de minha família e fui à minha casa. Encontrei a esposa blasfemando, injuriando-me: 
"- Aquele desgraçado desertou, reduzindo-nos à mais terrível miséria. A minha filha é hoje uma perdida, porque não teve comida e nem paz e foi-se vender para tê-los. Meu filho é um bandido, porque teve um pai egoísta, que se matou para não enfrentar a responsabilidade.
Deixando-nos, ele nos reduziu a esse estado."
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- Senti-lhe o ódio terrível. Depois, fui atraído à minha filha, num destes lugares miseráveis, onde ela estava exposta como mercadoria. Fui visitar meu filho na cadeia.
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- Divaldo - falou-me emocionado - aí eu comecei a somar às "dores físicas" a dor moral, dos danos que o meu suicídio trouxe. Porque o suicida não responde só pelo gesto, pelo ato da autodestruição, mas, também, por toda uma onda de efeitos que decorrem do seu ato insensato, sendo tudo isto lançado a seu débito na lei de responsabilidades. Além de você, mais ninguém orava, ninguém tinha dó de mim, só você, um estranho. Então hoje, que você está sofrendo, eu lhe venho pedir: em nome de todos nós, os infelizes, não sofra! Porque se você entristecer, o que será de nós, os que somos permanentemente tristes? Se você agora chora, que será de nós, que estamos aprendendo a sorrir com a sua alegria? Você não tem o direito de sofrer, pelo menos por nós, e por amor a nós, não sofra mais.
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Aproximou-se, me deu um abraço, encostou a cabeça no meu ombro e chorou demoradamente. Doridamente, ele chorou.
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Igualmente emocionado, falei-lhe:
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- Perdoe-me, mas eu não esperava comovê-lo.
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- São lágrimas de felicidade. Pela primeira vez, eu sou feliz, porque agora eu me posso reabilitar. Estou aprendendo a consolar alguém. E a primeira pessoa a quem eu consolo é você.
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Suely Caldas Schubert \ Relato do Divaldo Franco 
 




 

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Inimigos Ocultos



Mencionamos, com muita frequência, que os inimigos exteriores são os piores expoentes de perturbação que operam em nosso prejuízo. 

Urge, porém, olhar para dentro de nós, de modo a descobrir que os adversários mais difíceis são aqueles de que não nos podemos afastar facilmente, por se nos alojarem no cerne da própria alma.

Dentre eles, os mais implacáveis são:

- o egoísmo, que nos tolhe a visão espiritual, impedindo vejamos as necessidades daqueles que mais amamos;

- o orgulho, que não nos permite acolher a luz do entendimento, arrojando-nos a permanente desequilíbrio;

- a vaidade, que nos sugere a super estimação do próprio valor, induzindo-nos a desprezar o merecimento dos outros;

- o desânimo, que nos impele aos precipícios da inércia;

- a intemperança mental, que nos situa na indisciplina;

- o medo de sofrer, que nos subtrai as melhores oportunidades de progresso, e tantos outros agentes nocivos que se nos instalam no Espírito, corroendo-nos a energias e depredando-nos a estabilidade mental.

Para a transformação dos adversários exteriores contamos, geralmente, com o amparo de amigos que nos ajudam a revisar relações, colaborando conosco na constituição de novos caminhos;

entretanto, para extirpar os que moram em nós, vale tão-somente o auxílio de DEUS, com o laborioso esforço de nós mesmos.

Reportando-nos aos inimigos externos, advertiu-nos JESUS que é preciso perdoar as ofensas setenta vezes sete vezes, e decerto que para nos descartarmos dos inimigos internos – todos eles nascidos na trevas da ignorância – prometeu-nos o Senhor: “conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres”, o que equivale dizer que só estaremos a salvo de nossas calamidades interiores,
através de árduo trabalho na oficina da educação.
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EMMANUEL
Chico Xavier 








quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Amparo Recíproco



Reforma íntima: duas palavras que enfeixam numerosos apelos à sublimação espiritual.

Não te enganes, porém.

Em nos referindo a esse imperativo da vida, coloquemo-nos todos na órbita de semelhante necessidade.

Não te julgues intangível.

Se ainda não sofreste o assédio dessa ou daquela tentação, é possível que o teu dia de luta, nesse sentido, aparecerá mais depressa do que pensas.

Esse amigo conquistou a honestidade, mas ainda não se livrou da sovinice.

Aquela irmã atingiu louvável equilíbrio sentimental, no entanto, ainda carrega consigo grande peso de orgulho.

Outro amigo é um modelo de generosidade, contudo, não perdoa a mínima ofensa.

Determinada companheira é um retrato da dedicação, em família, mas converte-se facilmente em franca representação do egoísmo, em se tratando do interesse dos outros.

Esse irmão alcançou alto grau de cultura, entretanto, não se contém perante certas tentações de caráter afetivo.

Encontramos outro que brilha na condição de autêntico herói do trabalho, no entanto, ainda não sabe afastar-se do propósito de empalmar os bens alheios, desde que encontre facilidade para isso.

Reportamo-nos ao assunto, a fim de anotar que, na Terra, somos todos necessitados da compaixão recíproca.

Analisemos os pontos frágeis da cidadela em que se nos oculta a personalidade e auxiliemo-nos uns aos outros.

Jesus nos dedicou um só mandamento:

-"Amai-vos uns aos outros como eu vos ameii."

E atrevemo-nos a crer que o Divino Mestre nos terá dito nas entrelinhas:

"Perdoai-vos uns aos outros como eu vos perdoei."

Senhor!...

Concede-me forças para irradiar a paz e o amor que nos ensinaste.
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Meimei & Francisco Cândido Xavier 
 








quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Edificação do Reino


Nem na alegria excessiva que ensurdece.
Nem na tristeza demasiada que deprime.
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Nem na ternura incondicional que prejudica.
Nem na severidade indiscriminada que destrói.
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Nem na cegueira afetiva que jamais corrige.
Nem no rigor que resseca.
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Nem no absurdo afirmativo que é dogma.
Nem no absurdo negativo que é vaidade.
*
Nem nas obras sem fé que se reduzem a pedra e pó.
Nem na fé sem obras que é estagnação da alma.
*
Nem no movimento sem ideal de elevação que é cansaço vazio.
Nem no ideal de elevação sem movimento que é ociosidade brilhante.
*
Nem cabeça excessivamente voltada para o firmamento com inteira despreocupação do valioso trabalho na Terra.
Nem pés definitivamente chumbados ao chão do Planeta com integral esquecimento dos apelos do Céu.
*
Nem exigência a todo instante.
Nem desculpa sem-fim.
*
O Reino Divino não será concretizado na Terra, através de atitudes extremistas.
O próprio Mestre asseverou-nos que a sublime realização está no meio de nós.
A edificação do Reino Divino é obra de aprimoramento, de ordem, esforço e aplicação aos desígnios do Mestre, com bases no trabalho metódico e na harmonia necessária.

Não te prendas excessivamente às dificuldades do dia de ontem, nem te inquietes demasiado pelos prováveis obstáculos de amanhã.
Vive e age bem no dia de hoje, equilibra-te e vencerás.
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Emmanuel
Chico Xavier 






terça-feira, 28 de outubro de 2014

Você busca comunhão com Deus?





Não há quem, em dado momento, não anseie por este encontro. 
É um desejo natural. De criatura e criador, de filho e mãe.

Mas, como fazer isto?

Para comungar com Deus, busque-O através dos outros. 
Conversando amorosamente com eles, sentindo-os, ajudando-os, você se comunica com a força divina que há neles e, consequentemente, desperta e exercita a mesma força que reside em você.

Dá-se, aí, o esperado encontro com Deus.

Quando encontrá-lo, porém, não perca tempo em entendê-lo, busque simplesmente amá-lo.
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Lourival Lopes






segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Examina-te


Faze um exame de consciência, quando possas e quantas vezes te seja viável.

Muitas queixas e reclamações desapareceriam se o descontente analisasse melhor o próprio
comportamento.

Sempre se vê o problema na outra pessoa e o erro estampado no semblante do outro.

Normalmente, quando alguém te cria dificuldades e embaraços está reagindo contra a tua
conduta, à forma como te expressaste e à maneira como agiste.

Tem a coragem de examinar-te com mais severidade, rememorando atitudes e palavras.

Ao descobrires erros, apressa-te em corrigi-los;
busca aquele a quem magoaste e recompõe a situação.
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Joanna de Ângelis










domingo, 26 de outubro de 2014

Convivendo com os mentores espirituais




Muitos espiritualistas têm uma visão equivocada sobre a tarefa dos nossos amigos espirituais, chamados de mentores, guias, amparadores, anjos da guarda, etc. Tratam os benfeitores como se fossem babás ou guarda-costas particulares e acham que eles estão ao nosso dispor o tempo todo, nos acompanhando sempre que quisermos. Será que é assim que acontece, mesmo, ou é só carência da nossa parte?

Allan Kardec abordou este assunto em O Livro dos Espíritos. Na questão 491, pela tradução de Salvador Gentile (IDE), lemos:

“Qual é a missão do Espírito protetor? 
– A de um pai sobre seus filhos: guiar seu protegido no bom caminho, ajudá-lo com seus conselhos, consolar suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida.”


É aí que temos de tomar cuidado para não interpretarmos mal. O conceito de um Deus-pai, tão fortemente arraigado na cultura e religiosidade ocidental, também aparece na obra kardequiana, devido à influência que a moral cristã tem sobre a obra.


A ideia de pai, aqui, se refere ao sentimento de carinho e, ao mesmo tempo, à postura de quem tem mais experiência para nos auxiliar. Mas, se relermos a resposta atentamente, veremos que em nenhum momento diz que a missão dos espíritos protetores é a de “fazer tudo pelo sucesso financeiro, amoroso, etc. do protegido; protegê-lo de todas as encrencas em que ele mesmo se mete; assumir a culpa pelos desequilíbrios psicoemocionais do protegido; livrá-lo dos vícios que ele mesmo faz questão de manter; dizer o que deve fazer na vida, acabando com o livre-arbítrio do protegido; fazer as escolhas que compete ao encarnado fazer, eximindo-o de toda responsabilidade e, consequentemente, de todo aprendizado; etc.” É isso o que diz a questão 491?

Mais adiante, na questão 495, lemos:


“O Espírito protetor abandona alguma vezes seu protegido quando este é rebelde aos seus conselhos?

– Ele se afasta quando vê seus conselhos inúteis, e que a vontade de sofrer a influência dos Espíritos inferiores é mais forte. Todavia, não o abandona completamente, e se faz sempre ouvir, sendo, então, o homem que fecha os ouvidos. Ele retorna, desde que chamado. (...)”

Como podemos ver, as escolhas – boas ou ruins – são sempre nossas. Por mais que um guia espiritual possa te inspirar, por mais que um assediador possa te induzir ou um obsessor te prejudicar, é sempre nós que fazemos as escolhas, porque espírito algum tem poder para lhe tirar o livre-arbítrio.


Tem gente que se pergunta: “Poxa! Por que ‘meu’ guia espiritual me deixou entrar nessa roubada...” Pois é! Talvez algum benfeitor espiritual tenha tentado te inspirar; possivelmente, sua própria consciência tenha mostrado como deveria agir... mas, seus vícios, fraquezas, comodismo, vaidade, egoísmo, raiva, mágoa, etc. tenham sido mais fortes do que a voz do seu querido “anjo da guarda”.


Lembre-se: semelhante atrai semelhante. Se você quer tanto desfrutar a presença dos benfeitores espirituais, seja em determinados momentos do dia (ninguém está à nossa disposição o tempo todo) ou durante a emancipação da alma (viagem astral), procure estar em sintonia psicoemocional com eles. Caso contrário, eles até poderão estar ao seu lado, mas você não perceberá a presença deles. E isso pode ocorrer após a morte do corpo físico também. O fato de estar desencarnado não significa que você pode interagir com seu guia espiritual, se não estiver na mesma sintonia e receptivo à presença dele.

Paz e luz!
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Escrito por Victor Rebelo