sexta-feira, 3 de abril de 2020

DESPREPARO, LENTIDÃO E FUGA


Não adianta. Nem todas as pessoas estão preparadas para o conhecimento espiritual. Mesmo que você tente estimular, conversar, indicar textos maravilhosos, profundos, científicos, didáticos, lógicos, claríssimos, elas não vão absorver. É como mostrar uma foto para um cachorro: ele não vai olhar. Não tem desenvolvimento psíquico para isso. Ele vai no máximo cheirar e... se dispersar. Não é que ele não entendeu: ele nem percebeu! Não registrou!

Por esta razão elas devem ser criticadas, discriminadas, rejeitadas? De jeito nenhum. Quem somos nós para fazer isso? Mesmo quando estudamos muito e pelo esforço próprio já conquistamos largo conhecimento a respeito das verdades universais, nossa ignorância ainda é astronomicamente mais vasta do que sequer podemos imaginar. Os espíritos realmente sábios e evoluídos olham para nosso orgulho com imensa piedade paternal...

Quer dizer que elas vão continuar assim para sempre? Também não. Vão ter que caminhar um dia, como nós mesmos. A estrada é bem longa, contudo a lerdeza da maioria é passageira. Na verdade, até certo ponto, ela é providencial.



(...) a morosidade dos processos evolutivos no campo do espírito é mais que natural, porquanto o progresso apressado pertence àquele que revela suficiente desassombro para acelerar o passo na subida dos montes do conhecimento e da virtude. Para a comunidade em geral, a lentidão é imprescindível.(1) (Neio Lúcio, por Chico Xavier)



Se a demora é um direito do livre-arbítrio, o atraso na conquista dos benefícios é a justiça correspondente. Só colhemos o que plantamos, lembra?

E sobre essa má vontade na pesquisa pelo raciocínio, não nos referimos apenas às pessoas aparentemente sem cultura – estas, aliás, podem se revelar, em muitas ocasiões, com uma inteligência emocional e uma postura moral bem superiores a determinados indivíduos cultos que transpiram soberba. Falamos também dos intelectuais fossilizados em erudição acadêmica que desprezam o conhecimento espiritual por pura ignorância e medo, pois..


Há um movimento inconsciente das criaturas rejeitando verdades que as tornam mais responsáveis.(2) (Odilon Fernandes, por Carlos Baccelli)



Não é que eles não acreditam: eles desconhecem e fogem de conhecer, já que essas informações causariam uma ruptura no dique da barragem que sustenta todas as teorias que acumularam até então, e uma mudança inclusive em seu estilo de vida. Não querem! Mais cômodo ficarem imóveis, fingindo desdém e superioridade – como se esse estado pudesse persistir para sempre. Pode se estender por muito, muito tempo, mas não para sempre. Aí está a reencarnação para surpreendê-los, mexendo e remanejando todas as circunstâncias em que estão inseridos. Terão arrancados de suas mãos aqueles mesmos livros que estão acostumados a ler e serão arremessados de suas cadeiras de balanço para condições existenciais bem diferentes, fazendo-os enxergar a vida por um outro ângulo.

Há ainda os experimentadores de sensações e costumes modernos, sempre à cata de novidades publicitárias classificadas como alto conhecimento de vanguarda. Felizes como crocodilos no pântano, não desejam sair dali. Para eles toda aquela água parada está ok, não precisa ser drenada. Consideram o limitadíssimo espaço onde se afundam como um vasto oceano, ou talvez a própria Via Láctea!



Nada é tão difícil de compreender quanto o que se ignora; nada é mais simples do que aquilo que se conhece.(3) (Camille Flammarion)



Da mesma forma, existem os apáticos e indiferentes. Acham que estão na Terra somente para comer, beber, dormir, ter relações sexuais e trabalhar mecanicamente (só porque precisam sobreviver; caso contrário, nem isso fariam). Estão assim por vontade – ou falta de vontade – própria, arrastando-se ao longo de inúmeras encarnações.



Há espíritos que, por muitas vezes, partem da carne através da morte e à carne voltam através do berço, quais estátuas inermes que, depois de enterradas durante séculos, volvem ao exame de outrem, sem qualquer aspecto novo que lhes altere os esgares fixos.(4) (André Luiz, por Waldo Vieira)



Todos esses foram abandonados pela Providência Divina? Não, absolutamente. O Amor de Deus envolve todas as criaturas sem distinção. Justamente por isso, há o respeito completo à liberdade de pensamento e de ação, embora essa liberdade seja cercada pelas balizas da Lei, para a nossa própria proteção. O que acontece é que eles mesmos preferem se largar na indolência, ainda que possuam dentro de si, lá no âmago, a chama inapagável da intuição espiritual.



As realidades da sobrevivência acompanham a alma humana desde o berço. Intuitivamente, sabe o homem que a vida não se encontra circunscrita às estreitas atividades da Terra.(5) (Emmanuel, por Chico Xavier)



Certa vez, no ano de 2004, quando já enviava pela Internet textos, na maior parte espíritas, para os contatos pessoais, recebi o seguinte recado de uma amiga muito querida: “Não se incomode em mandar essas coisas, porque eu leio, mas é como se não tivesse lido nada... Me desculpe. Acho que você já me conhece...” Respondi, com muito carinho (textualmente): “Como você também já sabe, respeito integralmente seu modo de pensar e não tenho a pretensão de mudar sua cabeça. Envio-lhe os textos e frases como envio a todos os amigos de minha lista de e-mails, para quem quiser refletir. Se não quiser receber nada é só dizer, que eu retiro o seu nome da lista e nada vai mudar em nossa amizade por isso. Mas, se me permite, continuarei enviando, porque você nunca sabe quando vai precisar das informações contidas neles, nem conhece o momento em que despertará para as questões espirituais mais profundas. Deus te proteja hoje e sempre”.



(...) Os Espíritos tratam de convencer; quando não o conseguem, é um inconveniente sem importância; é simplesmente porque o encarnado ainda não está pronto para ser convencido.(6) (Revista Espírita, de Allan Kardec)



Fiquei admirado pela maneira tão honesta e exata com que minha amiga conseguiu expressar, talvez inconscientemente, a condição em que ela e muitos se encontram por enquanto: “Eu leio, mas é como se não tivesse lido nada...” E lembrei das palavras de Thomas Edison:



5% das pessoas pensam. 10% das pessoas pensam que pensam. Os outros 85% preferem morrer a pensar.(7)



É por essas e outras que ainda vai demorar bastante para que a certeza a respeito das verdades espirituais se generalize em nosso planeta. Não a certeza como crença ingênua, mas sim aquela que é fruto da investigação escrupulosa e imparcial.

Estamos avançando, porém. A cada dia, cresce o número dos sinceramente dispostos a estudar e entender. E o trabalho de aprofundamento, ensino, intercâmbio e divulgação se expande prodigiosamente, na atualidade, pelas mãos luminosas dos obreiros do Bem.

Ninguém segura o tempo.



Fernando Peron

23 de março de 2017

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(1) – Obra Sementeira de Paz. Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Neio Lúcio, organização de Wanda Amorim Joviano. Vinha de Luz Serviço Editorial. Belo Horizonte (MG), 2010. 1ª edição, pág. 263. Trecho psicografado em 3 de março de 1948.

(2) – Obra O Transe Mediúnico. Carlos A. Baccelli, pelo Espírito Odilon Fernandes. LEEPP – Livraria Espírita Edições Pedro e Paulo. Uberaba (MG), 2010. 2ª edição, pág. 194.

(3) – Obra Urânia. Camille Flammarion. FEB – Federação Espírita Brasileira. Rio de Janeiro (RJ), 1987. 5ª edição, pág. 71.

(4) – Obra Ideal Espírita. Francisco Cândido Xavier, Waldo Vieira, por Espíritos Diversos. CEC – Comunhão Espírita Cristã. Uberaba (MG), 2007. 2ª edição de bolso, págs. 166 e 167. Trecho psicografado por Waldo Vieira, pelo Espírito André Luiz.

(5) – Obra Roteiro. Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel. FEB – Federação Espírita Brasileira. Rio de Janeiro (RJ), 1986. 7ª edição, pág. 53.

(6) – Obra Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos – Ano VIII, 1865 (nº 2 - fevereiro de 1865). Allan Kardec. FEB – Federação Espírita Brasileira. Rio de Janeiro (RJ), 2006. 3ª edição, pág. 76. Trecho do Espírito Erasto, pelo médium Sr. d’Ambel.

(7) – Thomas Edison (1847-1931), cientista e inventor americano.





MENSAGEM DO ESE:

Benefícios pagos com a ingratidão

Que se deve pensar dos que, recebendo a ingratidão em paga de benefícios que fizeram, deixam de praticar o bem para não topar com os ingratos?
Nesses, há mais egoísmo do que caridade, visto que fazer o bem, apenas para receber demonstrações de reconhecimento, é não o fazer com desinteresse, e o bem, feito desinteressadamente, é o único agradável a Deus. Há também orgulho, porquanto os que assim procedem se comprazem na humildade com que o beneficiado lhes vem depor aos pés o testemunho do seu reconhecimento. Aquele que procura, na Terra, recompensa ao bem que pratica não a receberá no céu. Deus, entretanto, terá em apreço aquele que não a busca no mundo.
Deveis sempre ajudar os fracos, embora sabendo de antemão que os a quem fizerdes o bem não vo-lo agradecerão. Ficai certos de que, se aquele a quem prestais um serviço o esquece, Deus o levará mais em conta do que se com a sua gratidão o beneficiado vo-lo houvesse pago. Se Deus permite por vezes sejais pagos com a ingratidão, é para experimentar a vossa perseverança em praticar o bem.
E sabeis, porventura, se o benefício momentaneamente esquecido não produzirá mais tarde bons frutos? Tende a certeza de que, ao contrário, é uma semente que com o tempo germinará. Infelizmente, nunca vedes senão o presente; trabalhais para vós e não pelos outros. Os benefícios acabam por abrandar os mais empedernidos corações; podem ser olvidados neste mundo, mas, quando se desembaraçar do seu envoltório carnal, o Espírito que os recebeu se lembrará deles e essa lembrança será o seu castigo. Deplorará a sua ingratidão; desejará reparar a falta, pagar a dívida noutra existência, não raro buscando uma vida de dedicação ao seu benfeitor. Assim, sem o suspeitardes, tereis contribuído para o seu adiantamento moral e vireis a reconhecer a exatidão desta máxima: um benefício jamais se perde. Além disso, também por vós mesmos tereis trabalhado, porquanto granjeareis o mérito de haver feito o bem desinteressadamente e sem que as decepções vos desanimassem.
Ah! meus amigos, se conhecêsseis todos os laços que prendem a vossa vida atual às vossas existências anteriores; se pudésseis apanhar num golpe de vista a imensidade das relações que ligam uns aos outros os seres, para o efeito de um progresso mútuo, admiraríeis muito mais a sabedoria e a bondade do Criador, que vos concede reviver para chegardes a ele. 

— Guia protetor. (Sens, 1862.)

(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIII, item 19.)

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O ESPINHO



“E para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, mensageiro de Satanás.” – Paulo. (2ª Epístola aos Coríntios, 12:7.)

Atitude sumamente perigosa louvar o homem a si mesmo, presumindo desconhecer que se encontra em plano de serviço árduo, dentro do qual lhe compete emitir diariamente testemunhos difíceis. É posição mental não somente ameaçadora, quanto falsa, porque lá vem um momento inesperado em que o espinho do coração aparece.

O discípulo prudente alimentará a confiança sem bazófia, revelando-se corajoso sem ser metediço. Reconhece a extensão de suas dívidas para com o Mestre e não encontra glória em si mesmo, por verificar que toda a glória pertence a Ele mesmo, o Senhor.

Não são poucos os homens do mundo, invigilantes e inquietos, que, após receberem o incenso da multidão, passam a curtir as amarguras da soledade; muitos deles se comprazem nos galarins da fama, qual se estivessem convertidos em ídolos eternos, para chorarem, mais tarde, a sós, com o seu espinho ignorado nos recessos do ser.

Por que assumir posição de mestre infalível, quando não passamos de simples aprendizes?

Não será mais justo servir ao Senhor, na mocidade ou na velhice, na abundância ou na escassez, na administração ou na subalternidade, com o espírito de ponderação, observando os nossos pontos vulneráveis, na insuficiência e imperfeição do que temos sido, até agora?

Lembremo-nos de que Paulo de Tarso esteve com Jesus pessoalmente; foi indicado para o serviço divino em Antioquia pelas próprias vozes do Céu; lutou, trabalhou e sofreu pelo Evangelho do Reino e, escrevendo aos coríntios, já envelhecido e cansado, ainda se referiu ao espinho que lhe foi dado para que se não exaltasse no sublime trabalho das revelações.
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EMMANUEL
(do livro “Pão Nosso” – psic. Chico Xavier)

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