sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Os três votos de Francisco


POBREZA - CASTIDADE – OBEDIÊNCIA

Eis os três votos de Francisco.

Será mesmo possível alguém viver em absoluta fidelidade a esses princípios? Não será isso utopia?

Em nome da própria verdade, poder-se-ia argumentar da seguinte maneira:

Pobreza é o oposto de riqueza, e se riqueza é progresso, logo pobreza pode ser decadência; pobreza é o contrário de conforto, e se conforto é bem-estar e bonança, logo, pobreza pode ser sofrimento e miséria.

Castidade é oposto de prazer, e se prazer é alegria, logo castidade pode ser tristeza; castidade é o contrário de fertilidade, e se fertilidade é crescimento e renovação, logo castidade pode ser atrofiamento e distorção.

Obediência é o oposto de comando, e se comando é determinação, logo obediência pode ser debilidade; obediência é o contrário de liderança e se liderança é coordenação e autoridade, logo obediência pode ser descontrole e fraqueza.

Este argumento é respeitável, porém, tendencioso e falho.

A razão mais alta, bafejada pelo amor, interpreta os três votos de outra forma:

Pobreza é riqueza, porque a alma vazia de preocupações materiais é invadida de valores espirituais; pobreza é evolução, porquanto o ser, livre do complexo de posse, passa a viver a sua realidade intrínseca, consciente da sua natural função no Universo.

A pobreza consciente não representa dor nem miséria. A riqueza dos homens que não sabem ser pobres é que produz fome e revolta. Quando os ricos do mundo decidirem ser pobres, isto é, desapegados, os bens da vida serão melhor distribuídos e haverá mais alegria em todos os corações.

Castidade é alegria, porque o espírito comedido e educado nas suas expansões, harmoniza-se com a Lei Natural e passa a desfrutar de prazeres em outra dimensão; castidade é fecundidade, porquanto a pessoa devidamente amadurecida, pode transferir seu potencial de energias para grandes realizações no campo da espiritualidade.

A castidade consciente não representa atrofiamento, nem degradação. O homem casto por maturação espiritual, de livre vontade, integrado com amor em tarefas de benemerência, é alguém capaz de contribuir largamente para a evolução do mundo.

Obediência é comando, porque não se trata de subordinação cega, servilismo. Obediência consciente é auto determinarão diante da Vontade de Deus.

Obediência, segundo o Evangelho, não significa desajuste ou fragilidade; é a virtude harmonia que favorece o perfeito funcionamento do Todo Universal. Quem obedece revitaliza suas forças internas, conquistando a simpatia dos semelhantes e a proteção do Pai.

Numa sociedade em que todos saibam obedecer, as frentes de liderança aos mais obedientes.

Estes inspiram mais confiança e estão mais afinados com a ordem da vida.

Alguém já disse que a razão é bule de duas asas: pode ser usado com a mão esquerda ou com a direita.

A civilização do futuro terá esta tônica: os cargos e as funções serão ocupados de acordo com as qualidades internas do homem.

O movimento franciscano, portanto, significou um clarão de valores incontestáveis.

Os três votos de Francisco de Assis foram os instrumentos de sua auto-realização.

"Ocultei em terreno infértil a semente de meu desejo para que nunca viesse a germinar. Ao lado construí minha cabana. Aguardei alguns dias, e vi que minha semente havia morrido, porque a terra não apresentou qualquer sinal. Mais tarde, porém, quando eu me achava distante, entregue às divagações de uma vida inoperante, a semente brotou, transformando-se em árvore, cujas raízes demoliram minha morada. Aprendi, desse modo, que as energias da alma não morrem, nem devem ser estioladas, e sim desenvolvidas na atmosfera do Bem."
 Francisco de Assis
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O MUNDO DE FRANCISCO DE ASSIS
Ariston S. Teles
Tagore








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