domingo, 6 de setembro de 2020

O argumento


 Ante os amados que te não compreendem, estimarias que todos cressem conforme crês.

 Alguns jazem desesperados nas trevas do pessimismo.

 Outros caem, pouco a pouco, no abismo da negação.

 Há muitos que te lançam insulto em rosto, como se a tua convicção fosse passo à loucura.

 E surpreendes, em cada canto, aqueles que te falam pelo diapasão da ironia.

 Mergulhas-te, muitas vezes, no oceano revolto das palavras veementes que os opositores, de imediato, não podem admitir; em outras ocasiões, desejas acontecimentos inusitados, que lhes alterem o modo de pensar e de ser.

 Entretanto, recordemos o Cristo.

 Ninguém, quanto ele, deixou na retaguarda tantas demonstrações de poder celeste.

 Deu nova estrutura à forma dos elementos.

 Apaziguou as energias desvairadas da Natureza.

 Reaqueceu corpos que a morte imobilizava.

 Restituiu a visão aos cegos.

 Restaurou paralíticos.

 Limpou feridentos.

 Curou alienados mentais.

 Operou maravilhas, somente atribuíveis à ciência divina.

 Contudo, não foi pelos deslumbramentos produzidos que se converteu em mentor excelso da Humanidade.


 Jesus agiganta-se, na esteira dos séculos, pela força ao exemplo.

 Anjo — caminhou entre os homens.

 Senhor do mundo — não reteve uma pedra para repousar a cabeça.

 Sábio — foi simples.

 Grande — alinhou-se entre os pequenos.

 Juiz dos juízes — espalhou a misericórdia.

 Caluniado — lançou bênçãos.

 Traído — não reclamou.

 Acusado — humilhou a si mesmo.

 Ferido — esqueceu toda ofensa.

 Injuriado — silenciou.

 Crucificado — pediu perdão para os próprios verdugos.

 Abandonado — voltou para auxiliar.


 Ação é voz que fala à razão.

 Se aspiras, assim, a convencer os que te rodeiam, quanto à verdade, não olvides que, acima de todos os fenômenos passageiros e discutíveis, o único argumento edificante de que dispões é o de tua própria conduta, no livro da própria vida.
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Emmanuel
Chico Xavier
Reunião pública de 22 de Janeiro de 1960
Item n.° 29 de “O Livro dos Médiuns”







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MENSAGEM DO ESE:

Preces pagas

Disse em seguida a seus discípulos, diante de todo o povo que o escutava: — Precatai-vos dos escribas que se exibem a passear com longas túnicas, que gostam de ser saudados nas praças públicas e de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos festins — que, a pretexto de extensas preces, devoram as casas das viúvas. Essas pessoas receberão condenação mais rigorosa. (S. LUCAS, cap. XX, vv. 45 a 47; S. MARCOS, cap. XII, vv. 38 a 40; S. MATEUS, cap. XXIII, v. 14.)

Disse também Jesus: não façais que vos paguem as vossas preces; não façais como os escribas que, “a pretexto de longas preces, devoram as casas das viuvas”, isto é, abocanham as fortunas. A prece é ato de caridade, é um arroubo do coração. Cobrar alguém que se dirija a Deus por outrem é transformar-se em intermediário assalariado. A prece, então, fica sendo uma fórmula, cujo comprimento se proporciona à soma que custe. Ora, uma de duas: Deus ou mede ou não mede as suas graças pelo número das palavras. Se estas forem necessárias em grande número, por que dizê-las poucas, ou quase nenhumas, por aquele que não pode pagar? É falta de caridade. Se uma só basta, é inútil dizê-las em excesso. Por que então cobrá-las? É prevaricação.

Deus não vende os benefícios que concede. Como, pois, um que não é, sequer, o distribuidor deles, que não pode garantir a sua obtenção, cobraria um pedido que talvez nenhum resultado produza? Não é possível que Deus subordine um ato de demência, de bondade ou de justiça, que da sua misericórdia se solicite, a uma soma em dinheiro. Do contrário, se a soma não fosse paga, ou fosse insuficiente, a justiça, a bondade e a demência de Deus ficariam em suspenso. A razão, o bom senso e a lógica dizem ser impossível que Deus, a perfeição absoluta, delegue a criaturas imperfeitas o direito de estabelecer preço para a sua justiça. A justiça de Deus é como o Sol: existe para todos, para o pobre como para o rico. Pois que se considera imoral traficar com as graças de um soberano da Terra, poder-se-á ter por lícito o comércio com as do soberano do Universo?

Ainda outro inconveniente apresentam as preces pagas: é que aquele que as compra se julga, as mais das vezes, dispensado de orar ele próprio, porquanto se considera quite, desde que deu o seu dinheiro. Sabe-se que os Espíritos se sentem tocados pelo fervor de quem por eles se interessa. Qual pode ser o fervor daquele que comete a terceiro o encargo de por ele orar, mediante paga? Qual o fervor desse terceiro, quando delega o seu mandato a outro, este a outro e assim por diante? Não será isso reduzir a eficácia da prece ao valor de uma moeda em curso?

(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVI, itens 3 e 4.)

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