Estranhamente, a depressão é um convite da Vida ao contato do indivíduo com seu inconsciente para que algo internamente se transforme. Nela, forças internas se digladiam na tentativa de alterar a ordem vigente, a serviço da Vida que precisa acontecer. A luz característica do mundo externo, com seus objetos, processos e pessoas, os quais traziam motivação ao indivíduo, perde seu brilho, pois este é ofuscado por algo interno que exige atenção.
A depressão é um conjunto de desistências que enfraquecem o sentido e o objetivo que se tinha com a própria vida. É uma perda consciente da energia de viver.
Tais desistências são como protestos provocados por algo inconsciente que estava sendo esquecido. É a vida interna querendo ser vivida, infelizmente em prejuízo da vida externa, por falta de percepção adequada da pessoa.
Na depressão, o ego penetra perigosamente no inconsciente, fincando pequenas raízes que o retêm por tempo demasiado, sugando-lhe a energia de viver a vida externa. O receio de encarar seus próprios desafios o faz permanecer um tempo mais do que o suficiente vinculado a um complexo inconsciente.
Uma alquimia interna se realiza na depressão, na qual se fundem desejos, emoções e ideias que se tornam maiores do que o próprio indivíduo, tornando sua personalidade inábil para a vida externa. O indivíduo sucumbe a si mesmo, numa morbidez típica, que lhe suga as energias fomentadoras de experiências relacionais. A vida toma direção contrária ao processo de conexão com experiências externas, geralmente transformadoras e eliciadoras de novas atitudes.
No entanto, o que parece ser doentio tem sua face saudável. O que jaz no inconsciente não morreu. Ali está, à espera de transformação. Não se deve condenar a doença por ela existir, pois se trata de um mecanismo de equilíbrio da Vida, para que a vida se realize. O contato com o inconsciente visando a fuga da consciência é prejudicial. Quando o contato é feito objetivando a ampliação da consciência e seu necessário amadurecimento para o enfrentamento da vida e de seus desafios, ele proporciona evolução da personalidade.
Na depressão, o sentido da vida se polariza na direção oposta à extroversão da libido, pois esta é usada pelo complexo inconsciente não dissolvido. O conteúdo desse complexo está diretamente relacionado ao sentido da vida.
Alcançar esse complexo será fundamental, não só para o restabelecimento da saúde psíquica do indivíduo, como também para uma melhor percepção do sentido da vida. É sempre desejável que o indivíduo que sai de uma depressão, sinta-se muito melhor e mais maduro do que antes de entrar. Quando tal acontece, a depressão cumpriu seu objetivo. A depressão é um desafio à personalidade que se recusa a viver, permanecendo paralisada por medo de sofrer ou de perder o que conquistou.
Quando a pessoa permanece na doença, sofre e perde do mesmo jeito. Não há saída melhor do que enfrentar o que parece ser aversivo.
A personalidade que permanece na depressão nem sempre sabe quando entrou, porém deseja logo dela sair.
Infelizmente, não percebe que seu desejo muitas vezes situa-se num campo mágico de soluções imediatistas, sem o necessário contato com o inconsciente. O sentido da vida está à espera de ser desvendado para o alívio e crescimento do depressivo. Sua inércia o impede de subir um degrau além da ignorância sobre si mesmo.
As noites mal dormidas, a tristeza persistente, a falta de desejo, bem como o sentimento de desesperança, são companheiros tenazes do depressivo. Tudo isso porque não pretende entrar em contato consigo mesmo e dar um grande salto evolutivo. Romper com o egocentrismo, saindo da acomodação, é fundamental.
Um dos destinos do depressivo, que se demora no contato inconsequente com seu inconsciente e que evita a vida, é o atraso em relação aos seus entes mais queridos.
Todos se vão, realizando suas vidas e ele fica à espera de que se voltem para ele.
A depressão deve levar o indivíduo para além de onde ele esteve. Só ele sabe que prejuízo psíquico ela lhe trouxe.
Razão pela qual deve tirar proveito de ter ido ao “fundo do poço”. A causa considerada pelo próprio depressivo como o motivo principal de seu estado deve ser o ponto para o qual sua atenção deve se voltar. É nela que está a saída. Sobre ela devem ser feitas reflexões. Deve ele se perguntar até esgotar todas as respostas: O que a Vida quer me ensinar com isso? Enquanto não houver uma resposta que modifique o estado de espírito do indivíduo, a reflexão deve continuar.
A saída da depressão pode se dar através de diferentes maneiras e tratamentos. O melhor deles é quando o próprio indivíduo compartilha seu problema com alguém; quando divide o que lhe pesa, saindo do casulo para um entendimento com outra pessoa. Tal compartilhamento é o início do processo de cura. Dividir um conflito com alguém é multiplicar as chances de solução.
No fundo, o depressivo quer uma solução, mesmo que tenha a consciência de que está fugindo. Não sabe ele que sua pretensão maior só se dará quando decidir abandonar seu egocentrismo. Seu “fundo do poço” é seu isolamento total com respectivo sentimento de inutilidade.
Esse sentimento deve ser combatido com a humildade, pois se trata de uma exigência muito grande para consigo mesmo. Seu alto nível de exigência o impede de enfrentar a derrota ou a perda consciente, que são processos coletivos pelos quais todos passam.
O mito pessoal do depressivo se aproxima do tema do “patinho feio”, cujo desfecho é descobrir a beleza de ser um cisne. Até lá, passará por muitas provas e dificuldades, cujo término coincidirá com a descoberta de si mesmo.
Não é fácil aproveitar a depressão para crescer, mas é perfeitamente pertinente, estando em seu início, lembrar-se de que há, em curso, um convite da Vida para a renovação interior.
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Texto de Adenáuer Novaes
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