domingo, 3 de junho de 2012

ALCOOLISTA e DESCUBRA SE VOCÊ É ALCOÓLATRA


GEBALDO JOSÉ DE SOUSA


Alcoolista há muitos anos.

Quando ébrio — e era esse seu estado natural —, não possuía consciência do tempo, dos fatos, da vida. Não chegou a essa situação de uma hora para outra. Começou bebendo socialmente com os “amigos”, que nessa fase ainda existem. Pouco a pouco, foi aumentando a sede, as doses e a periodicidade dos tragos foi encurtando. Os “amigos” foram sumindo, a pouco e pouco.

Deixava uma garrafa aqui, outra ali, sempre à mão, meio escondidas, pela consciência, pela certeza do erro que cometia. Sofria a família: a mulher, os filhos, os pais, os irmãos e os verdadeiros amigos.

Mas ele não percebia isso. E negava, quando lhe diziam que estava bebendo demais. Ele, um alcoólatra? De jeito nenhum! Sabia beber. Bebia socialmente. Hoje bem sabe que “Alcoolismo é também doença da negação”. O alcoolista não admite que é dependente do vício que, por isso, o domina e maltrata, submetendo-o às consequências que dele advem, para si e para seus dependentes. Mas, ao contrário do que dizia, excedia-se e ficava agressivo, verbal e fisicamente, ironizando os demais, agredindo-os, humilhando-os, menosprezando-os.

Assim agindo, afastava a todos. Foi ficando cada vez mais só. Nova desculpa para beber mais e mais.

Perdera muitos empregos e agora era impossível obter outro. Sua postura e seu hálito desaconselhavam qualquer contratação, não obstante ser profissional competente, quando sóbrio. 

Um acidente de trabalho levara-lhe dois dedos da mão direita, ao operar simples máquina. A saúde já não era a mesma. Tremiam-lhe as mãos, estava pálido, abatido e precocemente envelhecido. Não possuía mais carro. Estava livre de provocar acidentes por suas mãos. Mas várias vezes fora acidentado, ao atravessar ruas. Lesões, fraturas e internações, eram, amiúde, o resultado. 

O primeiro casamento fora destruído. As privações que impunha à família, os maus tratos, a má conduta, a desonra, as humilhações e o embrutecimento próprio tornaram-lhes insuportável sua companhia. 

Ainda bem que os filhos não lhe seguiram os maus exemplos, reconhece hoje!
Internado várias vezes em clínicas, inutilmente. Tornara-se peso para a família e para a sociedade. A segunda esposa desistira de recuperá-lo. Nem ligava para sua vida; ao que fizesse ou deixasse de fazer. Quando tinha problemas mais sérios com ele, chamava seu filho mais velho, que vivia em outra parte. Uma noite, acorda caído no chão, dentro de casa, e o filho estava lá — amava e ama esse filho, que o olhava com um misto de amor, angústia e impotência. Não esquecerá jamais aquele olhar, que lhe pesou na alma, tocando-o no íntimo do ser.

Para sair daquela posição incômoda, no chão, inventou que havia escorregado. Com vergonha, mentira. Vergonha imensa. Queria sumir. Em realidade, levantou-se e foi beber mais. Mas conseguiu, um dia, parar.

E foi aquele incidente — aquele olhar de compaixão e dor, do filho, ao vê-lo caído no chão — que despertou nele a necessidade de mudar; que o levou a admitir que era um alcoólico, dependente do vício,
enfermo, gravemente enfermo, carente de auxílio. Levado por um amigo, compareceu, alcoolizado, sem escutar e sem entender muita coisa, à sua primeira reunião nos Alcoólicos Anônimos. Mas fez planos de sair dali e ir beber mais, imediatamente. Deixaria de beber no dia seguinte.

Outro incidente, ocorrido naquela primeira reunião, foi fundamental para sua recuperação. Um baixinho feio, pobre, desdentado, desafiou-o, até de forma antifraterna — o que é incomum no A.A., onde todos são tratados com absoluto respeito e muito amor —, afirmando-lhe:

 — Você é ou não é homem para ficar sem beber 24 horas?

Para mostrar-lhe, àquele pilantra, de que era capaz, por vaidade, afinal, desde então não mais bebeu. Isto há vários anos. Recuperou-se com a ajuda de Alcoólicos Anônimos. Agradece a Deus, ao filho e àquele “baixinho” que o libertaram do vício. Hoje, tem o amor dos filhos; o respeito deles e por eles.
 Amor e respeito que são fatores fundamentais, sublimes, para recuperar quem se acha caído.

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Publicado no Reformador de agosto/02, p. 16
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  Por Cristina A. Marques

O que destingue quem bebe socialmente, de quem está se tornando alcoólatra e de quem já é alcoólatra?

Segundo o doutor Winfred Overholser, superintendente do St. Elizabeth’s Hospital, em Washington, “…as linhas que separam os que bebem socialmente daqueles que estão se tornando alcoólatras e os que já são alcoólatras é difícel de ser definido pois o mecanismo biológico do alcoolismo ainda é incerto. O que sabemos com segurança é que está interrelacionado com questões pessoais de predisposição genética, saúde emocional e ambiente social. No entanto, em termos genericos, podemos afirmar, com pouca margem de erro, que:

a) O bebedor social - bebe ocasionalmente; não procura motivos para beber; para de beber quando sente que já atingiu seu limite; às vezes vai a alguma evento social e não bebe nada – mesmo com muitos bebendo em sua volta; etc.

b) O provável futuro alcoólatra – bebe com frequência (seja diária ou mesmo só em finais de semanas); procura motivos para beber; têm dificuldade de parar depois do primeiro gole; acredita que pode parar de beber quando desejar; se irrita quando dizem que estar bebendo muito; ocasionalmente diz para si mesmo que vai parar de beber, mas volta a beber na primeira ocasião; troca de bebida (!?); costuma dizer que não é bom misturar bebidas (!?); procura beber depois das 12:00 Horas, mas ocasionalmente bebe antes do almoço; começa a faltar ou chegar atrasado no trabalho por causa de ressacas; iniciar a ter apagões (se lembrando ou não do que ocorreu antes; ocasionalmente esconde bebidas; etc.

c) O alcoólatra – bebe com frequência (independente de horas, locais ou motivações); não luta mais contra o vício; acha que alcoolismo não é doença; bebe tudo que contém álcool; apaga com frequência, nada lembrando ou lembrando-se pouco do que ocorreu antes; etc.



Como saber se você é alcoólatra?


O questionário guia utilizado pelo Alcoólicas Anônimos (organização internacional com mais de 2 milhões de membros – alcoólicas em recuperação – em mais 157 países), quando aplicado por especialistas da saúde ou mesmo se respondido com sinceridade quando auto-aplicado, nos mostra em que ponto do caminho do alcoolismo nos encontramos.

Apesar da simplicidade os 12 pontos abordados neste questionário possui margem de acerto superior a 97,8%. Vale a pena conferir:

1. Já tentou parar de beber por uma semana (ou mais), sem conseguir atingir seu objetivo?

Muitos de nós “largamos a bebida” muitas vezes antes de procurar ajuda. Fizemos sérias promessas aos nossos familiares e empregadores. Fizemos juramentos solenes. Nada funcionou. Agora não lutamos mais. Não prometemos nada a ninguém, nem a nós mesmos. Simplesmente esforçamo-nos para não tomar o primeiro gole hoje. Mantemo-nos sóbrios um dia de cada vez.

2. Ressente-se com os conselhos dos outros que tentam fazê-lo parar de beber?

Muitas pessoas tentam ajudar bebedores – problema. Porém, a maioria dos alcoólicos ressente-se com os “bons conselhos” que lhes dão. (não impomos esse tipo de conselho a ninguém. Mas, se solicitados, contaríamos nossa experiência e daríamos algumas sugestões práticas sobre como viver sem o álcool).

3. Já tentou controlar sua tendência de beber demais, trocando uma bebida alcoólica por outra?

Sempre procurávamos uma fórmula “salvadora” de beber. Passamos das bebidas destiladas para o vinho e a cerveja. Ou confiamos na água para “diluir” a bebida. Ou, então, tomamos nossos goles sem misturá-los. Tentamos ainda beber somente em determinadas horas. Porém, seja qual for a fórmula adotada, invariavelmente acabamos embriagados.

4. Tomou algum trago pela manhã nos últimos doze meses?

Estamos convencidos (por experiência própria) de que a resposta a esta pergunta fornece uma chave quase infalível sobre se uma pessoa está ou não a caminho do alcoolismo, ou já se encontra no limite da “normalidade” no beber.

5. Inveja as pessoas que podem beber sem criar problemas?

É óbvio que milhões de pessoas podem beber (às vezes muito) em seus contatos sociais sem causar danos sérios a si mesmos, ou a outros. Você parou alguma vez para perguntar-se por que, no seu caso, o álcool é, tão frequentemente, um convite ao desastre?

6. Seu problema de bebida vem se tornando cada vez mais sério nos últimos doze meses?

Todos os fatos médicos conhecidos indicam que o alcoolismo é uma doença progressiva. Uma vez que a pessoa perde o controle da bebida, o problema torna-se pior, nunca desaparece. O alcoólico só tem, ao fim, três alternativas: beber até morrer, ser internado num manicômio ou afastar-se do álcool em todas as suas formas. A escolha é simples.

7. A bebida já criou problemas no seu lar?

Muitos de nós dizíamos que bebíamos por causa das situações desagradáveis no lar. Raramente nos ocorria que problemas deste tipo são agravados, em vez de resolvidos, pelo nosso descontrole no beber.

8. Nas reuniões sociais onde as bebidas são limitadas, você tenta conseguir doses extras?

Quando tínhamos de participar de reuniões deste tipo, ou nos “fortificávamos” antes de chegar, ou conseguíamos geralmente ir além da parte que nos cabia. E, frequentemente, continuávamos a beber depois.

9. Apesar de prova em contrário, você continua afirmando que bebe e para quando quer?

Iludir a si mesmo parece ser próprio do bebedor problema. A maioria de nós que hoje nos encontramos., tentou parar de beber repetidas vezes sem ajuda de fora. Mas não conseguimos.

10. Faltou ao serviço, durante os últimos doze meses, por causa da bebida?

Quando bebíamos e perdíamos dias de trabalho na fábrica ou no escritório, frequentemente procurávamos justificar nossa “doença”. Apelamos para vários males para desculpar nossas ausências. Na verdade, enganávamos somente a nós mesmos.

11. Já experimentou alguma vez ‘apagamento’ durante uma bebedeira?

Os chamados “apagamentos” (em que continuamos funcionando sem contudo poder lembrar mais tarde do que aconteceu) parecem ser um denominador comum nos casos de muitos de nós que hoje admitimos ser alcoólicos. Agora sabemos muito bem quais os problemas que tivemos nesse estado “apagado” e irresponsável.

12. Já pensou alguma vez que poderia aproveitar muito mais a vida, se não bebesse?

Não podemos resolver todos os seus problemas. Porém, no que se refere ao alcoolismo, podemos mostrar-lhe como viver sem os “apagamentos”, as ressacas, o remorso ou o desconsolo que acompanham as bebedeiras desenfreadas. Uma vez alcoólico sempre alcoólico. Portanto, evitamos o “primeiro gole”. Quando se faz isto, a vida se torna mais simples, mais promissora e muitíssimo mais feliz.

Resultado

Se respondeu SIM a quatro ou mais questões, sinto dizer-lhe, mas ou você já é um alcoólatra ou brevemente o será! Esta categórica afirmação não é mera teoria, mas resultado de milhares de estudos, observações e experiências realizadas com alcoólicos recuperados.

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