sábado, 1 de julho de 2017

Adversários



Quando o Mestre nos recomendou amor aos inimigos, (Mt) não nos induziu à genuflexão improdutiva à frente dos nossos adversários.

  Ninguém precisa oscular o lodo escuro do pântano a fim de auxiliá-lo.

  Ninguém necessita introduzir um espinho no próprio coração, a pretexto de aniquilar-lhe a expressão dilacerante.

  O Senhor pede entendimento.

  Imaginemo-nos na posição dos nossos inimigos, gratuitos ou não, e observemos como seria a nossa conduta se estivéssemos em lugar deles.

  Permanecerá o nosso adversário em nossa posição de madureza espiritual quando conseguirmos examiná-lo com segurança moral?

  Terá tido as mesmas oportunidades de que já dispomos para conhecer a verdade e semear o bem?

  Guardaríamos o coração sem fel se nos demorássemos na posição onde se encontram, muitas vezes, dominados pela ignorância ou pelo desespero?

  Assumiríamos conduta diferente daquela que lhes assinala as atividades, se fôssemos constrangidos a atravessar a zona empedrada em que jornadeiam?

Dificilmente chegaríamos a conclusões afirmativas.

  Jesus, por isso, pede, acima de tudo, esquecimento do mal e disposição sincera para o bem, com atitudes positivas de boa vontade, a fim de que os nossos adversários nos identifiquem, com mais clareza, as boas intenções.

  Recebamos o inimigo como instrutor e auxiliá-lo-emos a dilatar a visão que lhe é própria.

  A compreensão é a raiz da verdadeira fraternidade.

  Aprendamos, assim, a perceber a luz onde a luz se encontra, a fim de que nos armemos contra o poderio das trevas em nosso coração.

  A boa vontade realiza milagres em nossa vida, se estamos realmente dispostos a caminhar para os cimos da vida.

  Lembremo-nos de que Jesus, até hoje, está trabalhando no auxílio aos inimigos e o único caminho por Ele escolhido para esse apostolado de amor, é o caminho do sentimento, 16 porque só aquele que sabe conquistar o coração dos adversários pela cooperação e pela boa vontade pode, efetivamente, inflamar-se ao Sol do Amor Eterno, com a vitória sobre si mesmo, na subida espinhosa e santificante para a Glória Imortal.
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Emmanuel 
Chico Xavier


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MENSAGEM DO ESE

A indulgência (III)

Caros amigos, sede severos convosco, indulgentes para as fraquezas dos outros. É esta uma prática da santa caridade, que bem poucas pessoas observam. Todos vós tendes maus pendores a vencer, defeitos a corrigir, hábitos a modificar; todos tendes um fardo mais ou menos pesado a alijar, para poderdes galgar o cume da montanha do progresso. Por que, então, haveis de mostrar-vos tão clarividentes com relação ao próximo e tão cegos com relação a vós mesmos? Quando deixareis de perceber, nos olhos de vossos irmãos, o pequenino argueiro que os incomoda, sem atentardes na trave que, nos vossos olhos, vos cega, fazendo-vos ir de queda em queda? Crede nos vossos irmãos, os Espíritos. Todo homem, bastante orgulhoso para se julgar superior, em virtude e mérito, aos seus irmãos encarnados, é insensato e culpado: Deus o castigará no dia da sua justiça. O verdadeiro caráter da caridade é a modéstia e a humildade, que consistem em ver cada um apenas superficialmente os defeitos de outrem e esforçar-se por fazer que prevaleça o que há nele de bom e virtuoso, porquanto, embora o coração humano seja um abismo de corrupção, sempre há, nalgumas de suas dobras mais ocultas, o gérmen de bons sentimentos, centelha vivaz da essência espiritual.
Espiritismo! doutrina consoladora e bendita! felizes dos que te conhecem e tiram proveito dos salutares ensinamentos dos Espíritos do Senhor! Para esses, iluminado está o caminho, ao longo do qual podem ler estas palavras que lhes indicam o meio de chegarem ao termo da jornada: caridade prática, caridade do coração, caridade para com o próximo, como para si mesmo; numa palavra: caridade para com todos e amor a Deus acima de todas as coisas, porque o amor a Deus resume todos os deveres e porque impossível é amar realmente a Deus, sem praticar a caridade, da qual fez ele uma lei para todas as criaturas. — Dufêtre, bispo de Nevers. (Bordéus.)
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. X, item 18.)

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Anotações da fé



Se queres elevar-te e engrandecer a vida,

Alma querida, escuta:

De tudo o que produz, serve, ampara e abençoa,

Nada existe sem luta.
*

  Árvore alguma, seja em qualquer parte,

Fornecendo socorro e espalhando alimento,

Cresceu e se formou para doar-se à gleba,

Sem chicotes do vento.

*
  Se talhada em madeira, a mesa que te apoia

O pão de cada dia

Foi nobre vegetal arrebatado à gleba

Para aguentar a serraria.

*
  Pedra que te suporta a residência,

Resguardando o equilíbrio que a domina,

Passou por marteladas muitas vezes,

A fim de se ajustar à disciplina.
*

 Quem sonhe paraíso de alegria

Sem sair de poltronas e almofadas,

Quem foge de ser útil, quem se omite,

Olhe as águas paradas.

*
  Quem reclama sucesso sem controle,

Menosprezando o sentimento alheio,

Assista a uma corrida em que se note

Algum carro sem freio.

*
  Sem participação, sem sacrifício,

A construção da paz jamais se apruma,

Sem canseira não há felicidade,

Nem se obtém conquista alguma.

*
  Alma querida, serve, ama e confia,

Ajuda para o bem seja a quem for,

Trabalho é luz de Deus a burilar-nos

Para o Reino do Amor.
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Maria Dolores 
Chico Xavier

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MENSAGEM DO ESE:
O que se deve entender por pobres de espírito
Bem-aventurados os pobres de espírito, pois que deles é o reino dos céus. (S. MATEUS, cap. V, v. 3.)
 
A incredulidade zombou desta máxima: Bem-aventurados os pobres de espírito, como tem zombado de muitas outras coisas que não compreende. Por pobres de espírito Jesus não entende os baldos de inteligência, mas os humildes, tanto que diz ser para estes o reino dos céus e não para os orgulhosos.
Os homens de saber e de espírito, no entender do mundo, formam geralmente tão alto conceito de si próprios e da sua superioridade, que consideram as coisas divinas como indignas de lhes merecer a atenção. Concentrando sobre si mesmos os seus olhares, eles não os podem elevar até Deus. Essa tendência, de se acreditarem superiores a tudo, muito amiúde os leva a negar aquilo que, estando-lhes acima, os depreciaria, a negar até mesmo a Divindade. Ou, se condescendem em admiti-la, contestam-lhe um dos mais belos atributos: a ação providencial sobre as coisas deste mundo, persuadidos de que eles são suficientes para bem governá-lo. Tomando a inteligência que possuem para medida da inteligência universal, e julgando-se aptos a tudo compreender, não podem crer na possibilidade do que não compreendem. Consideram sem apelação as sentenças que proferem.
Se se recusam a admitir o mundo invisível e uma potência extra-humana, não é que isso lhes esteja fora do alcance; é que o orgulho se lhes revolta à idéia de uma coisa acima da qual não possam colocar-se e que os faria descer do pedestal onde se contemplam. Daí o só terem sorrisos de mofa para tudo o que não pertence ao mundo visível e tangível. Eles se atribuem espírito e saber em tão grande cópia, que não podem crer em coisas, segundo pensam, boas apenas para gente simples, tendo por pobres de espírito os que as tomam a sério.
Entretanto, digam o que disserem, forçoso lhes será entrar, como os outros, nesse mundo invisível de que escarnecem. É lá que os olhos se lhes abrirão e eles reconhecerão o erro em que caíram. Deus, porém, que é justo, não pode receber da mesma forma aquele que lhe desconheceu a majestade e outro que humildemente se lhe submeteu às leis, nem os aquinhoar em partes iguais.
Dizendo que o reino dos céus é dos simples, quis Jesus significar que a ninguém é concedida entrada nesse reino, sem a simplicidade de coração e humildade de espírito; que o ignorante possuidor dessas qualidades será preferido ao sábio que mais crê em si do que em Deus. Em todas as circunstâncias, Jesus põe a humildade na categoria das virtudes que aproximam de Deus e o orgulho entre os vícios que dele afastam a criatura, e isso por uma razão muito natural: a de ser a humildade um ato de submissão a Deus, ao passo que o orgulho é a revolta contra ele. Mais vale, pois, que o homem, para felicidade do seu futuro, seja pobre em espírito, conforme o entende o mundo, e rico em qualidades morais.
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VII, itens 1 e 2.)

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Remédio salutar


“Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros para que sareis.” 
— (Tiago 5.16) 

  A doença sempre constitui fantasma temível no campo humano, qual se a carne fosse tocada de maldição; entretanto, podemos afiançar que o número de enfermidades, essencialmente orgânicas, sem interferências psíquicas, é positivamente diminuto.

  A maioria das moléstias procede da alma, das profundezas do ser.  Não nos reportando à imensa caudal de provas expiatórias que invade inúmeras existências, em suas expressões fisiológicas, referimo-nos tão somente às moléstias que surgem, de inesperado, com raízes no coração.

  Quantas enfermidades pomposamente batizadas pela ciência médica não passam de estados vibratórios da mente em desequilíbrio?

  Qualquer desarmonia interior atacará naturalmente o organismo em sua zona vulnerável. Um experimentar-lhe-á os efeitos no fígado, outro, nos rins e, ainda outro, no próprio sangue.

  Em tese, todas as manifestações mórbidas se reduzem a desequilíbrio, desequilíbrio esse cuja causa repousa no mundo mental.

  O grande apóstolo do Cristianismo nascente foi médico sábio, quando aconselhou a aproximação recíproca e a assistência mútua como remédios salutares.   O ofensor que revela as próprias culpas, ante o ofendido, lança fora detritos psíquicos, aliviando o plano interno;   quando oramos uns pelos outros, nossas mentes se unem, no círculo da intercessão espiritual, e,   embora não se verifique o registro imediato em nossa consciência comum, há conversações silenciosas pelo “sem-fio” do pensamento.

  A cura jamais chegará sem o reajustamento íntimo necessário, e quem deseje melhoras positivas, na senda de elevação, aplique o conselho de Tiago; nele, possuímos remédio salutar para que saremos na qualidade de enfermos encarnados ou desencarnados.
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Emmanuel
Chico Xavier 


quarta-feira, 28 de junho de 2017

Oração da Caridade


Amigo!

Em meu manto, constelado de amor, guardo todas as criaturas.

  Tenho estado contigo, desde a hora primeira.

  Embalei-te o berço frágil.

  Acalentei-te nos beijos de tua mãe.

  Segui-te os passos na escola, orientei-te as mãos no trabalho.

  Venho ao teu encontro, por inspiração de Jesus, a quem obedeço, em nome do Pai Excelso.

  Com Ele estive, em todos os instantes de apostolado.

  Fui eu quem lavou as chagas dos leprosos tocados pelas Divinas Mãos, em sublime retorno à Luz.

  Reuni os pobres e os fracos, os desesperados e os oprimidos, para que Lhe ouvissem, na Terra, o Sermão da Montanha.

  Conversei com Zaqueu iludido pela vaidade da posse e abracei a Madalena, que os homens desprezavam…

  Fui ainda eu quem Lhe escutou a solicitação, nos tormentos da cruz, pedindo socorro e compreensão para Judas, o apóstolo desditoso!

  Procuro-te agora, suplicando asilo e cooperação.

  Alivia comigo as chagas dos que padecem e dar-te-ei o esquecimento das próprias dores.

  Cede-me tua palavra, para que o fel se extinga no mundo e entrega-me teus braços, para que o bem se espalhe vitorioso…

  Ouve-me e perceberás as revelações de Deus. Acompanha-me e conhecerás a felicidade.

  Não te detenhas. Ainda hoje necessito de ti, para que gemidos emudeçam e lágrimas se estanquem.
 Não importa o que tenhas sido. Importa que te rendas ao Cristo, para que a Terra te abençoe a passagem.

  Vem e socorre-me!

  Levanta-te e ajuda-me!

  Amando e servindo, chegaremos juntos à Glória Celestial.
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Emmanuel
Chico Xavier 


terça-feira, 27 de junho de 2017

O Carneiro Revoltado





Certo carneiro muito inteligente, mas indis­ciplinado, reparou os benefícios que a lã espa­lhava em toda parte, e, desde então, julgou-se melhor que os outros seres da Criação, passando a revoltar-se contra a tosquia.

- Se era tão precioso - pensava -, por­que aceitar a humilhação daquela tesoura enorme? Experimentava intenso frio, de tempos a tempos, e, despreocupado das ricas rações que recebia no redil, detinha-se apenas no exame dos prejuízos que supunha sofrer.

Muito amargurado, dirigiu-se ao Criador, exclamando:

- Meu Pai, não estou satisfeito com a minha pelagem. A tosquia é um tormento... Modifica-me, Senhor!...

O Todo-Poderoso indagou, com bondade:

- Que desejas que eu faça?

Vaidosamente, o carneiro respondeu:

- Quero que a minha lã seja toda de ouro.

A rogativa foi satisfeita. Contudo, assim que o orgulhoso ovino se mostrou cheio de pêlos preciosos, várias pessoas ambiciosas atacaram-no sem piedade. Arrancaram-lhe, violentamente, to­dos os fios, deixando-o em chagas.

O infeliz, a lastimar-se, correu para o Altís­simo e implorou:

- Meu Pai, muda-me novamente! não posso exibir lã dourada.., encontraria sempre salteadores sem compaixão.

O Sábio dos Sábios perguntou:

- Que queres que eu faça?

O animal, tocado pela mania de grandeza, suplicou:

- Quero que a minha lã seja lavrada em porcelana primorosa.

Assim foi feito. Entretanto, logo que tornou ao vale, apareceu no céu enorme ventania, que lhe quebrou todos os fios, dilacerando-lhe a carne.

Regressou, aflito, ao Todo-Misericordioso e queixou-se:

- Pai, renova-me!... A porcelana não re­siste ao vento... estou exausto...

Disse-lhe o Senhor:

- Que desejas que eu faça?

- A fim de não provocar os ladrões e nem ferir-me com porcelana quebrada, quero que a minha lã seja feita de mel.

O Criador satisfez o pedido. Todavia, logo que o pobre se achou no redil, bandos de moscas asquerosas cobriram-no em cheio e, por mais corresse campo afora, não evitou que elas lhe sugassem os fios adocicados.

O mísero voltou ao Altíssimo e implorou:

- Pai, modifica-me... as moscas deixa­ram-me em sangue!

O Senhor indagou, de novo, com inexaurível paciência:

- Que queres que eu faça?

Dessa vez, o carneiro pensou mais tempo e considerou:

- Suponho que seria mais feliz se tivesse minha lã semelhante às folhas de alface.

O Todo-Bondoso atendeu-lhe mais uma vez a vontade e o carneiro voltou à planície, na caprichosa alegria de parecer diferente. No entan­to, quando alguns cavalos lhe puseram os olhos, não conseguiu melhor sorte, Os equinos prende­ram-no com os dentes e, depois de lhe comerem a lã, abocanharam-lhe o corpo.

O carneiro correu na direção do Juiz Su­premo, gotejando sangue das chagas profundas, e, em lágrimas, gemeu, humilde:

- Meu Pai, não suporto mais!...

Como soluçasse longamente, o Todo-Com­passivo, vendo que ele se arrependera com sin­ceridade, observou:

- Reanima-te, meu filho! que pedes agora?

O infeliz replicou, em pranto:

- Pai, quero voltar a ser um carneiro co­mum, como sempre fui. Não pretendo a supe­rioridade sobre meus irmãos. Hoje sei que os meus tosquiadores de outro tempo são meus verdadeiros amigos. Nunca me deixaram em fe­ridas e sempre me deram de comer e beber, carinhosamente... Quero ser simples e útil, qual me fizeste, Senhor!...

O Pai sorriu, bondoso, abençoou-o com ter­nura e falou:

- Volta e segue teu caminho em paz. Com­preendeste, enfim, que meus desígnios são justos. Cada criatura está colocada, por minha Lei, no lugar que lhe compete e, se pretendes receber, aprende a dar.

Então o carneiro, envergonhado, mas satis­feito, voltou para o vale, misturou-se com os outros e daí por diante foi muito feliz.
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XAVIER, Francisco Cândido.
 Pelo Espírito Neio Lúcio.



segunda-feira, 26 de junho de 2017

No passeio matinal


Dionísio, o moleiro, muito cedo partiu em companhia do filhinho, na direção de grande milharal.

A manhã se fizera linda.

Os montes próximos pareciam vestidos em gaze esvoaçante.

As folhas da erva, guardando, ainda, o orvalho noturno, assemelhavam-se a caprichoso tecido verde, enfeitado de pérolas. Flores vermelhas, aqui e ali, davam a ideia de joias espalhadas no chão.

As árvores, muito grandes, à beira da estrada, despertavam, de leve, à passagem do vento.

O Sol aparecia, brilhante, revestindo a paisagem numa coroa resplandecente.

Reinaldo, o pequeno guiado pela mão paterna, seguia num deslumbramento. Não sabia o que mais admirar: se o lençol de neblina muito alva, se o horizonte inflamado de luz. Em dado momento, perguntou, feliz:

- Papai, de quem é todo este mundo?

- Tudo pertence ao Criador, meu filho -esclareceu o moleiro, satisfeito -;
 o Sol, o ar, as águas, as árvores e as flores, tudo, tudo, é obra dEle, nosso Pai e Senhor.

- Para que tudo isto? - continuou o petiz contente.

- A fim de recebermos esta escola divina, que é a Terra.

- Escola?

- Sim, filho - tornou o genitor paciente -,
 aqui devemos aprender, no trabalho, a amar-nos uns aos outros, aprimorando sentimentos, quanto devemos aperfeiçoar o solo que pisamos, transformando colinas, planícies e pedras em cidades, fazendas, estábulos, pomares, milharais e jardins.

Reinaldo não entendeu, de pronto, o que significava "aprimorar sentimentos"; contudo, sabia perfeitamente o que vinha a ser a remoção dum monte empedrado.
 Surpreso, voltou a indagar:
- Então, papai, somos obrigados a trabalhar tanto assim?
 Como será possível modificar este mundo tão grande?

O moleiro pensou alguns instantes e observou:

- Meu filho, já ouvi dizer que uma andorinha vagueava só, quando notou que um incêndio lavrava em seu campo predileto.
 O fogo consumia plantas e ninhos.
 Em vão, gritou por socorro.
Reconhecendo que ninguém lhe escutava as súplicas, pôs-se rápida para o córrego não distante, mergulhando as pequenas asas na água fria e límpida; daí, voltava para a zona incendiada, sacudindo as asas molhadas sobre as chamas devoradoras, procurando apagá-las.


O moleiro fêz uma pausa e interrogou o filho:

- Não acredita você que podemos imitar semelhante exemplo?
Se todos procedêssemos como a andorinha operosa e vigilante, em pouco tempo toda a Terra estaria transformada num paraíso.

O menino calou-se, entendendo a extensão do ensinamento e, no íntimo, contemplando a beleza do quadro matinal, desde as margens do caminho até a montanha distante, prometeu a si mesmo que procuraria cumprir no mundo todas as obrigações que lhe coubessem na obra sublime do Infinito Bem.
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Neio Lúcio 
Chico Xavier


domingo, 25 de junho de 2017

Exaltemos a vida


Não matarás — determina a Lei. (Ex)

  Não basta, porém, te prives de furtar o corpo aos semelhantes.

  Aprendamos a cultivar a vida, engrandecendo-a, aqui e além, hoje e sempre.

  Não mates o tempo com o veneno da inutilidade, porque pela sombra das horas que aniquilas em vão, serás visitado pelas trevas tentadoras da maldade e do crime, compelindo-te talvez, a investir muitos séculos do futuro em pesados compromissos.

  Não aniquiles a confiança do próximo com a lâmina da aspereza ou da ingratidão, de vez que pela dor do vizinho que menosprezas, podes ser constrangido a inquietantes padecimentos de reajuste.

  Não apagues o entusiasmo de teu irmão nas boas obras, nas quais nas sentimos atraídos pelo ideal superior, porquanto, o fel de teu pessimismo pode induzi-lo ao desânimo, estabelecendo aflitivos débitos em teu própria desfavor.

  Não extingas a fé que brilha no coração dos companheiros, manejando a lança do desapontamento ou da incompreensão, porque o frio em que envolveres a tarefa dos outros, será, mais tarde, neve de angústia e desencanto ao redor de teus passos.

  Não extermines a luz, a alegria, a paz, a esperança, o trabalho ou o otimismo dos que marcham contigo, lado a lado, na mesma senda de luta, na convicção de que a morte por tuas mãos será sempre morte a ti mesmo.

  Entronizemos a vida em nossa alma e adubemo-la com a nossa boa vontade na extensão do progresso e do serviço, da harmonia e do amor, e, ainda mesmo a pretexto de legítima defesa, abstenhamo-nos do mal, recordando, com o Divino Mestre que a cruz do supremo sacrifício será sempre brilhante ressurreição.
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Emmanuel 
Chico Xavier

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MENSAGEM DO E.S.E.
Carregar sua cruz. Quem quiser salvar a vida, perdê-la-á

Bem ditosos sereis, quando os homens vos odiarem e separarem, quando vos tratarem injuriosamente, quando repelirem como mau o vosso nome, por causa do Filho do Homem. — Rejubilai nesse dia e ficai em transportes de alegria, porque grande recompensa vos está reservada no céu, visto que era assim que os pais deles tratavam os profetas. (S. LUCAS, cap. VI, vv. 22 e 23.)
Chamando para perto de si o povo e os discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me; — porquanto, aquele que se quiser salvar a si mesmo, perder-se-á; e aquele que se perder por amor de mim e do Evangelho se salvará. — Com efeito, de que serviria a um homem ganhar o mundo todo e perder-se a si mesmo? (S. MARCOS, cap. VIII, vv. 34 a 36; — S. LUCAS, cap. IX, vv. 23 a 25; — S. MATEUS, cap. X, vv. 38 e 39; — S. JOÃO, cap. XII, vv. 25 e 26.)
“Rejubilai-vos, diz Jesus, quando os homens vos odiarem e perseguirem por minha causa, visto que sereis recompensados no céu.” Podem traduzir-se assim essas verdades: “Considerai-vos ditosos, quando haja homens que, pela sua má-vontade para convosco, vos dêem ocasião de provar a sinceridade da vossa fé, porquanto o mal que vos façam redundará em proveito vosso. Lamentai-lhes a cegueira, porém, não os maldigais.”
Depois, acrescenta: “Tome a sua cruz aquele que me quiser seguir”, isto é, suporte corajosamente as tribulações que sua fé lhe acarretar, dado que aquele que quiser salvar a vida e seus bens, renunciando-me a mim, perderá as vantagens do reino dos céus, enquanto os que tudo houverem perdido neste mundo, mesmo a vida, para que a verdade triunfe, receberão, na vida futura, o prêmio da coragem, da perseverança e da abnegação de que deram prova. Mas, aos que sacrificam os bens celestes aos gozos terrestres, Deus dirá: “Já recebestes a vossa recompensa.”
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXIV, itens 17 a 19.)