Enquanto lá fora o desespero caminha e a amargura dizima, eu quero lhe dizer que lhe ofereço o Banquete do Amor!
Eu gostaria, Senhor, de ser a chuva generosa, que caísse na terra porosa e reverdecesse o chão.
Mas como eu não conseguirei, então eu lhe pedirei para ser um copo de água fria, matando a sede, a agonia de quem anda na desesperação!
Eu gostaria de ser como a Via Láctea de estrelas, para que as noites da Terra fossem mais belas.
Mas se eu não conseguir, eu lhe quero pedir para ser um pirilampo na noite escura, iluminando a amargura de quem anda na escuridão!
Eu gostaria de ser um jardim de flores, de todas as cores, para embelezar a Terra.
Mas na dor que a minh’alma encerra, se eu não puder ser um jardim, deixa-me ser uma rosa solitária, na fresta da montanha, colocando beleza no painel sob a natureza!
Eu gostaria de ser a montanha altaneira, que levasse a criatura inteira ao seu nobre fanal.
Nunca lograrei, então, eu lhe rogarei para ser uma pedra, pavimentando o chão por onde marche o herói, na conquista da amplidão!
Eu quero ser como a escada, que leva o triunfador ao seu fanal.
Mas se eu não puder, aqui eu estou, Senhor, para ser-lhe o primeiro degrau!
Eu gostaria de ser um trigal maduro, para repletar de pão a mesa da Humanidade, mas é demasiado para mim, então eu te peço para ser um grão que, caindo no chão, me multiplique no milhão e me transforme em pão para a sociedade.
Eu gostaria de ser um pomar de frutos maduros, para atender a estesia da criatura em agonia.
Mas, eu te venho pedir para ser uma árvore com galhos, projetando sombra na estrada, para que alguém, quando passar de mansinho, pelo meu caminho, eu lhe possa dizer:
- Olá amigo!
E se ele se voltar para trás e me inquirir:
E se ele se voltar para trás e me inquirir:
- O que é isso?
- Eu lhe possa contestar:
Soberba, dá-me tua mão! Sou teu amigo! Irei contigo...
- e lado a lado eu possa dizer:
- Senhor, eu gostaria de ser artista! Esteta! Trovador! Cantor! Musicista! Orador! Para falar da magia, da beleza, da Sua glória!
Mas, como nada sou, me falta o verbo, me falta a mestria, eu então lhe peço, Senhor, para ser o companheiro da criatura deserdada, que segue caminhando na estrada da alucinação!
E dando-lhe a mão de sustento, lhe dizer:
- Sou teu irmão! Estou contigo! Graças, Senhor, porque nasci! Graças, porque creio em ti! Pelo Seu Amor, obrigado, Senhor!
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Amélia Rodrigues
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