sábado, 27 de fevereiro de 2021

Perante a morte


Do túmulo para a frente, não encontramos senão nós mesmos, naquilo que realizamos do berço para o sepulcro.

 A desencarnação, por isso mesmo, assemelha-se, tal qual o renascimento físico, à porta de mil faces.

 Cada um de nós se retira do campo da luta humana, transportando consigo aquilo que ajuntou.

 Se guardaste a mente nos prazeres perniciosos, encontrarás no jazigo de pó o torturado anseio de retorno ao corpo terrestre, tentando inutilmente satisfazer inadequada fome de sensações que apenas te arrastariam a mais amplo sorvedouro de miséria e de angústia.

 Se algemaste o pensamento aos desvarios da posse, além das fronteiras de cinza, buscarás, atormentado, a contemplação do ouro que não mais te atende às solicitações e desejos.

 Se conservaste o coração no oásis do egoísmo, entre as flores venenosas da indiferença, para lá da grande transformação, pervagarás irritado e sozinho nos desertos da sombra…

 Mas se te consagraste ao bem por amor ao próprio bem, espalhando amor e paz, depois da transição inevitável, surpreenderás braços consoladores e amigos arrebatando-te a caminhos de redenção e de luz.

 Não acredites que palavras articuladas a esmo te garantam no dia da liberdade espiritual a felicidade que não construíste.

 Muitos são exonerados do corpo denso, mas permanecem enjaulados nas paixões que lhes incendeiam a vida…

 Muitos se fazem invisíveis aos olhos mortais, entretanto, agarram-se ao chão escuro, devorando o fruto amargo dos vícios que plantaram ou dos enganos em que voluntariamente se perderam.

 Em verdade, todos se preparam para a evidência no mundo, ciosos da máscara que lhes assegurará respeito e dignidade no jogo das aparências, mas raras criaturas se habilitam para o Reino da Luz, onde somos conhecidos pelos tesouros ou pelas calamidades que trazemos por dentro do coração.

 A morte é o retrato da vida. Depende, assim, de nós o Céu que podemos iniciar ao sol de hoje ou o inferno que nos acolherá, inflexível, na treva de amanhã.
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Emmanuel
Chico Xavier
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MENSAGEM DO ESE:

Advento do Espírito de Verdade

Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o fez antigamente a minha palavra, tem de lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinem as plantas e se levantem as ondas. Revelei a doutrina divinal. Como um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da Humanidade e disse: “Vinde a mim, todos vós que sofreis.”

Mas, ingratos, os homens afastaram-se do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e enveredaram pelas ásperas sendas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe a morte, vos socorrais mutuamente, e que se faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que já não vivem na Terra, a clamar: Orai e crede! pois que a morte é a ressurreição, sendo a vida a prova buscada e durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro.

Homens fracos, que compreendeis as trevas das vossas inteligências, não afasteis o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos para vos clarear o caminho e reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.

Sinto-me por demais tomado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mão socorredora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem nos abismos do erro. 

Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos são reveladas; não mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as verdades.

Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: “Irmãos! nada perece. Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade.” 

— O Espírito de Verdade. (Paris, 1860.)
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI, item 5.)






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