sábado, 16 de dezembro de 2017

RENÚNCIA


O preço que o homem paga por renunciar aos seus desejos não é maior do que o que lhe é cobrado por satisfazê-los.

Se nega ao homem a obtenção do prazer imediato, a renúncia lhe proporciona felicidade mais duradoura.

Renunciar ao que se quer é a maneira de obter o que se deseja, sem violência ou precipitação.

A renúncia voluntária é apanágio dos santos e heróis que lograram superar a sua própria humanidade.

Sobre a fronte de quem renuncia, reluz a tiara espiritual de indiscutíveis méritos.

Quando se pronunciar a palavra “renúncia”, não nos esqueçamos de que, no Dicionário da Vida, a única que lhe é sinônimo é a palavra “mãe”!

Quem mais teria renunciado no instante do Calvário: Jesus, que renunciava a ficar com sua Mãe na Terra, ou Maria que renunciava acompanhar o seu Filho ao Céu?!

Somente consegue abrir mão de si quem já adentrou na posse de si mesmo.

A dificuldade que o homem tem de renunciar é que o impede de ser feliz.

Renunciar a qualquer tipo de posse é igualmente renunciar à dor.

O que a Lei Divina concede ao homem que renuncia à satisfação pessoal excede em valor e grandeza o objeto de sua renúncia, seja ele qual for.
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Irmão José (psic. Carlos Baccelli – do livro “Lições da Vida”)

MENSAGEM  DO ESE:
Perdão das ofensas


Quantas vezes perdoarei a meu irmão? Perdoar-lhe-eis, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes. Aí tendes um dos ensinos de Jesus que mais vos devem percutir a inteligência e mais alto falar ao coração. Confrontai essas palavras de misericórdia com a oração tão simples, tão resumida e tão grande em suas aspirações, que ensinou a seus discípulos, e o mesmo pensamento se vos deparará sempre. Ele, o justo por excelência, responde a Pedro: perdoarás, mas ilimitadamente; perdoarás cada ofensa tantas vezes quantas ela te for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si mesmo, que torna uma criatura invulnerável ao ataque, aos maus procedimentos e às injúrias; serás brando e humilde de coração, sem medir a tua mansuetude; farás, enfim, o que desejas que o Pai celestial por ti faça. Não está ele a te perdoar freqüentemente? Conta porventura as vezes que o seu perdão desce a te apagar as faltas? 

Prestai, pois, ouvidos a essa resposta de Jesus e, como Pedro, aplicai-a a vós mesmos. Perdoai, usai de indulgência, sede caridosos, generosos, pródigos até do vosso amor. Dai, que o Senhor vos restituirá; perdoai, que o Senhor vos perdoará; abaixai-vos, que o Senhor vos elevará; humilhai-vos, que o Senhor fará vos assenteis à sua direita.

Ide, meus bem-amados, estudai e comentai estas palavras que vos dirijo da parte dAquele que, do alto dos esplendores celestes, vos tem sempre sob as suas vistas e prossegue com amor na tarefa ingrata a que deu começo, faz dezoito séculos. Perdoai aos vossos irmãos, como precisais que se vos perdoe.
Se seus atos pessoalmente vos prejudicaram, mais um motivo aí tendes para serdes indulgentes, porquanto o mérito do perdão é proporcionado à gravidade do mal. Nenhum merecimento teríeis em relevar os agravos dos vossos irmãos, desde que não passassem de simples arranhões.
Espíritas, jamais vos esqueçais de que, tanto por palavras, como por atos, o perdão das injúrias não deve ser um termo vão. Pois que vos dizeis espíritas, sede-o. Olvidai o mal que vos hajam feito e não penseis senão numa coisa: no bem que podeis fazer. Aquele que enveredou por esse caminho não tem que se afastar daí, ainda que por pensamento, uma vez que sois responsáveis pelos vossos pensamentos, os quais todos Deus conhece. Cuidai, portanto, de os expungir de todo sentimento de rancor. Deus sabe o que demora no fundo do coração de cada um de seus filhos. Feliz, pois, daquele que pode todas as noites adormecer, dizendo: Nada tenho contra o meu próximo. — Simeão. (Bordéus, 1862.)



(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. X, item 14.)


quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Previne-te


Não te exponhas ao perigo da tentação.

Ainda não te conheces o suficiente, para saberes se resistirás.

Foge de tudo que te seja capaz de induzir o pensamento para o mal.

Imagens exteriores criam clichês mentais.

Não alimentes a imaginação doentia, acalentando desejos infelizes.

Quem cede o pouco acabará por ceder o muito.

Tudo começa na primeira vez.

Se te reconheces de vontade débil, afasta-te das pessoas que possam influenciar-te negativamente.

Não as escutes em excesso.

Quem se demora ouvindo conversas inconvenientes acaba por deixar-se sugestionar.
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Irmão José
Carlos Baccelli





MENSAGEM DO ESE:
O consolador prometido


Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: — O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. — Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito. (S. JOÃO, cap. XIV, vv. 15 a 17 e 26.)

Jesus promete outro consolador: o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, por não estar maduro para o compreender, consolador que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo há dito. Se, portanto, o Espírito de Verdade tinha de vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o Cristo não dissera tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse, é que o que este disse foi esquecido ou mal compreendido.

O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo: preside ao seu advento o Espírito de Verdade. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas fazendo compreender o que Jesus só disse por parábolas. Advertiu o Cristo: “Ouçam os que têm ouvidos para ouvir.” O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem alegorias; levanta o véu intencionalmente lançado sobre certos mistérios. Vem, finalmente, trazer a consolação suprema aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a todas as dores.
Disse o Cristo: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados.” Mas, como há de alguém sentir-se ditoso por sofrer, se não sabe por que sofre? O Espiritismo mostra a causa dos sofrimentos nas existências anteriores e na destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Mostra o objetivo dos sofrimentos, apontando-os como crises salutares que produzem a cura e como meio de depuração que garante a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer e acha justo o sofrimento. Sabe que este lhe auxilia o adiantamento e o aceita sem murmurar, como o obreiro aceita o trabalho que lhe assegurará o salário. O Espiritismo lhe dá fé inabalável no futuro e a dúvida pungente não mais se lhe apossa da alma. Dando-lhe a ver do alto as coisas, a importância das vicissitudes terrenas some no vasto e esplêndido horizonte que ele o faz descortinar, e a perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a resignação e a coragem de ir até ao termo do caminho.
Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança.



(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI, itens 3 e 4.)



quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

INCLUSIVE DEUS



Controla a tua ansiedade.

Não corras: caminha.

Procura fazer uma coisa de cada vez.

Não te aflijas pelo dia de amanhã.

Que, para ti, o relógio não seja uma obsessão.

Tens a eternidade pela frente.

Disciplina, sim, o teu tempo, mas não com inflexibilidade.

Por exigir em excesso de si, muitos terminam por anular-se.

Se fizeres com calma o que podes e sabes, o teu rendimento te surpreenderá.

Com perseverança, do pouco, aprenderás a fazer muito.

Por mais pretendas inverter a ordem natural, o fruto não vem antes da flor.

No Universo, tudo espera, inclusive Deus.
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Irmão José (psic. Carlos Baccelli – do livro “Pai, Perdoa-lhes!”)
MENSAGEM DO ESE:
Desigualdade das riquezas


A desigualdade das riquezas é um dos problemas que inutilmente se procurará resolver, desde que se considere apenas a vida atual. A primeira questão que se apresenta é esta: Por que não são igualmente ricos todos os homens? Não o são por uma razão muito simples: por não serem igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar. É, alias, ponto matematicamente demonstrado que a riqueza, repartida com igualdade, a cada um daria uma parcela mínima e insuficiente; que, supondo efetuada essa repartição, o equilíbrio em pouco tempo estaria desfeito, pela diversidade dos caracteres e das aptidões; que, supondo-a possível e durável, tendo cada um somente com que viver, o resultado seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e para o bem-estar da Humanidade; que, admitido desse ela a cada um o necessário, já não haveria o aguilhão que impele os homens às grandes descobertas e aos empreendimentos úteis. Se Deus a concentra em certos pontos, é para que daí se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as necessidades.

Admitido isso, pergunta-se por que Deus a concede a pessoas incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos. Ainda aí está uma prova da sabedoria e da bondade de Deus. Dando-lhe o livre-arbítrio, quis ele que o homem chegasse, por experiência própria, a distinguir o bem do mal e que a prática do primeiro resultasse de seus esforços e da sua vontade. Não deve o homem ser conduzido fatalmente ao bem, nem ao mal, sem o que não mais fora senão instrumento passivo e irresponsável como os animais. A riqueza é um meio de o experimentar moralmente. Mas, como, ao mesmo tempo, é poderoso meio de ação para o progresso, não quer Deus que ela permaneça longo tempo improdutiva, pelo que incessantemente a desloca. Cada um tem de possuí-la, para se exercitar em utilizá-la e demonstrar que uso sabe fazer dela. Sendo, no entanto, materialmente impossível que todos a possuam ao mesmo tempo, e acontecendo, além disso, que, se todos a possuíssem, ninguém trabalharia, com o que o melhoramento do planeta ficaria comprometido, cada um a possui por sua vez. Assim, um que não na tem hoje, já a teve ou terá noutra existência; outro, que agora a tem, talvez não na tenha amanhã. Há ricos e pobres, porque sendo Deus justo, como é, a cada um prescreve trabalhar a seu turno. A pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação; a riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da abnegação.

Deploram-se, com razão, o péssimo uso que alguns fazem das suas riquezas, as ignóbeis paixões que a cobiça provoca, e pergunta-se: Deus será justo, dando-as a tais criaturas? E exato que, se o homem só tivesse uma única existência, nada justificaria semelhante repartição dos bens da Terra; se, entretanto, não tivermos em vista apenas a vida atual e, ao contrário, considerarmos o conjunto das existências, veremos que tudo se equilibra com justiça. Carece, pois, o pobre de motivo assim para acusar a Providência, como para invejar os ricos e estes para se glorificarem do que possuem. Se abusam, não será com decretos ou leis suntuárias que se remediará o mal. As leis podem, de momento, mudar o exterior, mas não logram mudar o coração; daí vem serem elas de duração efêmera e quase sempre seguidas de uma reação mais desenfreada. A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho: os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade.



(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVI, item 8.)



terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Alienação mental



  Enquanto o vício se nos reflete no corpo, os abusos da consciência se nos estampam na alma, segundo a modalidade de nossos desregramentos.

  É assim que atravessam as cinzas da morte, em perigoso desequilíbrio da mente, quantos se consagraram no mundo à crueldade e à injustiça, furtando a segurança e a felicidade dos outros.

  Fazedores de guerra que depravaram a confiança do povo com peçonhento apetite de sangue e ouro,   legisladores despóticos que perverteram a autoridade,   magnatas do comércio que segregaram o pão, agravando a penúria do próximo,   profissionais do direito que buscaram torturar a verdade em proveito do crime,   expoentes da usura que trancafiaram a riqueza coletiva necessária ao progresso,  artistas que venderam a sensibilidade e a cultura, degradando os sentimentos da multidão,   e homens e mulheres que trocaram o templo do lar pelas aventuras da deserção, acabando no suicídio ou na delinquência, encarceram-se nos vórtices da loucura, penetrando, depois, na vida espiritual como fantasmas de arrependimento e remorso, arrastando consigo as telas horripilantes da culpa em que se lhes agregam os pensamentos.

 E a única terapêutica de semelhantes doentes é a volta aos berços de sombra em que, através da reencarnação redentora, ressurgem no vaso físico — cela preciosa de tratamento —, na condição de crianças-problemas em dolorosas perturbações.

 Todos vós, desse modo, que recebestes no lar anjos tristes, no eclipse da razão, conchegai-os com paciência e ternura, porquanto são, quase sempre, laços enfermos de nosso próprio passado, inteligências que decerto auxiliamos irrefletidamente a perder e que, hoje, retornam à concha de nossos braços, esmolando entendimento e carinho, para que se refaçam, na clausura da inibição e da idiotia, para a bênção da liberdade e para a glória da luz.
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Emmanuel 
Chico Xavier
Reunião pública de 23 de Janeiro de 1959 


Mensagem do ESE:
A nova era (II)
Um dia, Deus, em sua inesgotável caridade, permitiu que o homem visse a verdade varar as trevas. Esse dia foi o do advento do Cristo. Depois da luz viva, voltaram as trevas. Após alternativas de verdade e obscuridade, o mundo novamente se perdia. Então, semelhantemente aos profetas do Antigo Testamento, os Espíritos se puseram a falar e a vos advertir. O mundo está abalado em seus fundamentos; reboará o trovão. Sede firmes!

O Espiritismo é de ordem divina, pois que se assenta nas próprias leis da Natureza, e estai certos de que tudo o que é de ordem divina tem grande e útil objetivo. O vosso mundo se perdia; a Ciência, desenvolvida à custa do que é de ordem moral, mas conduzindo-vos ao bem-estar material, redundava em proveito do espírito das trevas. Como sabeis, cristãos, o coração e o amor têm de caminhar unidos à Ciência. O reino do Cristo, ah! passados que são dezoito séculos e apesar do sangue de tantos mártires, ainda não veio. Cristãos, voltai para o Mestre, que vos quer salvar. Tudo é fácil àquele que crê e ama; o amor o enche de inefável alegria. Sim, meus filhos, o mundo está abalado; os bons Espíritos vo-lo dizem sobejamente; dobrai-vos à rajada que anuncia a tempestade, a fim de não serdes derribados, isto é, preparai-vos e não imiteis as virgens loucas, que foram apanhadas desprevenidas à chegada do esposo.

A revolução que se apresta é antes moral do que material. Os grandes Espíritos, mensageiros divinos, sopram a fé, para que todos vós, obreiros esclarecidos e ardorosos, façais ouvir a vossa voz humilde, porquanto sois o grão de areia; mas, sem grãos de areia, não existiriam as montanhas.

Assim, pois, que estas palavras — “Somos pequenos” — careçam para vós de significação. A cada um a sua missão, a cada um o seu trabalho. Não constrói a formiga o edifício de sua república e imperceptíveis animálculos não elevam continentes? Começou a nova cruzada. Apóstolos da paz universal, que não de uma guerra, modernos São Bernardos, olhai e marchai para frente; a lei dos mundos é a do progresso. – Fénelon. (Poitiers, 1861.)



(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. I, item 10.)



segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

QUEDA


Só verdadeiramente caem aqueles que se acomodam no chão.

Em nossa trajetória evolutiva, a queda, por vezes, faz-se inevitável, mas, a pretexto disto, não devemos aceitá-la passivamente.

Ninguém cai para cair repetidas vezes; ao contrário, quem cai, cai para manter-se vigilante no equilíbrio necessário.

Sejamos condescendentes com as quedas alheias, mas não sejamos tolerantes em excesso com as nossas.

Quem tropeça e vai ao chão não deve ficar à espera de quem apareça para levantá-lo; reúna as energias que lhe sobraram e ponha-se de pé por seu próprio esforço e vontade.

Apenas caem os que estão, de alguma forma, tentando caminhar.

Aproveitemos as experiências da queda para avançarmos com segurança, evitando repetir os erros que cometemos, na certeza de que nos erguermos da queda consciente será sempre muito mais difícil.

A queda pela inteligência é mais penosa do que a queda pelo sentimento.

Quem tropeça no seu orgulho e cai, porque não admite que caiu, demorará longo tempo para levantar- se.

Paulo, o inesquecível apóstolo da Boa Nova, nos concita a caminhar à frente mesmo de joelhos desconjuntados.

Sejamos o bom samaritano de nós mesmos e nos levantemos, porque o mundo está repleto de sacerdotes e levitas que, vendo-nos estirados ao chão, seguirão adiante, indiferentes…
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Irmão José (psic. Carlos Baccelli – do livro “Lições da Vida”) 


MENSAGEM DO ESE:
A fé humana e a divina


No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade.

Até ao presente, a fé não foi compreendida senão pelo lado religioso, porque o Cristo a exalçou como poderosa alavanca e porque o têm considerado apenas como chefe de uma religião. Entretanto, o Cristo, que operou milagres materiais, mostrou, por esses milagres mesmos, o que pode o homem, quando tem fé, isto é, a vontade de querer e a certeza de que essa vontade pode obter satisfação. Também os apóstolos não operaram milagres, seguindo-lhe o exemplo? Ora, que eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas causas os homens de então desconheciam, mas que, hoje, em grande parte se explicam e que pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo se tornarão completamente compreensíveis? 

A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas faculdades à satisfação das necessidades terrenas, ou das suas aspirações celestiais e futuras. O homem de gênio, que se lança à realização de algum grande empreendimento, triunfa, se tem fé, porque sente em si que pode e há de chegar ao fim colimado, certeza que lhe faculta imensa força. O homem de bem que, crente em seu futuro celeste, deseja encher de belas e nobres ações a sua existência, haure na sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se operam milagres de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendures que se não chegue a vencer.

O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos singulares, qualificados outrora de milagres.

Repito: a fé é humana e divina. Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas. Um Espírito Protetor. (Paris, 1863.)

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(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 12.)


domingo, 10 de dezembro de 2017

Cristãos sem Cristo



“Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados que eu vos aliviarei.” 
— JESUS (Mateus, 11.28)
“Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem para onde vai e porque está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus, consola pela fé e pela esperança.” — (Cap. VI, 4)



  Reverencia o Divino Mestre, com todas as forças da alma, entretanto, não menosprezes honrá-lo na pessoa dos semelhantes.

  Guarda-lhe as memórias entre flores de carinho, mas estende os braços aos que clamam por ele, entre os espinhos da aflição.

  Esculpe-lhe as reminiscências nas obras-primas da estatuária, sem qualquer intuito de idolatria, satisfazendo aos ideais de perfeição que a beleza te arranca aos sonhos de arte, no entanto, socorre, pensando nele, aos que passam diante de ti, retalhados pelo cinzel oculto do sofrimento.

  Imagina-lhe o semblante aureolado de amor, ao fixá-lo nas telas em que se te corporifiquem os anseios de luz, mas suaviza o infortúnio dos que esperam por ele, nos quadros vivos da angústia humana.

  Proclama-lhe a glória imperecedoura no verbo eloquente, mas deixa que a sinceridade e a brandura te brilhem na boca, asserenando, em seu nome, os corações atormentados que duvidam e se perturbam entre as sombras da Terra.

  Grava-lhe os ensinamentos inesquecíveis, movimentando a pena que te configura as luminosas inspirações, no entanto, assinala as diretrizes dele com a energia renovadora dos teus próprios exemplos.

  Dedica-lhe os cânticos de fidelidade e louvor que te nascem da gratidão, mas ouve os apelos dos que jazem detidos nas trevas, suplicando-lhe liberdade e esperança.

  Busca-lhe a presença, no culto da prece, rogando-lhe apoio e consolação, no entanto, oferece-lhe mãos operosas no auxílio aos que varam o escuro labirinto da agonia moral, para os quais essa ou aquela ninharia de tuas facilidades constitui novo estímulo à paciência.

  Através de numerosas reencarnações, temos sido cristãos sem Cristo.

  Conquistadores, não nos pejávamos de implorar-lhe patrocínio aos excessos do furto.

  Latifundiários cruéis, não nos envergonhávamos de solicitar-lhe maior número de escravos que nos atendessem ao despotismo, em clamorosos sistemas de servidão.

 Piratas, dobrávamos insensatamente os joelhos para agradecer-lhe a presa fácil.

  Guerreiros, impetrávamos dele, em absoluta insanidade, nos inspirasse o melhor modo de oprimir.

  Agora que a Doutrina Espírita no-lo revela por mentor claro e direto da alma, ensinando-nos a responsabilidade de viver, é imperioso saibamos dignificá-lo na própria consciência, acima de quaisquer demonstrações exteriores, procurando refleti-lo em nós mesmos. Entretanto, para que isso aconteça, é preciso, antes de tudo, matricular o raciocínio na escola da caridade, que será sempre a mestra sublime do coração.
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Emmanuel 
Chico Xavier


MENSAGEM DO ESE:
Aquele que se eleva será rebaixado (III)

Jesus entrou em dia de sábado na casa de um dos principais fariseus para aí fazer a sua refeição. Os que lá estavam o observaram. — Então, notando que os convidados escolhiam os primeiros lugares, propôs-lhes uma parábola, dizendo: “Quando fordes convidados para bodas, não tomeis o primeiro lugar, para que não suceda que, havendo entre os convidados uma pessoa mais considerada do que vós, aquele que vos haja convidado venha a dizer-vos: dai o vosso lugar a este, e vos vejais constrangidos a ocupar, cheios de vergonha, o último lugar. — Quando fordes convidados, ide colocar-vos no último lugar, a fim de que, quando aquele que vos convidou chegar, vos diga: meu amigo, venha mais para cima. Isso então será para vós um motivo de glória, diante de todos os que estiverem convosco à mesa; — porquanto todo aquele que se eleva será rebaixado e todo aquele que se abaixa será elevado.” (S. LUCAS, cap. XIV, vv. 1 e 7 a 11.)

Estas máximas decorrem do princípio de humildade que Jesus não cessa de apresentar como condição essencial da felicidade prometida aos eleitos do Senhor e que ele formulou assim: “Bem-aventurados os pobres de espírito, pois que o reino dos céus lhes pertence.” Ele toma uma criança como tipo da simplicidade de coração e diz: “Será o maior no reino dos céus aquele que se humilhar e se fizer pequeno como uma criança, isto é, que nenhuma pretensão alimentar à superioridade ou à infalibilidade.

A mesma idéia fundamental se nos depara nesta outra máxima: Seja vosso servidor aquele que quiser tornar-se o maior, e nesta outra: Aquele que se humilhar será exalçado e aquele que se elevar será rebaixado.
Espiritismo sanciona pelo exemplo a teoria, mostrando-nos na posição de grandes no mundo dos Espíritos os que eram pequenos na Terra; e bem pequenos, muitas vezes, os que na Terra eram os maiores e os mais poderosos. E que os primeiros, ao morrerem, levaram consigo aquilo que faz a verdadeira grandeza no céu e que não se perde nunca: as virtudes, ao passo que os outros tiveram de deixar aqui o que lhes constituía a grandeza terrena e que se não leva para a outra vida: a riqueza, os títulos, a glória, a nobreza do nascimento. Nada mais possuindo senão isso, chegam ao outro mundo privados de tudo, como náufragos que tudo perderam, até as próprias roupas. Conservaram apenas o orgulho que mais humilhante lhes torna a nova posição, porquanto vêem colocados acima de si e resplandecentes de glória os que eles na Terra espezinharam.

O Espiritismo aponta-nos outra aplicação do mesmo princípio nas encarnações sucessivas, mediante as quais os que, numa existência, ocuparam as mais elevadas posições, descem, em existência seguinte, às mais ínfimas condições, desde que os tenham dominado o orgulho e a ambição. Não procureis, pois, na Terra, os primeiros lugares, nem vos colocar acima dos outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. Buscai, ao contrário, o lugar mais humilde e mais modesto, porquanto Deus saberá dar-vos um mais elevado no céu, se o merecerdes.
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(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VII, itens 5 e 6.)