terça-feira, 25 de outubro de 2016

O Aprendiz Desapontado



   Um menino que desejava ardentemente residir no Céu, numa bonita manhã, quando se encontrava no campo, em companhia de um burro, recebeu a visita de um anjo.

   Reconheceu, depressa, o emissário de Cima, pelo sorriso bondoso e pela veste resplandecente.

   Alucinado de júbilo, o rapazelho gritou:

- Mensageiro de Jesus, quero o paraíso! Que fazer para chegar até lá?!

   O anjo respondeu com gentileza:

- O primeiro caminho para o Céu é a obediência e, o segundo é o trabalho.

   O pequeno, que não parecia muito diligente, ficou pensativo.

   O enviado de Deus então disse:

- Venho a este campo, a fim de auxiliar a Natureza que tanto nos dá.

   Fixou o olhar mais docemente na criança e rogou:

- Queres ajudar-me a limpar o chão, carregando estas pedras para o fosso vizinho?

   O menino respondeu:

- Não posso.

   Todavia, quando o emissário celeste se dirigiu ao burro, o animal prontificou-se a transportar os calhaus, pacientemente, deixando a terra livre e agradável.

   Em seguida, o anjo passou a dar ordens de serviço em voz alta, mas o menino recusava-se a contribuir, enquanto o burro ia obedecendo.

   No instante de mover o arado, o rapazinho desfez-se em palavras feias, fugindo à colaboração. O muar disciplinado, contudo, ajudou, quanto pôde, em silêncio.

   No momento de preparar a sementeira, verificou-se o mesmo quadro: o pequeno repousava e o burro trabalhava.

   Em todas as medidas iniciais da lavoura, o pesado animal agia cuidadoso, colaborando eficientemente com o lavrador celeste; entretanto, o jovem, cheio de saúde e leveza, permaneceu amuado, a um canto, choramingando sem saber por que e acusando não se sabe a quem.

   No fim do dia, o campo estava lindo.

   Canteiros bem desenhados surgiam ao centro, ladeados por fios de água benfeitora.

   As árvores, em derredor, pareciam orgulhosas em protegê-los. O vento deslizava tão manso que mais se assemelhava a um sopro divino cantando nas campânulas do matagal.

   A Lua apareceu espalhando intensa claridade.

   O anjo abraçou o obediente animal, agradecendo-lhe a contribuição. Vendo o menino que o mensageiro se punha de volta, gritou, ansioso:

- Anjo querido, quero seguir contigo, quero ir para o Céu!...

   O Emissário divino respondeu, porém:

- O paraíso não foi feito para gente preguiçosa. Se desejas encontrá-lo, aprende primeiramente a obedecer como o burro que soube receber a bênção da disciplina e o valor da educação.

   E assim esclarecendo subiu para as estrelas, deixando o rapazinho desapontado, mas disposto a mudar de vida.
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Neio Lúcio
 Francisco Cândido Xavier   





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