Vivemos a era do desenvolvimento científico e dos avanços tecnológicos.
No entanto, embora a satisfação e o conforto que os avanços proporcionam para a vida material, não conseguem preencher o vazio da alma.
O homem aspira qualquer coisa de superior, sonha com melhores instituições, deseja a vida, a felicidade, a igualdade, a justiça para todos.
Mas, como atingir tudo isso com os vícios da sociedade e, sobretudo, com o egoísmo imperando?
O homem sente a necessidade do bem para ser feliz e compreende que só o bem pode lhe dar a felicidade pela qual aspira.
Mas, como ocorrerá isso?
Ora, se o reino do bem é incompatível com o egoísmo, é preciso que o egoísmo seja destruído.
Mas, o que pode destruí-lo? A predominância do sentimento do amor, que leva os homens a se tratarem como irmãos e não como inimigos.
A caridade é a base, a pedra angular de todo edifício social. Sem ela o homem construirá sobre a areia.
Assim sendo, se faz urgente que os esforços e, sobretudo os exemplos de todos os homens de bem, a difundam.
Mas como exemplificar o bem num meio corrompido pela maldade, a violência, a corrupção?
Está nos desígnios de Deus que, por seus próprios excessos, as más paixões se destruam. O excesso de um mal é sempre o sinal de que chega ao seu fim.
No entanto, sem a caridade o homem constrói sobre a areia. Um exemplo torna isso compreensível.
Alguns homens bem intencionados, tocados pelos sofrimentos de uma parte de seus semelhantes, supuseram encontrar o remédio para o mal em certas doutrinas de reforma social.
Vida comunitária, por ser a menos custosa; comunidade de bens para que todos tenham a sua parte; nada de riquezas, mas, também, nada de miséria.
Tudo isso é muito sedutor para aquele que, não tendo nada, vê, antecipadamente, a bolsa do rico passar ao fundo comunitário sem cogitar que a totalidade das riquezas, postas em comum, criaria uma miséria geral ao invés de uma miséria parcial.
Que a igualdade, estabelecida hoje, seria rompida amanhã pela mobilidade da população e a diferença entre aptidões.
Que a igualdade permanente de bens supõe a igualdade de capacidades e de trabalho. Mas a questão não é examinar o lado positivo e o negativo desses sistemas.
O fato é que os autores, fundadores ou promotores de todos esses sistemas, sem exceção, não visaram senão a organização da vida material de uma maneira proveitosa a todos.
A finalidade é louvável, indiscutivelmente. Resta saber se, nesse edifício, não falta a base que, só ela, poderia consolidá-lo, admitindo-se que fosse praticável.
A vida comunitária é a abnegação mais completa da personalidade.
Ora, o móvel da abnegação e do devotamento é a caridade, isto é, o amor ao próximo.
Um sistema que, por sua natureza, requer para sua estabilidade virtudes morais no mais supremo grau, haveria que ter seu ponto de partida no elemento espiritual.
Pois muito bem, ele não o leva absolutamente em conta, já que o lado material é a sua finalidade exclusiva.
Isso quer dizer que são enfeitadas com o nome da fraternidade, mas a fraternidade, assim como a caridade, não se impõe nem se decreta, é algo que existe no coração e não será um sistema que a fará nascer.
Ao mesmo tempo em que isto ocorre, o defeito antagônico à fraternidade arruinará o sistema e o fará cair na anarquia, já que cada pessoa quererá tirar para si a melhor parte.
A experiência aí está, diante de nossos olhos, para provar que eles não extinguem nem as ambições nem a cobiça.
Os homens podem fundar colônias sob o regime da fraternidade tentando fugir ao egoísmo que os esmaga, mas o egoísmo seguirá com eles como vermes roedores.
E lá, onde se acham, haverá exploradores e explorados, se lhes falta a caridade.
Por todas essas razões é que nunca haverá reforma social que se sustente em sistemas que não levem em conta o elemento espiritual.
É incontestável que antes de fazer a coisa para os homens, é preciso formar os homens para a coisa, como se formam obreiros, antes de lhes confiar um trabalho.
Pensemos nisso!
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Redação do Momento Espírita, com base em discurso pronunciado por Allan Kardec,
nas reuniões gerais dos espíritas de Lyon e Bordeaux, do livro Viagem espírita em 1862,
ed. O clarim, 2. ed., pp.80-84.
Em 14.03.2008.
MENSAGEM DO ESE:
Destinação da Terra. Causas das misérias humanas
Muitos se admiram de que na Terra haja tanta maldade e tantas paixões grosseiras, tantas misérias e enfermidades de toda natureza, e daí concluem que a espécie humana bem triste coisa é. Provém esse juízo do acanhado ponto de vista em que se colocam os que o emitem e que lhes dá uma falsa idéia do conjunto. Deve-se considerar que na Terra não está a Humanidade toda, mas apenas uma pequena fração da Humanidade. Com efeito, a espécie humana abrange todos os seres dotados de razão que povoam os inúmeros orbes do Universo. Ora, que é a população da Terra, em face da população total desses mundos? Muito menos que a de uma aldeia, em confronto com a de um grande império. A situação material e moral da Humanidade terrena nada tem que espante, desde que se leve em conta a destinação da Terra e a natureza dos que a habitam.
Faria dos habitantes de uma grande cidade falsíssima idéia quem os julgasse pela população dos seus quarteirões mais íntimos e sórdidos. Num hospital, ninguém vê senão doentes e estropiados; numa penitenciária, vêem-se reunidas todas as torpezas, todos os vícios; nas regiões insalubres, os habitantes, em sua maioria são pálidos, franzinos e enfermiços. Pois bem: figure-se a Terra como um subúrbio, um hospital, uma penitenciaria, um sítio malsão, e ela é simultaneamente tudo isso, e compreender-se-á por que as aflições sobrelevam aos gozos, porquanto não se mandam para o hospital os que se acham com saúde, nem para as casas de correção os que nenhum mal praticaram; nem os hospitais e as casas de correção se podem ter por lugares de deleite.
Ora, assim como, numa cidade, a população não se encontra toda nos hospitais ou nas prisões, também na Terra não está a Humanidade inteira. E, do mesmo modo que do hospital saem os que se curaram e da prisão os que cumpriram suas penas, o homem deixa a Terra, quando está curado de suas enfermidades morais.
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(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. III, itens 6 e 7.)
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