POBREZA - CASTIDADE – OBEDIÊNCIA
Eis os três votos de Francisco.
Será mesmo possível alguém viver em absoluta fidelidade a esses princípios? Não será isso utopia?
Em nome da própria verdade, poder-se-ia argumentar da seguinte maneira:
Pobreza é o oposto de riqueza, e se riqueza é progresso, logo pobreza pode ser decadência; pobreza é o contrário de conforto, e se conforto é bem-estar e bonança, logo, pobreza pode ser sofrimento e miséria.
Castidade é oposto de prazer, e se prazer é alegria, logo castidade pode ser tristeza; castidade é o contrário de fertilidade, e se fertilidade é crescimento e renovação, logo castidade pode ser atrofiamento e distorção.
Obediência é o oposto de comando, e se comando é determinação, logo obediência pode ser debilidade; obediência é o contrário de liderança e se liderança é coordenação e autoridade, logo obediência pode ser descontrole e fraqueza.
Este argumento é respeitável, porém, tendencioso e falho.
A razão mais alta, bafejada pelo amor, interpreta os três votos de outra forma:
Pobreza é riqueza, porque a alma vazia de preocupações materiais é invadida de valores espirituais; pobreza é evolução, porquanto o ser, livre do complexo de posse, passa a viver a sua realidade intrínseca, consciente da sua natural função no Universo.
A pobreza consciente não representa dor nem miséria. A riqueza dos homens que não sabem ser pobres é que produz fome e revolta. Quando os ricos do mundo decidirem ser pobres, isto é, desapegados, os bens da vida serão melhor distribuídos e haverá mais alegria em todos os corações.
Castidade é alegria, porque o espírito comedido e educado nas suas expansões, harmoniza-se com a Lei Natural e passa a desfrutar de prazeres em outra dimensão; castidade é fecundidade, porquanto a pessoa devidamente amadurecida, pode transferir seu potencial de energias para grandes realizações no campo da espiritualidade.
A castidade consciente não representa atrofiamento, nem degradação. O homem casto por maturação espiritual, de livre vontade, integrado com amor em tarefas de benemerência, é alguém capaz de contribuir largamente para a evolução do mundo.
Obediência é comando, porque não se trata de subordinação cega, servilismo. Obediência consciente é auto determinarão diante da Vontade de Deus.
Obediência, segundo o Evangelho, não significa desajuste ou fragilidade; é a virtude harmonia que favorece o perfeito funcionamento do Todo Universal. Quem obedece revitaliza suas forças internas, conquistando a simpatia dos semelhantes e a proteção do Pai.
Numa sociedade em que todos saibam obedecer, as frentes de liderança aos mais obedientes.
Estes inspiram mais confiança e estão mais afinados com a ordem da vida.
Alguém já disse que a razão é bule de duas asas: pode ser usado com a mão esquerda ou com a direita.
A civilização do futuro terá esta tônica: os cargos e as funções serão ocupados de acordo com as qualidades internas do homem.
O movimento franciscano, portanto, significou um clarão de valores incontestáveis.
Os três votos de Francisco de Assis foram os instrumentos de sua auto-realização.
"Ocultei em terreno infértil a semente de meu desejo para que nunca viesse a germinar. Ao lado construí minha cabana. Aguardei alguns dias, e vi que minha semente havia morrido, porque a terra não apresentou qualquer sinal. Mais tarde, porém, quando eu me achava distante, entregue às divagações de uma vida inoperante, a semente brotou, transformando-se em árvore, cujas raízes demoliram minha morada. Aprendi, desse modo, que as energias da alma não morrem, nem devem ser estioladas, e sim desenvolvidas na atmosfera do Bem."
Francisco de Assis
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