terça-feira, 3 de julho de 2018

FLEXIBILIDADE COM OS OUTROS!




Assunto grave e oportuno nas questões da vida interpessoal são as sentenças irredutíveis que costumamos lavrar relativamente aos outros no campo dos julgamentos.

Ainda não desenvolvemos suficiente capacidade para analisar o “outro”, entendido aqui como sendo “o diferente de nós”, de maneira alteritária, isenta das lentes morais que classificam as diferenças como imperfeições e limitações.

Em razão disso, e também por conveniência, basta uma só atitude infeliz de nosso próximo, pela nossa ótica, para decretarmos veredictos éticos, que serão rigorosos adjetivos identificadores da personalidade daquilo que o “outro” é, em nossa concepção.

Um homem não pode ser julgado apenas por uma atitude, por uma faceta de seu temperamento. Ter-se-ia que melhor aquilatar suas razões, seus sentidos pessoais, sua integralidade espiritual para então fazermos melhor avaliação sobre os porquês de suas ações e de seu proceder.

A precipitação e a parcialidade nesse capitulo das relações têm ensejado um “imaginário”, inverossímil — fantasias calcadas em expectativas relativamente àqueles com os quais convivemos.

A influência dos papéis sociais, as tendências do homem integral, a questão da educação infantil, o momento psicológico da criatura, a interferência de desencarnados, os interesses pessoais são apenas alguns dos muitos fatores que devem ser arrolados na “arte de julgar”.

Conveniências, nas quais nos encontramos amordaçados moralmente no atendimento a caprichos ou conceitos pessoais, rezam que decretemos juízos definitivos e imutáveis sobre as pessoas. Uma leve flatulência e já nos sentimos à vontade para expedir juízos. E se a pessoa em questão é alguém que não atende às nossas exigências de entendimento e afinidade, possivelmente daqui a um século ainda sustentaremos as mesmas recriminações, guardando, por conveniência, as mesmas ideias sobre nosso “réu”. Nesse caso, nosso orgulho rebaixa o “outro” ao patamar das próprias lutas pessoais, e a inveja provoca uma miopia impedindo-nos de enxergar as qualidades nele existentes.

Difícil o tema dos relacionamentos, porque além de convivermos com aquilo que os outros pensam que somos, ainda temos que separar aquilo que pensamos que somos, daquilo que realmente somos, deixando claro que nem mesmo nós próprios, em muitos lances, sabemos avaliar com a precisão necessária as causas de nossas ações.

Como então apressar em lavrar acusações sobre o próximo se nem a nós mesmos conhecemos com exatidão?

Devido a esse hábito enfermiço, podemos registrar algumas consequências previsíveis na vida inter-relacional, quais sejam:

- Contínua indisposição de conviver com as “pessoas-alvo” de nossos veredictos depreciativos.

- Incômodos emocionais variados, quando na presença da criatura julgada por nós.

- Tendência à maledicência na manutenção dos decretos por nós lavrados.

Carecemos analisar quais as causas desse automatismo milenar, se desejamos superá-lo o quanto antes. Em alguns casos, o complexo de inferioridade faz-se presente, levando-nos a reduzir o conceito de valor do “outro”, porque assim fruímos a sensação de que somos melhores aquilatados. Outras vezes, deparamo-nos com uma situação de “projeção de auto-repulsão”, recriminando no “outro” o que não aceitamos em nós.

Sem a reencarnação não poderíamos investigar esse episódio comportamental com a merecida sabedoria, analisando a influência de imperfeições que determinaram fracassos conscienciais em vidas anteriores e custaram muita amargura e dor na erraticidade. Planejando o recomeço na carne, priorizamos intensa vigilância sobre esses antigos desvarios morais, nutrindo propósitos renovadores. Retomando a oportunidade na Terra, embalados por esses sonhos de libertação e conscientização, tenderemos a ser severos com tudo que orbita em torno dos traços de caráter que desejamos vencer. Lamentavelmente, tal severidade transferimos também ao nosso próximo, e chegamos mesmo a imputá-la, em alguns casos, como pertinente somente a ele, relegando mais uma vez os deveres corretivos em nós mesmos nas áreas de fragilidade.

Em verdade, são variadas as causas dessa rigidez nos juízos implacáveis.

O importante é que tenhamos maleabilidade sempre na nossa vida interpessoal.

Cada homem tem seus motivos para ser como é ou fazer o que faz, ainda que palmilhando pela perversidade...

Busquemos assim a conquista da compreensão em favor da alteridade. Alteridade essa que não nos eximirá de ajuizar e pensar, mas que nos conduzirá a uma postura de predisposição ao convivio fraternal nas bases da tolerância, do perdão e do entendimento, quanto possível.

Evidentemente, não somos obrigados a ser coniventes com as atitudes do próximo, no entanto, os desafios da convivência apelam para a utilização de relativização nas análises imputadas aos corações de nossa faina diária.

Aprofundemos constantemente o entendimento sobre os motivos que levam o homem a fazer suas escolhas e a tomar suas decisões.

Elastecer a sensibilidade afetiva para galgar essa compreensão da realidade subliminar de cada criatura, penetrar na alma de cada ser, extrair a essência: sem tal exercício, ficaremos na superficialidade, estabelecendo juizos parciais e sem conhecer as raízes das ações humanas, aprisionados a versões unilaterais que podem trazer-nos decepções ao longo da vida ou mesmo na Imortalidade!!!

Prudente será, portanto, que apliquemos sempre a severidade conosco próprios, procurando tirar o véu do personalismo e realizando o auto-encontro com a verdade sobre nós próprios.

Ainda assim será imprescindível a flexibilidade, o auto-perdão, a complacência para com nossas deficiências, porque quando tomamos, também para conosco, a decisão dos juízos imperdoáveis, caminhamos para o outro extremo da questão, alimentando o desamor e a culpa contra a conquista da felicidade pessoal.

Ninguém é no todo exatamente aquilo que dele pensamos ou sentimos.

Perceberemos em cada ser aquilo que constitui, em verdade, o “material da vida” que edificamos em favor do nosso progresso pessoal.

Relações mudam, quando mudamos o foco que temos sobre aqueles de nossa convivência.

Quando mantemos um foco único sobre alguém, devemos nos perguntar: Por que estamos deliberando fixar a mente nesse padrão?

Certamente perceberemos, com tempo e serenidade, a que motivos estamos atendendo; aliás esses são quesitos imprescindíveis para julgamentos mais realistas e proveitosos.

Essa descoberta será de grande valor para nós, por se tratar do divino movimento interior do autoconhecimento, lançando sondas nas regiões incognoscíveis do mundo íntimo em busca do aperfeiçoamento que nos tornará maleáveis e plenos de alteridade com o “outro” diferente, aprendendo a amar sua diferença e com ela sempre acrescer algo no auxílio e construção de uma relação pacífica e promissora.
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Livro: Laços de Afeto – Caminhos do Amor na Convivência
Wanderley Soares de Oliveira, pelo Espírito Ermance Dufaux
Editora Dufaux



MENSAGEM DO ESE:
Sacrifício da própria vida

– Aquele que se acha desgostoso da vida mas que não quer extingui-la por suas próprias mãos, será culpado se procurar a morte num campo de batalha, com o propósito de tornar útil sua morte?
Que o homem se mate ele próprio, ou faça que outrem o mate, seu propósito é sempre cortar o fio da existência: há, por conseguinte, suicídio intencional, se não de fato. É ilusória a idéia de que sua morte servirá para alguma coisa; isso não passa de pretexto para colorir o ato e escusá-lo aos seus próprios olhos. Se ele desejasse seriamente servir ao seu país, cuidaria de viver para defendê-lo; não procuraria morrer, pois que, morto, de nada mais lhe serviria. O verdadeiro devotamento consiste em não temer a morte, quando se trate de ser útil, em afrontar o perigo, em fazer, de antemão e sem pesar, o sacrifício da vida, se for necessário. Mas, buscar a morte com premeditada intenção, expondo-se a um perigo, ainda que para prestar serviço, anula o mérito da ação.

 — São Luís. (Paris, 1860)
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, item 29.)

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