quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

O obreiro do Senhor



   Cada criatura mora espiritualmente na seara a que se afeiçoa.

  É assim que, se o justo arrecada prêmios da retidão, o delinquente, em qualquer parte, recolhe os frutos do crime.

  O obreiro do Senhor, por isso mesmo, onde surja, é conhecido por traços essenciais.

  Não cogita do próprio interesse.

  Não exige cooperação para fazer o bem.

  Não cria problemas.

  Não suspeita mal.

  Não cobra tributos de gratidão.

  Não arma ciladas.

  Não converte o serviço em fardo insuportável nos ombros do companheiro.

  Não transforma a verdade em lâmina de fogo no peito dos semelhantes.

  Não reclama santidade nos outros, para ser útil.

  Não fiscaliza o vintém que dá.

  Não espia os erros do próximo.

  Não promove o exame das consciências alheias.

  Não se cansa de auxiliar.

  Não faz greve por notar-se desatendido.

  Não desconhece as suas fraquezas.

  Não cultiva espinheiros de intolerância.

  Não faz coleção de queixas.

  Não perde tempo em lutas desnecessárias.

  Não tem a boca untada com veneno.

  Não sente cóleras sagradas.

  Não ergue monumentos ao derrotismo.

  Não se impacienta.

  Não se exibe.

  Não acusa.

  Não critica.

  Não se ensoberbece.

  Entretanto, frequentemente aparece na Seara Divina quem condene os outros e iluda a si mesmo, supondo-se na posse de imaginária dominação.

  O obreiro do Senhor, todavia, encarnado ou desencarnado, em qualquer senda de educação e em qualquer campo religioso, segue à frente, ajudando e compreendendo, perdoando e servindo, para cumprir-lhe, em tudo, a sacrossanta Vontade.
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 Emmanuel 
Chico Xavier


MENSAGEM DO ESE:
Preces pagas

Disse em seguida a seus discípulos, diante de todo o povo que o escutava: — Precatai-vos dos escribas que se exibem a passear com longas túnicas, que gostam de ser saudados nas praças públicas e de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos festins — que, a pretexto de extensas preces, devoram as casas das viúvas. Essas pessoas receberão condenação mais rigorosa. (S. LUCAS, cap. XX, vv. 45 a 47; S. MARCOS, cap. XII, vv. 38 a 40; S. MATEUS, cap. XXIII, v. 14.)

Disse também Jesus: não façais que vos paguem as vossas preces; não façais como os escribas que, “a pretexto de longas preces, devoram as casas das viuvas”, isto é, abocanham as fortunas. A prece é ato de caridade, é um arroubo do coração. Cobrar alguém que se dirija a Deus por outrem é transformar-se em intermediário assalariado. A prece, então, fica sendo uma fórmula, cujo comprimento se proporciona à soma que custe. Ora, uma de duas: Deus ou mede ou não mede as suas graças pelo número das palavras. Se estas forem necessárias em grande número, por que dizê-las poucas, ou quase nenhumas, por aquele que não pode pagar? É falta de caridade. Se uma só basta, é inútil dizê-las em excesso. Por que então cobrá-las? É prevaricação.

Deus não vende os benefícios que concede. Como, pois, um que não é, sequer, o distribuidor deles, que não pode garantir a sua obtenção, cobraria um pedido que talvez nenhum resultado produza? Não é possível que Deus subordine um ato de demência, de bondade ou de justiça, que da sua misericórdia se solicite, a uma soma em dinheiro. Do contrário, se a soma não fosse paga, ou fosse insuficiente, a justiça, a bondade e a demência de Deus ficariam em suspenso. A razão, o bom senso e a lógica dizem ser impossível que Deus, a perfeição absoluta, delegue a criaturas imperfeitas o direito de estabelecer preço para a sua justiça. A justiça de Deus é como o Sol: existe para todos, para o pobre como para o rico. Pois que se considera imoral traficar com as graças de um soberano da Terra, poder-se-á ter por lícito o comércio com as do soberano do Universo?


Ainda outro inconveniente apresentam as preces pagas: é que aquele que as compra se julga, as mais das vezes, dispensado de orar ele próprio, porquanto se considera quite, desde que deu o seu dinheiro. Sabe-se que os Espíritos se sentem tocados pelo fervor de quem por eles se interessa. Qual pode ser o fervor daquele que comete a terceiro o encargo de por ele orar, mediante paga? Qual o fervor desse terceiro, quando delega o seu mandato a outro, este a outro e assim por diante? Não será isso reduzir a eficácia da prece ao valor de uma moeda em curso?
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(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVI, itens 3 e 4.)

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