domingo, 9 de outubro de 2016

REBELDIA


O pequeno rebelde amava a Mãezinha viúva com entranhado amor; entretanto, iludido pela indisciplina, dava ouvido, aos conselhos perversos.

Estimava a leitura de episódios sensacionais, em que homens revoltados formam quadrilhas de malfeitores, nas cidades grandes, e, a qualquer página edificante, preferia o folhetim com aventuras desagradáveis ou criminosas. Engolfou-se em tantas histórias de gente má que, embora a palavra materna o convidasse ao trabalho digno, trazia sempre respostas negativas e rudes na ponta da língua.

-Filho - exclamava a senhora paciente -, homem de bem acomoda-se no serviço.

-Eu não! - replicava, zombeteiro.

-Vamos à oficina. O chefe prometeu ceder-te um lugar.

-Não vou! não vou!...

- Mas já deixaste a escola, meu filho. É tempo de crescer e progredir nos deveres bem cumpridos.

-Não fui à escola, a fim de escravizar-me. Tenho inteligência.
Ganharei com menor esforço.

E enquanto a genitora costurava, até tarde, de modo a manter a casa modesta, o filho, já rapaz, vivia habitualmente na rua movimentada. Tomava alcoólicos em excesso e entregava-se a companhias perigosas que, pouco a pouco, lhe degradaram o caráter.

Chegava a casa, embriagado, altas horas da noite, muita vez conduzido por guardas policiais.

Vinha a devotada Mãe com o socorro de todos os instantes e rogava-lhe, no outro dia:
 
 -Filho, trabalhemos dignamente. Todo tempo é adequado à retificação dos nossos erros.

Atrevido e ingrato, resmungava: 
 
-A senhora não me entende. Cale-se. Só fala em dever, dever, dever...

A pobre costureira pedia-lhe calma, juízo e chorava, depois, em preces.

Avançando no vicio, o rapaz começou a roubar às escondidas. Assaltava instituições comerciais, onde sabia fácil o acesso ao dinheiro; e quando a Mãezinha, adivinhando-lhe as faltas, tentou aconselhá-lo, gritou:
 
 - Mãe, não preciso de suas observações! Deixá-la-ei em paz e voltarei, mais tarde, com grande fortuna. Dar-lhe-ei casa, roupa e bem-estar com fartura. A senhora tem o pensamento preso a obrigações porque, desde cedo, vem atravessando vida miserável.

Assim dizendo, fugiu para a via pública e não regressou ao lar.

Ninguém mais soube dele. Ausentara-se, definitivamente, em direção a importante metrópole, alimentando o propósito de furtar recursos alheios, de maneira a voltar muito rico ao convívio maternal.

Passou o tempo.

Um, dois, três, quatro, cinco anos...

A Mãezinha, contudo, não perdeu a esperança de reencontrá-lo.

Certo dia, a imprensa estampou nos jornais o retrato de um ladrão que se tornava famoso pela audácia e inteligência.

A costureira reconheceu nele o filho e tocou para a cidade que o abrigava.

A policia não lhe conhecia o endereço e, porque fosse difícil localizá-lo rapidamente, a senhora tomou ­quarto num hotel, a fim de esperar.

Na terceira noite em que aí se encontrava, notou que um homem embuçado lhe penetrava o aposento às escuras. Aproximou-se apressado para surripiar-lhe a bolsa. Ela tossiu e ia gritar por socorro, quando o ladrão, temendo as consequências, lhe agarrou a garganta e estrangulou-a.

Nos estertores da morte, a costureira reconheceu a presença do filho e murmurou, debilmente: 
 
- Meu... meu... filho...

Alucinado, o rapaz fez luz, identificou a Mãezinha já morta e caiu de joelhos, gritando de dor selvagem.

A desobediência conduzira-o, progressivamente, ao crime e à loucura.
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Neio Lúcio
 Chico Xavier
Obra: Alvorada cristã 




Um comentário:

  1. Triste saber que nos dias de hoje cada vez mais jovens estão seguindo o caminho do mal das coisas erradas.,.. caminhos muitas vezes sem volta

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Obrigada pelo comentário.