Escuta, alma querida,
Quando a prova te alcança
E o sofrimento te golpeia a vida,
Impondo-te cansaço e insegurança;
Quando a aflição te cerca e te subjuga,
Portas a dentro de teu próprio ser,
Sem apelos à fuga
Em que te possas esconder,
Indagas, quase sempre,
De ânimo frustrado
Revelando revolta amarga e triste:
— Se Deus é Amor Eterno e Ilimitado,
Por que razão a dor existe?
Por que ao sonho se seguem, com frequência,
O fel, o desengano, a desventura
Que nos induzem a existência
Ao vasto espinheiral
Em que a nossa esperança se enclausura?
E guardando-te, a sós, sob angústia mortal,
Certas vezes, de anseio em desalinho,
Quererias fugir de teu próprio caminho…
Entretanto, alma boa,
Se algo te feriu, não te agastes, perdoa…
E, sobretudo, raciocina
Que a dor lembra o esmeril da Lei Divina
Que, em nos tocando, nos aperfeiçoa.
Tudo o que te garante o próprio alento
Passou por disciplina e sofrimento.
Sem que a ovelha aceitasse os golpes da tosquia,
Não terias a lã que te guarda o calor;
Sem que o minério padecesse um dia
O fogo abrasador,
Não dispunhas da casa, em fina arquitetura,
Sobre vigas leais de sólida estrutura;
Sem árvores tombando, a rude corte,
Não fruías na própria residência
O ambiente ideal em que se te conforte
A energia precisa às lutas da existência;
A dentes de serrote, a natureza
Formou, em teu auxílio, o refúgio da mesa,
E o trigo que passou pela trituração,
Em qualquer tempo, é a base de teu pão.
Não acuses a dor que te procura
A fim de preparar-te a grandeza futura,
Sem ela que nos frena e regenera,
Estaríamos nós, provavelmente,
Na condição da fera
Sob a selvageria permanente.
Por fim, alma querida, considera:
De heróis que já tivemos,
Almas gigantes na sabedoria,
Corações a brilhar, nos ápices supremos
Da beleza imortal que se irradia
Dos tesouros do amor.
De todos os apóstolos da História
Que apontaram a Vida Superior
De que o mundo conserva algum indício,
Aquele que nos deu, constantemente,
O sentido da dor
Por fonte renascente
De ascensão e nobreza, vida e luz,
Com bases sobre o próprio sacrifício,
Esse herói foi Jesus.
********************************
Maria Dolores
Chico Xavier
MENSAGEM DO ESE:
O argueiro e a trave no olho
Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho? — Ou, como é que dizeis ao vosso irmão: Deixa-me tirar um argueiro ao teu olho, vós que tendes no vosso uma trave? — Hipócritas, tirai primeiro a trave ao vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão. (S. MATEUS, cap. VII, vv. 3 a 5.)
Uma das insensatezes da Humanidade consiste em vermos o mal de outrem, antes de vermos o mal que está em nós. Para julgar-se a si mesmo, fora preciso que o homem pudesse ver seu interior num espelho, pudesse, de certo modo, transportar-se para fora de si próprio, considerar-se como outra pessoa e perguntar: Que pensaria eu, se visse alguém fazer o que faço? Incontestavelmente, é o orgulho que induz o homem a dissimular, para si mesmo, os seus defeitos, tanto morais, quanto físicos. Semelhante insensatez é essencialmente contrária à caridade, porquanto a verdadeira caridade é modesta, simples e indulgente.
Caridade orgulhosa é um contra-senso, visto que esses dois sentimentos se neutralizam um ao outro. Com efeito, como poderá um homem, bastante presunçoso para acreditar na importância da sua personalidade e na supremacia das suas qualidades, possuir ao mesmo tempo abnegação bastante para fazer ressaltar em outrem o bem que o eclipsaria, em vez do mal que o exalçaria? Por isso mesmo, porque é o pai de muitos vícios, o orgulho é também a negação de muitas virtudes. Ele se encontra na base e como móvel de quase todas as ações humanas. Essa a razão por que Jesus se empenhou tanto em combatê-lo, como principal obstáculo ao progresso.
*************************
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. X, itens 9 e 10.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pelo comentário.