Em meio ao burburinho ensurdecedor onde todos falam e nada se pode escutar, nos afastemos do gládio acalourado das palavras, nos recolhendo ao cantinho honroso de nossa insignificância, e humildemente façamos silêncio!
Sobre pesadas refregas verbais, onde forças contrárias digladiam entre si, não poupando nem a razão e tão pouco o bom senso, afastemo-nos sem demoras do gládio desnecessário das palavras, e humildemente façamos silêncio!
Perante os inimigos ferrenhos, que se levantam odiosos no interior do lar, ainda recalcitrantes sobre passados escabrosos, a nos arremessar o punhal fino das palavras, saibamos nos afastar do ricochete ferino das intenções, e humildemente façamos silêncio!
Perante os inimigos seculares que nos espreitam pelas vias comuns da vida, ansiosos por travar disputas acaloradas no campo das palavras, roubando-nos a paz e dilapidando o nosso equilíbrio, saibamos nos afastar destas provocações maliciosas e mesquinhas, e humildemente façamos silêncio.
Nas horas do dia em que a ansiedade quiser nos roubar a paz, arrojando-nos por sobre as discussões estéreis e improdutivas em torno do nada ou de coisa nenhuma, saibamos identificar a cilada das palavras, afastando-nos do caos destas discussões tão maléficas ao equilíbrio, e humildemente façamos silêncio.
E em fazendo silêncio, não deixemos a nossa mente ziguezaguear pelos pedregais do ódio, da raiva e das vinganças torpes. Imediatamente valendo-nos da profilaxia do silêncio, aproveitemos estes instantes para humildemente voltarmos ao Evangelho de Jesus, recordando o Meigo amigo a nos dizer:
"Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não; pois o que passa daí, vem do Maligno."*
Alma querida, saibamos trabalhar a humildade do silêncio, administrar o silêncio e valorizar o silêncio interior, lembrando que nas bocas vigilantes, não penetram as moscas do arrependimento.
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Scheilla
*MT 5.37
Médium
J Avellar
MENSAGEM DO ESE:
Os superiores e os inferiores
A autoridade, tanto quanto a riqueza, é uma delegação de que terá de prestar contas aquele que se ache dela investido. Não julgueis que lhe seja ela conferida para lhe proporcionar o vão prazer de mandar; nem, conforme o supõe a maioria dos potentados da Terra, como um direito, uma propriedade. Deus, aliás, lhes prova constantemente que não é nem uma nem outra coisa, pois que deles a retira quando lhe apraz. Se fosse um privilégio inerente às suas personalidades, seria inalienável. A ninguém cabe dizer que uma coisa lhe pertence, quando lhe pode ser tirada sem seu consentimento. Deus confere a autoridade a título de missão, ou de prova, quando o entende, e a retira quando julga conveniente.
Quem quer que seja depositário de autoridade, seja qual for a sua extensão, desde a do senhor sobre o seu servo, até a do soberano sobre o seu povo, não deve olvidar que tem almas a seu cargo; que responderá pela boa ou má diretriz que dê aos seus subordinados e que sobre ele recairão as faltas que estes cometam, os vícios a que sejam arrastados em conseqüência dessa diretriz ou dos maus exemplos, do mesmo modo que colherá os frutos da solicitude que empregar para os conduzir ao bem. Todo homem tem na Terra uma missão, grande ou pequena; qualquer que ela seja, sempre lhe é dada para o bem; falseá-la em seu princípio é, pois, falir ao seu desempenho.
Assim como pergunta ao rico: “Que fizeste da riqueza que nas tuas mãos devera ser um manancial a espalhar a fecundidade ao teu derredor”, também Deus inquirirá daquele que disponha de alguma autoridade: “Que uso fizeste dessa autoridade? Que males evitaste? Que progresso facultaste? Se te dei subordinados, não foi para que os fizesses escravos da tua vontade, nem instrumentos dóceis aos teus caprichos ou à tua cupidez; fiz-te forte e confiei-te os que eram fracos, para que os amparasses e ajudasses a subir ao meu seio.”
O superior, que se ache compenetrado das palavras do Cristo, a nenhum despreza dos que lhe estejam submetidos, porque sabe que as distinções sociais não prevalecem às vistas de Deus. Ensina-lhe o Espiritismo que, se eles hoje lhe obedecem, talvez já lhe tenham dado ordens, ou poderão dar-lhas mais tarde, e que ele então será tratado conforme os haja tratado, quando sobre eles exercia autoridade.
Mas, se o superior tem deveres a cumprir, o inferior, de seu lado, também os tem e não menos sagrados. Se for espírita, sua consciência ainda mais imperiosamente lhe dirá que não pode considerar-se dispensado de cumpri-los, nem mesmo quando o seu chefe deixe de dar cumprimento aos que lhe correm, porquanto sabe muito bem não ser lícito retribuir o mal com o mal e que as faltas de uns não justificam as de outrem. Se a sua posição lhe acarreta sofrimentos, reconhecerá que sem dúvida os mereceu, porque, provavelmente, abusou outrora da autoridade que tinha, cabendo-lhe, portanto, experimentar a seu turno o que fizera sofressem os outros. Se se vê forçado a suportar essa posição, por não encontrar outra melhor, o Espiritismo lhe ensina a resignar-se, como constituindo isso uma prova para a sua humildade, necessária ao seu adiantamento. Sua crença lhe orienta a conduta e o induz a proceder como quereria que seus subordinados procedessem para com ele, caso fosse o chefe. Por isso mesmo, mais escrupuloso se mostra no cumprimento de suas obrigações, pois compreende que toda negligência no trabalho que lhe está determinado redunda em prejuízo para aquele que o remunera e a quem deve ele o seu tempo e os seus esforços. Numa palavra: solicita-o o sentimento do dever, oriundo da sua fé, e a certeza de que todo afastamento do caminho reto implica uma dívida que, cedo ou tarde, terá de pagar.
— François-Nicolas-Madeleine, Cardeal Morlot. (Paris, 1863.)
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 9.)
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