domingo, 21 de janeiro de 2018

AS FILHAS REJEITADORAS



Um episódio desses, que se fixou em minha memória, é o das sete filhas que rejeitavam a própria mãe e dela se afastaram.

Vou reproduzir tal como lembro desse caso. Foi o fato de uma mãe sofrida, confessando-se não-espírita, contando em minúcias o seu drama familiar:

— Chico [Xavier], sou mãe de sete filhas. Criei-as, elas casaram e foram morar em cidades distantes. Meu marido morreu cedo e agora, há anos, vivo sozinha. Elas não me procuram, não telefonam e eu me sinto muito só. O senhor não poderia fazer alguma coisa para que elas gostassem mais de mim ou, pelo menos, me procurassem?

O médium respondeu:

— Ah, minha filha, a vida tem dessas coisas... Às vezes os filhos não correspondem...

Mas a senhora queria ouvir uma resposta diferente e logo foi dizendo, com impaciência:

— Olha, Chico, você deve saber por que minhas filhas agem desse jeito! Eu queria que você, como médium, me contasse sem rodeios porque minhas filhas são assim desligadas de mim, são ingratas...

Chico Xavier sorriu e, depois de um instante, lhe disse:

— Irmã, já que você está querendo tanto ouvir algo mais, saiba que numa encarnação não muito remota, em Paris, você foi proxeneta, ou seja, alguém que intermediava moças jovens vindas do interior da França e as levava para se prostituírem junto à nobreza daquela época. Enganava e seduzia, dizendo que na alegre capital francesa elas obteriam bons empregos, iludindo as desprevenidas moças. A maioria delas se rendeu às falsas promessas da prostituição e se afundaram na orgia, enquanto você auferia os lucros da intermediação. Essas sete moças aliciadas, por misericordioso resgate da Lei da Reencarnação, voltaram ao teatro da vida como suas filhas, espiritualmente atraídas pelas mágoas que você produziu nelas.

E ante o olhar sofrido e indagador da mãe queixosa, o médium arrematou:

— Agora será bom que você mude seu posicionamento de mágoa, visite-as com pensamento harmonizador, reze muito. Ainda há tempo de melhorar antigas mágoas.

Deus, na sua misericórdia, sempre concede novas chances para o grande perdão no coração das almas.

A pensativa mulher baixou a cabeça, compreendendo a razão da dívida cármica e, a partir daí, não mais queixou-se.
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Livro: A Viagem Com Chico Xavier
Fernando Ós
Lar Irmã Esther



MENSAGEM DO ESE:
O óbolo da viúva


Estando Jesus sentado defronte do gazofilácio, a observar de que modo o povo lançava ali o dinheiro, viu que muitas pessoas ricas o deitavam em abundância. — Nisso, veio também uma pobre que apenas deitou duas pequenas moedas do valor de dez centavos cada uma. — Chamando então seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu muito mais do que todos os que antes puseram suas dádivas no gazofilácio; — por isso que todos os outros deram do que lhes abunda, ao passo que ela deu do que lhe faz falta, deu mesmo tudo o que tinha para seu sustento. (SÃO MARCOS, cap. XII, vv. 41 a 44. — S. LUCAS, cap. XXI, vv. 1 a 4.)

Multa gente deplora não poder fazer todo o bem que desejara, por falta de recursos suficientes, e, se desejam possuir riquezas, é, dizem, para lhes dar boa aplicação. É sem dúvida louvável a intenção e pode até nalguns ser sincera. Dar-se-á, contudo, seja completamente desinteressada em todos? Não haverá quem, desejando fazer bem aos outros, muito estimaria poder começar por fazê-lo a si próprio, por proporcionar a si mesmo alguns gozos mais, por usufruir de um pouco do supérfluo que lhe falta, pronto a dar aos pobres o resto? Esta segunda intenção, que esses tais porventura dissimulam aos seus próprios olhos, mas que se lhes depararia no fundo dos seus corações, se eles os perscrutassem, anula o mérito do intento, visto que, com a verdadeira caridade, o homem pensa nos outros antes de pensar em si. O ponto sublimado da caridade, nesse caso, estaria em procurar ele no seu trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus talentos, os recursos de que carece para realizar seus generosos propósitos. Haveria nisso o sacrifício que mais agrada ao Senhor. Infelizmente, a maioria vive a sonhar com os meios de mais facilmente se enriquecer de súbito e sem esforço, correndo atrás de quimeras, quais a descoberta de tesouros, de uma favorável ensancha aleatória, do recebimento de inesperadas heranças, etc. Que dizer dos que esperam encontrar nos Espíritos auxiliares que os secundem na consecução de tais objetivos? Certamente não conhecem, nem compreendem a sagrada finalidade do Espiritismo e, ainda menos, a missão dos Espíritos a quem Deus permite se comuniquem com os homens. Daí vem o serem punidos pelas decepções. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, nº 294 e nº 295.) 

Aqueles cuja intenção está isenta de qualquer idéia pessoal, devem consolar-se da impossibilidade em que se vêem de fazer todo o bem que desejariam, lembrando-se de que o óbolo do pobre, do que dá privando-se do necessário, pesa mais na balança de Deus do que o ouro do rico que dá sem se privar de coisa alguma. Grande seria realmente a satisfação do primeiro, se pudesse socorrer, em larga escala, a indigência; mas, se essa satisfação lhe é negada, submeta-se e se limite a fazer o que possa. Aliás, será só com o dinheiro que se podem secar lágrimas e dever-se-á ficar inativo, desde que se não tenha dinheiro? Todo aquele que sinceramente deseja ser útil a seus irmãos, mil ocasiões encontrará de realizar o seu desejo. Procure-as e elas se lhe depararão; se não for de um modo, será de outro, porque ninguém há que, no pleno gozo de suas faculdades, não possa prestar um serviço qualquer, prodigalizar um consolo, minorar um sofrimento físico ou moral, fazer um esforço útil. Não dispõem todos, à falta de dinheiro, do seu trabalho, do seu tempo, do seu repouso, para de tudo isso dar uma parte ao próximo? Também aí está a dádiva do pobre, o óbolo da viúva.



(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIII, itens 5 e 6.)



sábado, 20 de janeiro de 2018

Nossa parcela



Talvez não percebas. Entretanto, cada dia, acrescentas algo de ti ao campo da vida.

  As áreas dos deveres que assumiste, são aquelas em que deixas a tua marca, obrigatoriamente, mas possuis distritos outros de trabalho e de tempo, nos quais o Senhor te permite agir livremente, de modo a impregná-los com os sinais de tua passagem.

  Examina por ti mesmo as situações com que te defrontas, hora a hora. Por todos os flancos, solicitações e exigências. Tarefas, compromissos, contatos, reportagens, acontecimentos, comentários, informações, boatos.   Queiras ou não queiras, a tua parcela de influência conta na soma geral das decisões e realizações da comunidade, porque em matéria de manifestação, até mesmo o teu silêncio vale.

  Não nos referimos a isso para que te ergas, cada manhã, em posição de alarme. Anotamos o assunto para que as circunstâncias, sejam elas quais forem, nos encontrem de alma aberta ao patrocínio e à expansão do bem.

  Acostumemo-nos a servir e abençoar sem esforço, tanto quanto nos apropriamos do ar, respirando mecanicamente.   Compreender por hábito e auxiliar aos outros sem ideia de sacrifício.

  Aprendemos e ensinamos caridade em todos os temas da necessidade humana. Façamos dela o pão espiritual da vida.

  Acreditemos ou não, tudo o que sentimos, pensamos, dizemos ou realizamos nos define a contribuição diária no montante de forças e possibilidades felizes ou menos felizes da existência.

  Meditemos nisso. Reflitamos na parcela de influência e de ação que impomos à vida, na pessoa dos semelhantes, porque de tudo o que dermos à vida, a vida também nos trará. *************************
Emmanuel
Chico Xavier 


MENSAGEM DO ESE:
Verdadeira pureza. Mãos não lavadas


Então os escribas e os fariseus, que tinham vindo de Jerusalém, aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: “Por que violam os teus discípulos a tradição dos antigos, uma vez que não lavam as mãos quando fazem suas refeições?”
Jesus lhes respondeu: “Por que violais vós outros o mandamento de Deus, para seguir a vossa tradição? Porque Deus pôs este mandamento: Honrai a vosso pai e a vossa mãe; e este outro: Seja punido de morte aquele que disser a seu pai ou a sua mãe palavras ultrajantes; e vós outros, no entanto, dizeis: Aquele que haja dito a seu pai ou a sua mãe: Toda oferenda que faço a Deus vos é proveitosa, satisfaz à lei, — ainda que depois não honre, nem assista a seu pai ou à sua mãe. Tornam assim inútil o mandamento de Deus, pela vossa tradição.
Hipócritas, bem profetizou de vós Isaías, quando disse: Este povo me honra de lábios, mas conserva longe de mim o coração; é em vão que me honram ensinando máximas e ordenações humanas.”
Depois, tendo chamado o povo, disse: “Escutai e compreendei bem isto: — Não é o que entra na boca que macula o homem; o que sai da boca do homem é que o macula. — O que sai da boca procede do coração e é o que torna impuro o homem; — porquanto do coração é que partem os maus pensamentos, os assassínios, os adultérios, as fornicações, os latrocínios, os falsos-testemunhos, as blasfêmias e as maledicências. — Essas são as coisas que tornam impuro o homem; o comer sem haver lavado as mãos não é o que o torna impuro.” Então, aproximando-se, disseram-lhe seus discípulos: “Sabeis que, ouvindo o que acabais de dizer, os fariseus se escandalizaram?” — Ele, porém, respondeu: “Arrancada será toda planta que meu Pai celestial não plantou. — Deixai-os, são cegos que conduzem cegos; se um cego conduz outro, caem ambos no fosso.” (S. Mateus, cap. XV, vv. 1 a 20.)
Enquanto ele falava, um fariseu lhe pediu que fosse jantar em sua companhia. Jesus foi e sentou-se à mesa. — O fariseu entrou então a dizer consigo mesmo: “Por que não lavou ele as mãos antes de jantar?” Disse-lhe, porém, o Senhor: “Vós outros, fariseus, pondes grandes cuidado em limpar o exterior do copo e do prato; entretanto, o interior dos vossos corações está cheio de rapinas e de iniqüidades. Insensatos que sois! aquele que fez o exterior não é o que faz também o interior?” (S. LUCAS, cap. XI, vv. 37 a 40.)
Os judeus haviam desprezado os verdadeiros mandamentos de Deus para se aferrarem à prática dos regulamentos que os homens tinham estatuído e da rígida observância desses regulamentos faziam casos de consciência. A substância, muito simples, acabara por desaparecer debaixo da complicação da forma. Como fosse muito mais fácil praticar atos exteriores, do que se reformar moralmente, lavar as mãos do que expurgar o coração, iludiram-se a si próprios os homens, tendo-se como quites para com Deus, por se conformarem com aquelas práticas, conservando-se tais quais eram, visto se lhes ter ensinado que Deus não exigia mais do que isso. Daí o haver dito o profeta: É em vão que este povo me honra de lábios, ensinando máximas e ordenações humanas.
Verificou-se o mesmo com a doutrina moral do Cristo, que acabou por ser atirada para segundo plano, donde resulta que muitos cristãos, a exemplo dos antigos judeus, consideram mais garantida a salvação por meio das práticas exteriores, do que pelas da moral. É a essas adições, feitas pelos homens à lei de Deus, que Jesus alude, quando diz: Arrancada será toda planta que meu Pai celestial não plantou.
O objetivo da religião é conduzir a Deus o homem. Ora, este não chega a Deus senão quando se torna perfeito. Logo, toda religião que não torna melhor o homem, não alcança o seu objetivo. Toda aquela em que o homem julgue poder apoiar-se para fazer o mal, ou é falsa, ou está falseada em seu princípio. Tal o resultado que dão as em que a forma sobreleva ao fundo. Nula é a crença na eficácia dos sinais exteriores, se não obsta a que se cometam assassínios, adultérios, espoliações, que se levantem calúnias, que se causem danos ao próximo, seja no que for. Semelhantes religiões fazem supersticiosos, hipócritas, fanáticos; não, porém, homens de bem.
Não basta se tenham as aparências da pureza; acima de tudo, é preciso ter a do coração.



(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VIII, itens 8 a 10.)

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Extinção do Mal




Na didática de Deus, o mal não é recebido com a ênfase que caracteriza muita gente na Terra, quando se propõe a combatê-lo.

Por isso, a condenação não entra em linha de conta nas manifestações da Misericórdia Divina.

Nada de anátemas, gritos, baldões ou pragas.

A Lei de Deus determina, em qualquer parte, seja o mal destruído não pela violência, mas pela força pacífica e edificante do bem.

A propósito, meditemos.

O Senhor corrige:

a ignorância: com a instrução;

o ódio: com o amor;

a necessidade: com o socorro;

o desequilíbrio: com o reajuste;

a ferida: com o bálsamo;

a dor: com o sedativo;

a doença: com o remédio;

a sombra: com a luz;

a fome: com o alimento;

o fogo: com a água;

a ofensa: com o perdão;

o desânimo: com a esperança;

a maldição: com a bênção.

Somente nós, as criaturas humanas, por vezes, acreditamos que um golpe seja capaz de sanar outro golpe.
Simples ilusão.

O mal não suprime o mal.

Em razão disso, Jesus nos recomenda amar os inimigos e nos adverte de que a única energia suscetível de remover o mal e extingui-lo é e será sempre a força suprema do bem.
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Bezerra de Menezes
Chico Xavier











MENSAGEM DO ESE:
Se fosse um homem de bem, teria morrido


Falando de um homem mau, que escapa de um perigo, costumais dizer: “Se fosse um homem bom, teria morrido.” Pois bem, assim falando, dizeis uma verdade, pois, com efeito, muito amiúde sucede dar Deus a um Espírito de progresso ainda incipiente prova mais longa, do que a um bom que, por prêmio do seu mérito, receberá a graça de ter tão curta quanto possível a sua provação. Por conseguinte, quando vos utilizais daquele axioma, não suspeitais de que proferis uma blasfêmia.
Se morre um homem de bem, cujo vizinho é mau homem, logo observais: “Antes fosse este.” 
Enunciais uma enormidade, porquanto aquele que parte concluiu a sua tarefa e o que fica talvez não haja principiado a sua. Por que, então, haveríeis de querer que ao mau faltasse tempo para terminá-la e que o outro permanecesse preso à gleba terrestre? Que diríeis se um prisioneiro, que cumpriu a sentença contra ele pronunciada, fosse conservado no cárcere, ao mesmo tempo que restituíssem à liberdade um que a esta não tivesse direito? Ficai sabendo que a verdadeira liberdade, para o Espírito, consiste no rompimento dos laços que o prendem ao corpo e que, enquanto vos achardes na Terra, estareis em cativeiro.

Habituai-vos a não censurar o que não podeis compreender e crede que Deus é justo em todas as coisas. Muitas vezes, o que vos parece um mal é um bem. Tão limitadas, no entanto, são as vossas faculdades, que o conjunto do grande todo não o apreendem os vossos sentidos obtusos. Esforçai-vos por sair, pelo pensamento, da vossa acanhada esfera e, à medida que vos elevardes, diminuirá para vós a importância da vida material que, nesse caso, se vos apresentará como simples incidente, no curso infinito da vossa existência espiritual, única existência verdadeira. — Fénelon. (Sens, 1861.)



(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, item 22.)

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Provas Irreveladas

 

Do ponto de vista moral, há bastante infortúnio escondido em toda a parte. Nos ambientes mais diversos, nos momentos em que menos se espera, com as pessoas fisionomicamente mais seguras de si, a aflição desponta inesperada e o pranto pode estar surgindo às ocultas.

Desilusão, moléstia, revolta e desalento não afluem, em muitos casos, à face das circunstâncias exteriores.

Familiar decepcionado com o noticiário desairoso que vem a saber com respeito ao parente querido.

Jovem agoniada na frustração de projetos matrimoniais.

Pai fustigado pela doença incurável de um filho.

Mãe ansiosa pela reconciliação impraticável com o pai de sua prole.

Cavalheiro bem posto, mas absolutamente inconformado com a deficiência física de que se sabe portador, sem que os outros percebam.

Viúva atormentada pela falta de garantias no lar.

Cônjuge que não mais confia na companheira de vinte anos.

Homem ferido pela consciência na fase de transição entre um passado recente de erros e um futuro de maiores acertos.

Chefe enfermo de família numerosa, repentinamente desempregado.

Criatura robusta e aparentemente normal, envolvida em tramas de obsessão.

Aprendamos com a Doutrina Espírita que o pretérito se reflete no presente e que a lei de causa e efeito funciona em qualquer paisagem social, com qualquer pessoa, em todos os bastidores profissionais e em todos os dias.

Ponderemos nisso, a fim de não faltarmos com o apoio devido à harmonia que nos cabe manter nos domínios da vida.

Se alguém lhe respondeu asperamente, se um amigo aparece incompreensivo, se aquele companheiro passou de súbito a dedicar-lhe antipatia gratuita, se aquele outro lhe abalroa as edificações espirituais e se muitos não lhe correspondem, de leve, às esperanças, suponha semelhantes irmãos presos mentalmente a problemas irrevelados de angústia e coloque-se na posição deles, com as provas e desvantagens que experimentam, e decerto você se compadecerá de cada um, dispondo-se a auxiliá-los.

Nem sempre a voz corrente fala tudo o que vai nas almas.

Repitamos para nós que a verdadeira caridade se resume na compreensão para além das aparências dos espíritos com os quais se convive, perdoando e ajudando silenciosa e desinteressadamente, de nossa parte, onde estejamos, como se faça necessário e tanto quanto seja possível.
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André Luiz
Chico Xavier








MENSAGEM DO ESE:
O dever

O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos mais elevados. Quero aqui falar apenas do dever moral e não do dever que as profissões impõem.
Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do coração. Não têm testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à repressão suas derrotas. O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre-arbítrio. O aguilhão da consciência, guardião da probidade interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante dos sofismas da paixão. Fielmente observado, o dever do coração eleva o homem; como determiná-lo, porém, com exatidão? Onde começa ele? onde termina? O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranqüilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós.
Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue em sã consciência o mal que pode fazer. Com relação ao bem, infinitamente vário nas suas expressões, não é o mesmo o critério. A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos.
O dever é o resumo prático de todas as especulações morais; é uma bravura da alma que enfrenta as angústias da luta; é austero e brando; pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, conserva-se inflexível diante das suas tentações.
homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. É a um tempo juiz e escravo em causa própria.
O dever é o mais belo laurel da razão; descende desta como de sua mãe o filho. O homem tem de amar o dever, não porque preserve de males a vida, males aos quais a Humanidade não pode subtrair-se, mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
O dever cresce e irradia sob mais elevada forma, em cada um dos estágios superiores da Humanidade. Jamais cessa a obrigação moral da criatura para com Deus. Tem esta de refletir as virtudes do Eterno, que não aceita esboços imperfeitos, porque quer que a beleza da sua obra resplandeça a seus próprios olhos. — Lázaro. (Paris, 1863.)



(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 7.)






quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

INSUCESSO E PESSIMISMO



(...)

Sai da noite a que te recolhes em pessimismo, e tem coragem.

Insucesso é ocorrência perfeitamente natural, que acontece a toda e qualquer criatura.

Problemas são desafios à luta e dificuldades são testes de promoção espiritual.

Indispensável manter o bom ânimo em qualquer lugar e posição, recordando a necessidade de nobre aplicação dos valores de que dispões: visão, palavra, audição, movimento, lucidez e tantos outros, distribuindo bênçãos entre os que conduzem mais pesado fardo.

...E seja qual for a provação que te surpreenda, tem coragem!

O pior que pode acontecer a alguém é entregar-se à descrença, apagando a chama íntima da fé e caminhar em plena escuridão da estrada, sem arrimo.

Assim, confia em Deus e, corajoso, prossegue de espírito tranquilo.
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Livro: Convites da Vida
Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis
LEAL – Livraria Espírita Alvorada Editora








MENSAGEM DO ESE:
Odiar os pais

Como nas suas pegadas caminhasse grande massa de povo, Jesus, voltando-se, disse-lhes: — Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe, a sua mulher e a seus filhos, a seus irmãos e irmãs, mesmo a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. — E quem quer que não carregue a sua cruz e me siga, não pode ser meu discípulo. — Assim, aquele dentre vós que não renunciar a tudo o que tem não pode ser meu discípulo. (S. LUCAS, cap. XIV, vv. 25 a 27 e 33.)

Aquele que ama a seu pai ou a sua mãe, mais do que a mim, de mim não é digno; aquele que ama a seu filho ou a sua filha, mais do que a mim, de mim não é digno. (S. MATEUS, cap. X, v. 37.)

Certas palavras, aliás muito raras, atribuídas ao Cristo, fazem tão singular contraste com o seu modo habitual de falar que, instintivamente, se lhes repele o sentido literal, sem que a sublimidade da sua doutrina sofra qualquer dano. Escritas depois de sua morte, pois que nenhum dos Evangelhos foi redigido enquanto ele vivia, lícito é acreditar-se que, em casos como este, o fundo do seu pensamento não foi bem expresso, ou, o que não é menos provável, o sentido primitivo, passando de uma língua para outra, há de ter experimentado alguma alteração. Basta que um erro se haja cometido uma vez, para que os copiadores o tenham repetido, como se dá freqüentemente com relação aos fatos históricos.

O termo odiar, nesta frase de S. Lucas: Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe, está compreendido nessa hipótese. A ninguém acudirá atribuí-la a Jesus. Será então supérfluo discuti-la e, ainda menos, tentar justificá-la. Importaria, primeiro, saber se ele a pronunciou e, em caso afirmativo, se, na língua em que se exprimia, a palavra em questão tinha o mesmo valor que na nossa. Nesta passagem de S. João: “Aquele que odeia sua vida, neste mundo, a conserva para a vida eterna”, é indubitável que ela não exprime a idéia que lhe atribuímos.

A língua hebraica não era rica e continha muitas palavras com várias significações. Tal, por exemplo, a que no Gênese, designa as fases da criação: servia, simultaneamente, para exprimir um período qualquer de tempo e a revolução diurna. Daí, mais tarde, a sua tradução pelo termo dia e a crença de que o mundo foi obra de seis vezes vinte e quatro horas. Tal, também, a palavra com que se designava um camelo e um cabo, uma vez que os cabos eram feitos de pêlos de camelo. Daí o haverem-na traduzido pelo termo camelo, na alegoria do buraco de uma agulha. 

Cumpre, ao demais, se atenda aos costumes e ao caráter dos povos, pelo muito que influem sobre o gênio particular de seus idiomas. Sem esse conhecimento, escapa amiúde o sentido verdadeiro de certas palavras. De uma língua para outra, o mesmo termo se reveste de maior ou menor energia.
Pode, numa, envolver injúria ou blasfêmia, e carecer de importância noutra, conforme a idéia que suscite. Na mesma língua, algumas palavras perdem seu valor com o correr dos séculos. Por isso é que uma tradução rigorosamente literal nem sempre exprime perfeitamente o pensamento e que, para manter a exatidão, se tem às vezes de empregar, não termos correspondentes, mas outros equivalentes, ou perífrases.

Estas notas encontram aplicação especial na interpretação das Santas Escrituras e, em particular, dos Evangelhos. Se se não tiver em conta o meio em que Jesus vivia, fica-se exposto a equívocos sobre o valor de certas expressões e de certos fatos, em conseqüência do hábito em que se está de assimilar os outros a si próprio. Em todo caso, cumpre despojar o termo odiar da sua acepção moderna, como contrária ao espírito do ensino de Jesus.



(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXIII, itens 1 a 3.)

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Corpo e alma



Atentos ao imperativo da elevação espiritual, convém destacar tanto as necessidades do corpo, quanto as da alma…


  Procuras odontólogos distintos para o tratamento dentário.

Urge, ao mesmo tempo, aprimorar a palavra a fim de que o verbo não se nos faça azorrague na boca.
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  Consultas oculistas e otorrinos diversos para retificar os desequilíbrios dos olhos e dos ouvidos.

Nas mesmas condições, é forçoso aprender a ouvir e ver construtivamente para que o mal não nos destrua as plantações de concórdia e esperança.
*
  Buscas o ortopedista para socorro aos pés quando desajustados.

Imperioso igualmente orientar os próprios passos na direção do bem.
*
  Solicitas amparo ao cardiologista para sanar desacertos do campo circulatório.

De igual modo é preciso sublimar os impulsos do coração.
*
  Contratas o serviço especializado de costureiras e alfaiates para que te assegurem a apresentação pessoal no nível adequando à distinção e à limpeza.

Necessário da mesma sorte, que venhamos a aperfeiçoar expressões e maneiras no trato com os outros.
*
  O zelo devido às situações e aparências do corpo é igualmente aplicável aos empeços e problemas da alma se nos propomos construir a própria felicidade.

  Compreendamos que liquidar manifestações de cólera ou rudeza, crueldade ou impertinência será sempre trabalho de controle e de educação.
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Emmanuel 
Chico Xavier 


MENSAGEM DO ESE:
Mediunidade gratuita (II)


A par da questão moral, apresenta-se uma consideração efetiva não menos importante, que entende com a natureza mesma da faculdade. A mediunidade séria não pode ser e não o será nunca uma profissão, não só porque se desacreditaria moralmente, identificada para logo com a dos ledores da boa-sorte, como também porque um obstáculo a isso se opõe. É que se trata de uma faculdade essencialmente móvel, fugidia e mutável, com cuja perenidade, pois, ninguém pode contar.

Constituiria, portanto, para o explorador, uma fonte absolutamente incerta de receitas, de natureza a poder faltar-lhe no momento exato em que mais necessária lhe fosse. Coisa diversa é o talento adquirido pelo estudo, pelo trabalho e que, por essa razão mesma, representa uma propriedade da qual naturalmente lícito é, ao seu possuidor, tirar partido. A mediunidade, porém, não é uma arte, nem um talento, pelo que não pode tornar-se uma profissão. Ela não existe sem o concurso dos Espíritos; faltando estes, já não há mediunidade. Pode subsistir a aptidão, mas o seu exercício se anula. Daí vem não haver no mundo um único médium capaz de garantir a obtenção de qualquer fenômeno espírita em dado instante. Explorar alguém a mediunidade é, conseguintemente, dispor de uma coisa da qual não é realmente dono. Afirmar o contrário é enganar a quem paga. Há mais: não é de si próprio que o explorador dispõe; é do concurso dos Espíritos, das almas dos mortos, que ele põe a preço de moeda. Essa idéia causa instintiva repugnância. Foi esse tráfico, degenerado em abuso, explorado pelo charlatanismo, pela ignorância, pela credulidade e pela superstição que motivou a proibição de Moisés. O moderno Espiritismo, compreendendo o lado sério da questão, pelo descrédito a que lançou essa exploração, elevou a mediunidade à categoria de missão. 
(Veja-se: O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXVIII. — O Céu e o Inferno, 1ª Parte, cap. XI.)

A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há um gênero de mediunidade que requeira essa condição de modo ainda mais absoluto é a mediunidade curadora. O médico dá o fruto de seus estudos, feitos, muita vez, à custa de sacrifícios penosos. O magnetizador dá o seu próprio fluido, por vezes até a sua saúde. Podem pôr-lhes preço. O médium curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos; não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, ainda que pobres, nada cobravam pelas curas que operavam.

Procure, pois, aquele que carece do que viver, recursos em qualquer parte, menos na mediunidade; não lhe consagre, se assim for preciso, senão o tempo de que materialmente possa dispor. Os Espíritos lhe levarão em conta o devotamento e os sacrifícios, ao passo que se afastam dos que esperam fazer deles uma escada por onde subam.

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 (Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVI, itens 9 e 10.)


segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Tua lâmpada


Tua fé viva! — tua lâmpada. 
Zelarás por tua lâmpada para que as perturbações do caminho não te mergulhem nas trevas.
  O serviço é a chama que lhe define a vida, a compaixão é o óleo que a sustenta.
  Clareia a estrada para os que se acolhem na sombra e segue adiante!…
  Vê-los-ás tresmalhados no grande tumulto… Entre eles, encontramos: 

  os que se julgam em liberdade, quando não passam de cativos da ignorância e do ódio;
  os que deliram na ambição desregrada, pisando o cairel de pavorosas desilusões;
   os que estadeiam soberbia nas eminências do mundo, admitindo-se encouraçados de poder, sem perceberem o abismo que os espreita;
   os que fizeram da vida culto incessante a todos os excessos e para quem a morte breve surgirá por freio de contenção…

  E com eles se agitam aqueles outros que desprezaram as vantagens do sofrimento, transformando o benefício da dor em cárcere de revolta;
   os que descreram do trabalho e se enredaram no crime;
   os que desertaram da consciência atirando-se ao fogo do remorso e os que perderam a fé, incapazes de sentir a bênção de Deus que lhes brilha no coração!…

  Unge de amor o pensamento transviado de todos os que se demoram na retaguarda, enlouquecidos por sinistros enganos e derrama o bálsamo do conforto nas feridas abertas de quantos se afligem na estrada, sob a névoa do desespero!…

  Para isso, não contes dificuldades, nem relaciones angústias. Auxilia e ama sempre.

  Se garras de incompreensão ou de injúria te assaltarem na marcha, entrega os tesouros que carregas, abençoando as mãos que te firam ou te despojem, mas alça a tua flama de confiança e caminha.

  Cada golpe desferido na alma é renovação que aparece, cada espinho que se nos enterra na carne do sonho é flor de verdade a enriquecer-nos o futuro, cada lágrima, vertida nos alimpa a visão!…

  Tua fé viva! — tua lâmpada!…

Faze-a fulgir, acima de tuas próprias fraquezas, para que, um dia, possas transfigurá-la em estrela de eterna alegria, nos cimos da Grande Luz.
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 Emmanuel 
Chico Xavier
 

MENSAGEM DO ESE:
Ressurreição e reencarnação (II)


Estas palavras: Se um homem não renasce do água e do Espírito foram interpretadas no sentido da regeneração pela água do batismo. O texto primitivo, porém, rezava simplesmente: não renasce da água e do Espírito, ao passo que nalgumas traduções as palavras — do Espírito — foram substituídas pelas seguintes: do Santo Espírito, o que já não corresponde ao mesmo pensamento. Esse ponto capital ressalta dos primeiros comentários a que os Evangelhos deram lugar, como se comprovará um dia, sem equívoco possível. 

Para se apanhar o verdadeiro sentido dessas palavras, cumpre também se atente na significação do termo água que ali não fora empregado na acepção que lhe é própria.

Muito imperfeitos eram os conhecimentos dos antigos sobre as ciências físicas. Eles acreditavam que a Terra saíra das águas e, por isso, consideravam a água como elemento gerador absoluto. Assim é que na Gênese se lê: “O Espírito de Deus era levado sobre as águas; flutuava sobre as águas; — Que o firmamento seja feito no meio das águas; — Que as águas que estão debaixo do céu se reúnam em um só lugar e que apareça o elemento árido; — Que as águas produzam animais vivos que nadem na água e pássaros que voem sobre a terra e sob o firmamento.” 

Segundo essa crença, a água se tornara o símbolo da natureza material, como o Espírito era o da natureza inteligente. Estas palavras: “Se o homem não renasce da água e do Espírito, ou em água e em Espírito”, significam pois: “Se o homem não renasce com seu corpo e sua alma.” É nesse sentido que a princípio as compreenderam.

Tal interpretação se justifica, aliás, por estas outras palavras: O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito. Jesus estabelece aí uma distinção positiva entre o Espírito e o corpo. O que é nascido da carne é carne indica claramente que só o corpo procede do corpo e que o Espírito independe deste.

O Espírito sopra onde quer; ouves-lhe a voz, mas não sabes nem donde ele vem, nem para onde vai: pode-se entender que se trata do Espírito de Deus, que dá vida a quem ele quer, ou da alma do homem. Nesta última acepção — “não sabes donde ele vem, nem para onde vai” — significa que ninguém sabe o que foi, nem o que será o Espírito. Se o Espírito, ou alma, fosse criado ao mesmo tempo que o corpo, saber-se-ia donde ele veio, pois que se lhe conheceria o começo. Como quer que seja, essa passagem consagra o princípio da preexistência da alma e, por conseguinte, o da pluralidade das existências.

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 (Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IV, itens 7 a 9.)