Reunião pública de 26 de Janeiro de 1959
Questão n.° 816 de “O Livro dos Espíritos”
Efetivamente, perante a visão da Esfera Espiritual, o homem afortunado na Terra surge sempre à feição de alguém que enorme risco ameaça.
Operários da evolução, a quem se confiou a mordomia do ouro, aqueles que detêm a finança comum afiguram-se-nos companheiros constantemente afrontados pelas perspectivas de desastre iminente, assim como os responsáveis pela condução da energia elétrica, em contato com agentes de alta tensão, ou, ainda, como os especialistas de laboratório, quando impelidos a manusear certa classe de vírus ou de venenos, com vistas à preservação e ao benefício do povo.
Considerando, porém, as inconveniências e desvantagens que assinalam a luta dos que foram chamados a transportar semelhantes cruzes amoedadas, é forçoso convir que o coração voltado para Jesus pode sustentar-se, nesse círculo de incessantes inquietações, na tarefa sublime da paz e da luz, da ascensão e da liberdade.
Isso porque, se o dinheiro nas garras da usura pode agravar os flagícios da orfandade e os tormentos da viuvez, nas mãos justas do bem converte o pauperismo em trabalho e o sofrimento em educação.
Se a riqueza entesourada sem o lucro de todos pode gerar o colapso do progresso, o centavo movimentado ao impulso da caridade é o avivamento do amor na Terra, por transformar-se, a cada minuto, no remédio ao enfermo necessitado, no livro renovador das vítimas do desânimo, no teto endereçado aos que vagueiam sem rumo e na gota de leite que tonifica o corpo subnutrido da criancinha sem lar.
Ninguém tema, desse modo, a grave responsabilidade da posse efêmera entre as criaturas humanas, mas que toda propriedade seja por nós recebida como empréstimo santo, cujos benefícios é preciso estender em proveito geral, atentos à lei de que a felicidade só é verdadeira felicidade quando respira na construção da felicidade devida aos outros.
Assim, pois, compreendamos, com a segurança da lógica e com a harmonia da sensatez, que, em verdade, não se pode servir a Deus e a Mamon, (Lc) mas que é nossa obrigação das mais simples colocar Mamon a serviço de Deus.
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Emmanuel
Chico Xavier
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MENSAGEM DO ESE:
O homem de bem
O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.
Deposita fé em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria. Sabe que sem a Sua permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas.
Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.
Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar.
Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar paga alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus interesses à justiça.
Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa.
O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus.
Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam.
Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguém, que não recua à idéia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor.
Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado.
É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: “Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado.”
Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.
Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera.
Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros.
Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado.
Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões.
Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus; usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna em que se encontram.
O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se empenha em cumpri-los conscienciosamente.
Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus.
Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas, aquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais conduz.
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(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 3.)
Embora todas as liberdades públicas que a Monarquia desenvolveu no
Brasil, a ideia de implantar a República no Brasil cresceu depois do dia
13 de maio de 1888 onde um membro da família real aboliu os escravos,
ferindo assim os interesses particulares de todas as classes
conservadoras.
No plano espiritual, Jesus reuniu as falanges
benditas de Ismael e dos seus dedicados colaboradores e, como no Sermão
da Montanha, anunciou que a Pátria do Evangelho (Brasil) estava
atingindo a maioridade coletiva e por causa disso, profundas
modificações assinalariam a sua parte social e política. As pátrias
devem ter, como tem os indivíduos, direito à mais ampla liberdade de
ação quando aprendem a exercitar seus próprios raciocínios. Que os
trabalhadores de Ismael (zelador escolhido por Jesus para, juntamente
com a sua falange, cuidar do progresso e o desenvolvimento do nosso
país), deveriam espalhar por toda extensão territorial da pátria
brasileira a Sua doutrina de redenção, de piedade e de misericórdia.
Eles ensinariam aos Seus novos discípulos encarnados a paciência e a
serenidade, a humildade e o amor, a paz e a resignação, para que a luta
seja vencida pela luz e pela verdade. Deveriam abrir a estrada da
revolução interior, cujo objetivo único é a reforma de cada um, sob o
fardo das provas, sem ser indisciplinado perante as leis do mundo e sem
usar armas homicidas. A proclamação da República Brasileira deveria
fazer-se sem derramamento de sangue. As mudanças deveriam se realizar
acima de todos os cultos religiosos. E todas as conquistas deveriam
estar fora da contaminação de qualquer intolerância ou intransigência
religiosa. Os discípulos do Evangelho sofreriam os efeitos dolorosos da
borrasca (temporal de pouca duração) em planejamento. Mas que Seus
trabalhadores estariam a postos sustentando o Brasil espiritual. Que
seriam Bem-aventurados todos os trabalhadores da seara divina da verdade
e do amor, pois deles é o reino imortal do plano espiritual.
Assim, as falanges do Infinito, sob as bondosas determinações do Divino
Mestre prepararam, então, o último acontecimento político, que se
verificaria com o seu amparo direto e que constituiria a proclamação da
República.
Todas as grandes cidades do país se entregam à propaganda aberta das ideias republicanas.
Os espíritos mais eminentes do país prepararam o grande acontecimento.
Entre os organizadores, prevaleceram os elementos positivistas (membros
da Igreja Positivista do Brasil, onde iniciou grande campanha
abolucionista republicana), para que as novas instituições não pecassem
pelos excessos da paixão sanguinolenta das intolerâncias religiosas e, a
15 de Novembro de 1889, com a bandeira do novo regime nas mãos de
Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva, Lopes Trovão, Serzedelo Corrêa,
Rui Barbosa e toda uma plêiade de inteligências cultas e vigorosas, o
Marechal Deodoro da Fonseca proclama, no Rio de Janeiro, a República dos
Estados Unidos do Brasil e assume o poder no País.
O grande
imperador recebe a notícia com amarga surpresa já que Deodoro era íntimo
de seu coração e de sua casa. Os instantes de surpresa, contudo, foram
rápidos. O nobre monarca não aceitou as sugestões dos apaixonados da
Coroa no sentido da reação. Confortado pelas luzes do Alto, que não o
abandonaram em toda a vida, D.Pedro II não permitiu que se derramasse
uma gota de sangue brasileiro. Preparou rapidamente sua retirada com a
família imperial para a Europa, obedecendo às imposições dos
revolucionários e, com lágrimas nos olhos, rejeita as elevadas somas de
dinheiro que o Tesouro Nacional lhe oferece, leva somente um pequeno
travesseiro recheado de terra brasileira para poder ser enterrado com
uma lembrança da Pátria do Cruzeiro que tanto amava.
Visitado
pelo Visconde de Ouro Preto, no mesmo dia em que chegava à capital
portuguesa, o imperador lhe declara com serena humildade:
- Em suma, estou satisfeito...
E, referindo-se à sua deposição, acrescenta:
- É a minha carta de alforria. Agora posso ir aonde quiser.
Naqueles amargurados dias, o generoso velhinho se encontrava às vésperas de desencarnar.
No Brasil, as forças militares que derrubaram a Monarquia, daria continuidade as tradições de amor e de liberdade.
Nunca a sua figura de chefe da família brasileira foi esquecida no
altar das lembranças da Pátria do Evangelho, e não só no Brasil. O
eminente político de Caracas, Dr. Rojas Paul, chamou em seu país o
Cônsul-Geral do Brasil, Múcio Teixeira para dizer-lhe:
- Senhor
Cônsul-Geral do Brasil, peça a Deus que a sua pátria, que foi governada
durante meio século por um sábio, não seja doravante levada pelo tacão
do primeiro ditador que se lhe apresente.
E, abraçando-o sensibilizado, concluiu:
- Acabou-se a única República que existia na América – o Império do Brasil.
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Rusumo de Rudymara, baseado no livro "Brasil, coração do mundo, pátria
do Evangelho", pelo Espírito Humberto de Campos e psicografado por Chico
Xavier
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Observação: Dom Pedro II, com 67 anos, segue sozinho para Paris, onde
fica hospedado no Hotel Bedford, onde passava o dia lendo e estudando.
As visitas à Biblioteca Nacional era seu refúgio. Em novembro de 1891,
doente não saia mais do quarto. morre no dia 5 de dezembro de 1891, em
consequência de uma pneumonia. Seus restos mortais são transladados para
Lisboa, e depositado no convento de São Vicente de Fora, junto aos da
esposa. Quando revogada a lei do banimento em 1920, os despojos dos
imperadores foram trazidos para o Brasil e depositados na catedral do
Rio de Janeiro em 1921. Em 1925, foram transferidos para Petrópolis.