terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Nunca a Sós


Não te creias em abandono, por mais rude te pareça a solidão e por mais doridas as provas que hoje te dilaceram... Ninguém que espunja em regime de esquecimento. Na tua soledade, onde as noites te parecem mais cruas e as provações mais exigentes, alguém participa da tua angústia acompanhando as penas que te convidam a reflexões profundas e diferentes. Gostarias de privar, novamente, das primaveras abençoadas e ridentes em que os júbilos se te agasalhassem no coração, falando-te de sorrisos e de novas ilusões, já que supões encontrar nas quimeras o presente ditoso da vida. Acompanhas com a alma em mágoa o sorriso que transita pelos lábios do mundo e sentes no imo o travo de inquietude e desesperação. Desejarias, como eles, volver ao túmulo das horas vazias... Percebes que te falam de alegrias que já não podes fruir.


Tens a impressão de que a liberdade que experimentam constitui o verdadeiro licor da vida. No entanto, pára, medita, modifica o conceito. Eles não são ditosos quanto gostariam. Na Terra todos nos encontramos em regime de recuperação, em ministério reeducativo. Nosso Planeta não é, por enquanto, o decantado Éden, tampouco o refúgio exclusivo da amargura.

Dor é prova. Sofrimento é desafio. Solidão é bênção.

Os que ora se encontram com aparência de felicidade volverão... Os que transitam em dor se recuperam e retornarão... Todos marchamos para a liberdade. Não te detenhas na lamentação. Não os invejes, a esses equivocados sorridentes, àqueles ansiosos que ignoram o amor em profundidade ou aos que vagueiam na busca do nada. São crianças espirituais. Ama, confia desde hoje e espera mais.

Quem O visse em extremo abandono, dilacerado, esquecido, os braços rasgados em duas traves toscas, o coração lancetado, o olhar baço pelas lágrimas de sangue, e a coroa de espinhos infectos na cabeça sublime, não diria que Ele era o Governador da Terra e que, por amor, trocara as estrelas rutilantes pelas sombras do mundo, a fim de tornar-se para os tristes e confiantes, os sofridos e amantes uma via-láctea de redenção, pelos rumos do Infinito. Confia nEle, alma sofrida, e não sofras mais, não te desesperes, nem te creias a sós.

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Joanna de Ângelis





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