terça-feira, 10 de setembro de 2019

A caminho do Alto


Escuta, alma querida,

Quando a prova te alcança

E o sofrimento te golpeia a vida,

Impondo-te cansaço e insegurança;

Quando a aflição te cerca e te subjuga,

Portas a dentro de teu próprio ser,

Sem apelos à fuga

Em que te possas esconder,

Indagas, quase sempre,

De ânimo frustrado

Revelando revolta amarga e triste:

— Se Deus é Amor Eterno e Ilimitado,

Por que razão a dor existe?

Por que ao sonho se seguem, com frequência,

O fel, o desengano, a desventura

Que nos induzem a existência

Ao vasto espinheiral

Em que a nossa esperança se enclausura?


  E guardando-te, a sós, sob angústia mortal,

Certas vezes, de anseio em desalinho,

Quererias fugir de teu próprio caminho…


 Entretanto, alma boa,

Se algo te feriu, não te agastes, perdoa…

E, sobretudo, raciocina

Que a dor lembra o esmeril da Lei Divina

Que, em nos tocando, nos aperfeiçoa.


 Tudo o que te garante o próprio alento

Passou por disciplina e sofrimento.

Sem que a ovelha aceitasse os golpes da tosquia,

Não terias a lã que te guarda o calor;

Sem que o minério padecesse um dia

O fogo abrasador,

Não dispunhas da casa, em fina arquitetura,

Sobre vigas leais de sólida estrutura;

Sem árvores tombando, a rude corte,

Não fruías na própria residência

O ambiente ideal em que se te conforte

A energia precisa às lutas da existência;

A dentes de serrote, a natureza

Formou, em teu auxílio, o refúgio da mesa,

E o trigo que passou pela trituração,

Em qualquer tempo, é a base de teu pão.


  Não acuses a dor que te procura

A fim de preparar-te a grandeza futura,

Sem ela que nos frena e regenera,

Estaríamos nós, provavelmente,

Na condição da fera

Sob a selvageria permanente.


  Por fim, alma querida, considera:

De heróis que já tivemos,

Almas gigantes na sabedoria,

Corações a brilhar, nos ápices supremos

Da beleza imortal que se irradia

Dos tesouros do amor.


  De todos os apóstolos da História

Que apontaram a Vida Superior

De que o mundo conserva algum indício,

Aquele que nos deu, constantemente,

O sentido da dor

Por fonte renascente

De ascensão e nobreza, vida e luz,

Com bases sobre o próprio sacrifício,

Esse herói foi Jesus.
********************************
Maria Dolores 
Chico Xavier






MENSAGEM DO ESE: 

O argueiro e a trave no olho


Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho? — Ou, como é que dizeis ao vosso irmão: Deixa-me tirar um argueiro ao teu olho, vós que tendes no vosso uma trave? — Hipócritas, tirai primeiro a trave ao vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão. (S. MATEUS, cap. VII, vv. 3 a 5.)

Uma das insensatezes da Humanidade consiste em vermos o mal de outrem, antes de vermos o mal que está em nós. Para julgar-se a si mesmo, fora preciso que o homem pudesse ver seu interior num espelho, pudesse, de certo modo, transportar-se para fora de si próprio, considerar-se como outra pessoa e perguntar: Que pensaria eu, se visse alguém fazer o que faço? Incontestavelmente, é o orgulho que induz o homem a dissimular, para si mesmo, os seus defeitos, tanto morais, quanto físicos. Semelhante insensatez é essencialmente contrária à caridade, porquanto a verdadeira caridade é modesta, simples e indulgente. 

Caridade orgulhosa é um contra-senso, visto que esses dois sentimentos se neutralizam um ao outro. Com efeito, como poderá um homem, bastante presunçoso para acreditar na importância da sua personalidade e na supremacia das suas qualidades, possuir ao mesmo tempo abnegação bastante para fazer ressaltar em outrem o bem que o eclipsaria, em vez do mal que o exalçaria? Por isso mesmo, porque é o pai de muitos vícios, o orgulho é também a negação de muitas virtudes. Ele se encontra na base e como móvel de quase todas as ações humanas. Essa a razão por que Jesus se empenhou tanto em combatê-lo, como principal obstáculo ao progresso.
*************************
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. X, itens 9 e 10.)



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pelo comentário.